Desdobramentos

Seminário discute meio ambiente e recorda tragédia de Mariana

“Bacia do Rio Doce, nossa casa comum” é o tema que orienta discussões sobre desdobramentos da tragédia em Mariana em novembro de 2015

Jéssica Marçal
Da Redação

Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), ficou alagado de lama após rompimento de barragens / Foto: Corpo de Bombeiros/MG

Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), ficou alagado de lama após rompimento de barragens / Foto: Corpo de Bombeiros/MG

Após quatro meses da tragédia de Mariana (MG), a arquidiocese local volta a discutir o assunto com um seminário dedicado ao meio ambiente e aos principais desdobramentos de um dos maiores desastres ambientais do Brasil. O evento começa nesta sexta-feira, 4, e vai até domingo, 6.

O seminário “Bacia do Rio Doce, nossa casa comum: corresponsabilidade de todos frente à vida ameaçada” é promovido pela Comissão de Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana (MG). Segundo o assessor da dimensão sociopolítica da arquidiocese, padre Marcelo Santiago, o evento traz à tona a ação da Igreja em solidariedade aos atingidos pelo rompimento da barragem do Fundão e os desdobramentos dessa tragédia.

Estão envolvidas nesse evento as dioceses das cidades que foram atingidas pelo descolamento da lama: Mariana, Itabira, Coronel Fabriciano, Governador Valadares e Caratinga, contando com o apoio da diocese de Guanhães (MG) e das dioceses do Espírito Santo. Trata-se de uma convocação aos bispos, padres, ambientalistas e às lideranças sociais para entender a atuação diante das consequências dessa tragédia e como a Igreja pode favorecer o processo de recuperação, ambiental e da população.

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“O nosso olhar é sempre um olhar de esperança e ao mesmo tempo de somar forças nas iniciativas múltiplas, também como Igreja, para favorecer a dignidade humana, defender a vida, enfim, promover o bem comum a partir do pequeno, do necessitado, e tendo em conta, lamentavelmente, todo o peso dessa tragédia”.

Imagem aérea mostra a lama no Rio Doce, na cidade de Resplendor (MG) / Foto: Fred Loureiro/Secom-ES - Arquivo

Imagem aérea mostra a lama no Rio Doce, na cidade de Resplendor (MG) / Foto: Fred Loureiro/Secom-ES – Arquivo

Imediatamente após a tragédia, foi realizado um trabalho de socorro emergencial. Agora, 120 dias depois do ocorrido, padre Marcelo explica que os trabalhos se concentram na recuperação de tudo o que foi destruído. A preocupação é que haja transparência nesse processo e que haja perspectivas de futuro com um desenvolvimento sustentável que relacione corretamente tudo o que está ligado à “casa comum”, ou seja, ao planeta Terra.

“Não vamos nos fixar como reféns da economia a todo custo e a todo preço de forma a levar à exaustação os recursos da natureza e colocar em risco a vida como um todo, em suas dimensões e expressões”, disse o sacerdote. Ele acrescenta que a ideia é, a partir desse seminário, criar um fórum permanente de conversa para trabalhar com a Bacia do Rio Doce de forma responsável.

Os atingidos

Padre Marcelo conta que três locais foram os mais atingidos na tragédia de Mariana: Bento Rodrigues, Paracatu e Barra Longa. Em todos eles, se estuda o processo de reconstrução das cidades; uma situação bem crítica é em Barra Longa, pois a lama passou por dentro da cidade.

Mas a população é bem atendida e conta com a solidariedade de pessoas e instituições. O sofrimento sempre é grande, admite o padre, em virtude das perdas humanas e materiais, e se procura somar forças, junto aos governos, entidades e à própria Igreja, que procura participar do cotidiano dos atingidos, com a realização de visitas para ajudar a superar os danos da tragédia.

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“O nosso seminário aborda um pouco essas questões, faz enxergar todos os desdobramentos dessa tragédia, desse rompimento da barragem do Fundão em Mariana e também vê um pouco a questão da mineração no Brasil, o ônus e o bônus que a mineração traz de tal maneira a ter em conta o que nós podemos fazer para construir uma sociedade mais solidária, justa, reconciliada em que o valor primeiro seja a vida como um todo”.

Recordando a tragédia

No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco deixou submerso na lama o distrito de Bento Rodrigues e atingiu outras 35 cidades.

Com o rompimento, cerca de 35 milhões de m³ de lama de rejeitos de minério vazaram da barragem e atingiram o Rio Doce, um dos principais da região. 82% dos edifícios do distrito de Bento Rodrigues foram destruídos.

A tragédia não parou em Minas. Cidades do estado do Espírito Santo também foram atingidas pela lama poluída. No dia 30 de novembro, a extensão de lama no mar no litoral capixaba de Linhares era de cerca de 80 km. Mais de 660 km de rio foram atingidos.

Como não houve um laudo conclusivo sobre a contaminação de espécies no Rio Doce, a pesca na região da foz do rio foi proibida. A medida entrou em vigor no último dia 22 de fevereiro.

A mineradora Samarco foi indiciada pela Polícia Federal por crimes ambientais. A Vale, uma das donas da empresa, e a consultoria VogBR, responsável pelo laudo que atestou a estabilidade da barragem que se rompeu, também foram indiciadas.

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