“O sorriso que chega a ele, começa primeiro em mim”, afirma dentista que devolve dignidade e autoestima a pessoas em situação de rua”
Ronnaldh Oliveira
Da redação
A personagem desta edição do quadro “Rosto da Ressurreição” reside em Guarujá (SP). Graduada em odontologia, Jéssiza Zanoni, nascida em Fortaleza, possui duas irmãs do segundo casamento de seus pais. Com seu próprio consultório, no litoral paulista, atende de forma voluntária, pessoas em situação de rua devolvendo dignidade e sorrisos à população assistida.
Entendendo que a saúde começa pela boca, Jéssica percebeu que sua profissão podia se tornar vocação social, proporcionando dessa forma vida em abundância aos cidadãos marginalizados. “Devolver sorrisos é o que há de mais bonito na minha profissão. Me realizo enquanto profissional e enquanto humana quando posso possibilitar reconstrução de vida a partir do sorriso”, afirma a agente de saúde.
:. Leia mais
Rosto da Ressurreição #01 – A Ressurreição pela Inclusão
Rosto da Ressurreição #02 – A Ressurreição pela acolhida
“Desenvolvo-me pessoalmente em cada atendimento. Me supero, me reinvento, me cobro e por acreditar na humanidade, sobretudo no mais vulnerável, realizo os tratamentos. É a empatia. Colocar-me no lugar do outro e a partir do que estudei, gerar melhor autoestima”.
Jéssica compreende que não consegue fazer tudo que gostaria, mas que durante o tratamento observa uma mudança significativa não só na boca, mas nas emoções e no próprio psicológico: “Vou percebendo, ao longo dos dias, como a autoestima vai se reconstruindo. Não consigo tirá-los da rua, mas a partir do sorriso alguns novamente reavivam a vontade de lutar por suas vidas a fim de saírem dessa realidade triste que vivem”, relata.
Ainda sobre a autoestima, a jovem dentista cearense acredita que a felicidade é algo que nós cultivamos dentro de nós mesmos. “O sorriso que chega a ele começa primeiro em mim. Minha satisfação é imensa de saber que estou investindo um pouco do meu tempo pra fazer o outro melhor. Nos dias que presto esse serviço, chego em casa mais feliz”.
Um testemunho
Na entrevista, indagada sobre algum tratamento que havia de modo particular a tocado, Jéssica contou a história de Flavinho (nome fictício para preservação do indivíduo). “Foi abandonado pelos pais ainda muito jovem e desde então vive em situação de rua. Aqui no Guarujá, o conhecemos como Tikinho. Na simplicidade da vida, realmente ele é um ‘tikinho’ de gente, mas tem um coração enorme. Flavinho perdeu os dentes muito novo e quando realizamos o tratamento e o sonho de repor todos esses dentes perdidos, ele chegou a me relatar que desde então não mastigava. Algumas comidas precisava engolir pedaços grandes que com isso geravam dores de estômago. Após receber os dentes ouvi a seguinte frase: ‘Obrigado, doutora, você estará para sempre no meu coração’”.
Jéssica, apesar de acreditar que esse tipo de serviço faz com que constantemente saia da zona de conforto, afirma que essa missão também a faz passar também por situações incomuns. “O medo, os preconceitos, as inseguranças e as barreiras impostas pela sociedade são coisas que sempre aparecem, mas nada vale mais do que ao final ter como resultado um sorriso que enobrece a vida”.
A dentista finalizou a entrevista afirmando ser a empatia um dos gestos mais nobres de sua vocação. “Ter a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, tentar sentir o que ela sente, tentar desejar o que ela deseja é sem dúvidas uma das coisas mais nobres dessa vida. E tenho certeza que diante de todos esses trabalhos que realizo, venho desenvolvendo isso cada vez mais dentro de mim. A ressurreição acontece sobretudo em mim!”.