“A mudança que quero ver no mundo começo primeiro em mim”, afirma barbeiro que acreditando no ser humano, investe diariamente em adolescentes e jovens no mercado de trabalho
Ronnaldh Olieira,
Da redação
A personagem desta edição do quadro “Rosto da Ressurreição”, produzido pelo Canção Nova Notícias, é nascido e residente em Lorena (SP). Graduado em processamento de dados, Peterson da Silva Godinho tem 40 anos e hoje é proprietário de uma das barbearias mais conceituadas da cidade. É casado e tem uma filha de cinco meses. Em seu estabelecimento, oportuniza o envolvimento de adolescentes e jovens no primeiro emprego e na ampliação de horizontes educativos e humanos.
“Eu não me preocupo se eles sabem ou não a profissão. Não tenho problemas em ensinar. Quero que cresçam. Se há força de vontade deles, entro com o alicerce e o acompanhamento. Muitos que chegam aqui não sabem sequer pegar em uma tesoura. Tornam-se, ao longo do caminho, por vezes, barbeiros oficiais em meu estabelecimento”, comenta o empresário.
A motivação
As pessoas são motivadas em suas ações por diversas questões. Ao ser indagado sobre o assunto, Godinho diz encontrar a resposta no próprio ser humano: “Eu acredito neles! Na Sagrada Escritura, em Jeremias, está escrito: ‘maldito homem que acredita em outro homem’. Prefiro olhar de outra forma. Quando credibilizamos uma pessoa, também contribuímos com seu crescimento. Dizem ‘Alguém confia em mim!’ mesmo tendo feito algo de errado. Acreditar no recomeço é motivá-las a ser melhor a cada dia. Eu tento achar o melhor que há em cada ser humano, e olha, consigo!”
Os desafios encontrados
Debruçar-se sobre o humano é uma dádiva, mas também um grande desafio. Peterson acredita que os jovens com quem trabalha são sua maior escola. “São horizontes diferentes, perspectivas diferentes, sonhos diferentes. Mas o que há de comum neles? Querem crescer! Se esse é o fio condutor para humanizá-los, aposto nisso. Não é ser chefe, mas ser amigo, ser líder, ser acompanhador. Os desafios são meus e deles. Por isso as pedras que encontramos, retiramos juntos. Isso é também aprendizado. Errou? Onde está o erro? Percebeu que fez errado? Vamos recomeçar? Acredito nessa pedagogia”, refletiu Peterson.
Leia mais:
.: Rosto da Ressurreição #01 – A Ressurreição pela Inclusão
.: Rosto da Ressurreição #02 – A Ressurreição pela acolhida
.: Rosto da Ressurreição #03 – A Ressurreição pelo sorriso
.: Rosto da Ressurreição #04 – A Ressurreição pela iluminação
O barbeiro já teve diversas oportunidades de crescimento pessoal no Brasil e no exterior, mas continua a acreditar que precisa ficar nas “Terras das Palmeiras Imperiais”. “Devo permanecer aqui porque alguém precisa
lutar por esses meninos. Meu pai era assim. Lutou por nós! O quanto lutou para manter nossa família em pé, mesmo enfrentando as consequências. Já pensei em desistir várias vezes, mas me recordo que esses jovens estão aprendendo, inclusive na disciplina. Chegam por vezes atrasados, erram no corte, são incompressíveis, mas permaneço porque acredito”, pondera o barbeiro.
Godinho algumas vezes pensou em abrir processos seletivos com profissionais já reconhecidos no mercado e repensar sua barbearia, mas além do seu pai, sua filha tem ensinado muito a ele. “Ela me ensina todos os dias que nós precisamos uns dos outros. Que existem pessoas que precisamos pegar pela mão e conduzir. Minha filha tem cinco meses. É um bebê, mas me ensina na simplicidade do olhar que não são tantos os tesouros que acumulamos no banco, mas as relações e as experiências que vivemos com as pessoas que, de fato, marcam e nos fazem perseverar”, ressalta.
As ressurreições encontradas
Grandes atos de santidade e de ressurreição são vivenciados no anonimato do cotidiano, como recorda o Papa Francisco em sua Exortação Apostólica sobre a santidade Gaudete et Exsultate. “O que ensino a eles acabo aprendendo. Contribuo no melhor uso das palavras, na vivência das boas maneiras, transcendendo o espaço de cortar cabelo e fazer barba. Quando faço isso, eu me policio também no que eu faço, não só pelo testemunho, mas comigo mesmo. A mudança que quero ver no mundo precisa começar em mim. Se há uma coisa que me enche de orgulho é quando eles me chamam à atenção por algo que deixei de fazer.
É sinal que eles assimilaram e não entenderam como norma, mas como valor”.
Peterson recordou-se ainda de um jovem que chegou na barbearia, limitado inclusive em sua perspectivas de vida. “Não olhava para o seu futuro, apenas o presente. Podia entrar nas drogas e coisas mais violentas. Quando começou aqui, agarrou essa oportunidade aos 16 e cresceu. No primeiro salário, chorou. Percebeu o seu crescimento. O fruto do seu suor, do seu tempo investido. Hoje, mora sozinho e projeta seu futuro cada vez mais. É esforço dele, mas me orgulho de, em algum momento, ter dado a possibilidade dele alçar voos em sua vida e perceber-se como um sujeito de dons”.
Por fim, o empresário explica que a palavra que rege sua vocação junto dos jovens é crescimento. “Somos como uma árvore. Vamos criando raízes, galhos e frutos. Acredito nisso. Há uma passagem bíblica que diz que o Grão só dará frutos e crescerá se morrer. Estou disposto a perder sozinho de um lado, diante dos desafios, mas ganhar infinitamente junto com eles! Podar gera crescimento. Estou disposto a isso todos os dias”, conclui.