Frei Sérgio Henrique é sacerdote, médico obstetra e ginecologista, especialista em reprodução humana e bioética
Denise Claro
Da redação
No início do mês de agosto, o Brasil viveu as audiências públicas no Supremo Tribunal Federal sobre a ADPF 442, que trata sobre a legalização do aborto no país até a 12ª semana de gestação. A relatora, Ministra Rosa Weber, deverá agora construir seu relatório e apresentá-la aos outros Ministros, para que a questão seja votada no STF.
Na última quarta-feira, 22, o resultado de uma pesquisa Datafolha mostrou que 59% dos brasileiros são contrários à mudanças na lei sobre o aborto.
Para Frei Sérgio Henrique, médico obstetra e ginecologista, especialista em reprodução humana e bioética, a discussão atual é em relação ao início da vida humana, quando ela começa:
“Essa questão é uma questão simplesmente biológica. Quando há a fecundação, a união do óvulo e do espermatozóide, a biologia fala que iniciou ali um processo contínuo, independente e autônomo, e dentro dessas três características, a biologia define que ali iniciou um ser humano. Mas estamos numa cultura de ideologias, onde as ideias são absolutilizadas. Quem é a favor do aborto defende que a vida humana só se inicia a partir da 12ª semana.”
O especialista explica que essa ideia veio da Inglaterra, na época do primeiro bebê de proveta, quando o país detinha milhares de embriões congelados, e não sabia o que fazer com eles.
“Já não era mais uma questão ética, era uma questão sócio-econômica, porque era um gasto muito grande. Foi feito então o relatório de Warnock, em que alguns parlamentares tiveram que assinar um documento em que, sem nenhuma base científica, afirmavam que a vida humana só se iniciava depois da 12ª semana. Apelaram para a formação do início do sistema nervoso central primitivo e depois disso, puderam matar todos aqueles embriões congelados.”
Para o religioso, o momento que o Brasil vive é de decisão. Ele alerta para o fato de que, em todos os países em que o aborto foi liberado, o que se buscou foi a destruição da família, como uma corrente, que primeiro legaliza o aborto, depois a eutanásia, e acaba por enfraquecer a sociedade:
“Se o sistema nervoso não está formado no bebê até a décima segunda semana, e o aborto é aceitável, nos casos de pessoas em que o sistema nervoso não estiver mais funcionando, a eutanásia será igualmente indicada, pois elas não serão mais consideradas pessoas.”
Frei Sérgio enfatiza que há interesses internacionais por trás da luta a favor do aborto:
“Há muitas associações, milhões de dólares envolvidos, com o objetivos de enfraquecer a sociedade. Na história, nunca teve uma manipulação do homem tão forte como hoje. Quando se enfraquece a sociedade, se tem gerações muito mais manipuláveis, que aceitem muito mais facilmente regras colocadas por uma minoria.”
O religioso diz que a Igreja é muito clara quanto ao seu posicionamento, que não é meramente religioso, mas que luta pela vida humana. Porém, para ele, a hora dos católicos se levantarem é agora, e esta luta deve ser mais firme, com uma liderança mais concreta e com a participação da maioria.