No Dia Nacional do Futebol, torcedor partilha histórias e lembranças com a família no estádio e sociólogo reflete sobre capacidade de união do esporte
Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: Mariana Fernandes via Unsplash
O futebol é uma das maiores paixões nacionais, mobilizando milhões de brasileiros no país e no exterior. No estádio ou no sofá de casa, o sentimento de amor por um clube é capaz de unir pessoas, com suas semelhanças e diferenças, quando o time entra em campo e o jogo começa.
Seja pela união ou pela realidade, muitas famílias têm os laços entre seus membros aprofundados por meio do futebol. Torcedor do Internacional (RS), Nando Rocha é um desses casos: após herdar o amor pelo clube gaúcho de seu pai, Sérgio, hoje ele transmite esse mesmo sentimento para sua filha, Lauren.
“Sempre tive uma grande ligação com o meu pai. Ele é colorado [torcedor do Internacional] doente. Foi muito natural me tornar também”, partilha. “Além disso, o meu avô paterno, a vida dele era o Inter. Como também convivi muito com ele na infância, foi, igualmente, uma grande inspiração”, acrescenta.
Veja mais
.: Brasil celebra, neste 19 de julho, o Dia Nacional do Futebol
.: Religiosos se valem da prática do futebol para exercer a sadia convivência
A torcida uniu Nando ao pai e ao avô Evaldo, rendendo histórias que ficaram gravadas na memória. O colorado conta que, na primeira partida de que tem lembrança, conheceu o goleiro Taffarel, revelado pelo Internacional e campeão mundial com o Brasil em 1994. Outros jogos também marcaram sua infância, como o título mundial de futsal conquistado em 1997, que assistiu junto do pai do Ginásio Gigantinho, em Porto Alegre (RS).
De geração em geração

Nando Rocha no Estádio Beira-Rio com a filha Lauren, o pai Sérgio e o sobrinho e afilhado Nickolas / Foto: Arquivo pessoal
“Depois, quando fui pai, já aos quatro meses a Lauren começou a me acompanhar no estádio”, prossegue Nando. O primeiro jogo da pequena, em dezembro de 2014, foi contra o Vitória – mas era o time sub-20 do Inter. “Queria ir numa partida de menor projeção pra ver a reação dela. Adorou”, relata.
A “estreia” na torcida pelo time principal aconteceu no mês seguinte, em um amistoso contra o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Na sequência, vieram dezenas de jogos no Estádio Beira-Rio, na maioria das vezes acompanhados pelo agora avô Sérgio. “O Inter era uma espécie de elo que nos ligava. E é, provavelmente, do que sinto mais falta desde que vim morar em Portugal, em 2018”, partilha Nando.
Doutorando em Comunicação, o gaúcho partiu para o Velho Continente com a esposa Lisy e a filha. Separado do pai pelo Atlântico, o Internacional segue sendo um dos elementos que os une – é assunto frequente nas conversas telefônicas e visita obrigatória quando a família retorna ao Brasil para ver os parentes.
“O Inter tem esse poder na minha vida. O poder de ligar os pontos. Mesmo com todos os perrengues esportivos que passamos nos últimos meses, tenho um enorme orgulho em torcer para um clube tão representativo e que faz este trabalho de me ligar ainda mais à família”, expressa Nando.
Coletividade e pertencimento
Professor de Sociologia na Universidade de Taubaté, José Mauricio Cardoso destaca que o ato de torcer é uma forma de se relacionar com as demais pessoas da comunidade. “Acompanhar de maneira constante o noticiário esportivo gera, de forma secundária, a possibilidade de identidade com outras pessoas ou até mesmo outras causas”, explica.
Além de trazer a sensação de pertencimento a um grupo em que todos têm um sentimento em comum, o esporte apresenta outras questões ligadas aos sentimentos do indivíduo. “Via de regra, o clube de futebol para quem a pessoa torce está ligado a algum familiar, a histórias vividas no passado, a sentimentos de felicidade e de tristeza que se passaram. Então, o ato de torcer induz o indivíduo a transformar essa sensação coletiva de pertencimento a uma forte emoção pessoal”, reflete Cardoso.
Ele observa ainda que a torcida não tem natureza racional, ou seja, os sentimentos despertados estão atrelados à experiência vivida, sem uma racionalização extrema do fato presenciado. Assim, a forma de convivência depende de como o indivíduo vivencia a experiência ao tempo de assistir uma partida e como ele processa as emoções ali vividas.