Para Jorge Nuño Mayer, da Cáritas Europa, a sociedade europeia tem “uma grande oportunidade” para mostrar o seu valor e a sua matriz cristã
Da redação, com Agência Ecclesia
O secretário-geral da Cáritas Europa diz que “não há qualquer crise de refugiados” no Velho Continente, mas sim “uma crise de solidariedade” e sublinha a urgência dos países colaborarem mais entre si, na resposta a este desafio.
Em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, divulgada nesta sexta-feira, 4, Jorge Nuño Mayer destaca que “os políticos europeus estão hoje a dar um mau exemplo à sociedade”, ao cerrarem fronteiras e ao deixarem que o medo e o ódio se sobreponham ao acolhimento.
“Poucos são aqueles que abrem com firmeza as suas portas a quem precisa (…) uma Europa de 500 milhões de habitantes é incapaz de receber 1 milhão e 200 mil pessoas que vêm para aqui para escapar à guerra, a uma morte certa”, frisa o responsável.
Para Jorge Nuño Mayer, a sociedade europeia tem “uma grande oportunidade” para mostrar o seu valor e a sua matriz cristã, mas para isso tem de mudar de paradigma, disse ele.
“Não se pode abrir as fronteiras para todos mas podemos trabalhar as causas desta questão, como países europeus, e a Cáritas demonstra que isso é possível, estar e colaborar onde as pessoas precisam”, sustenta o secretário-geral da Cáritas Europa, dando como exemplo o panorama atual no Líbano.
“Um terço da população deste país são refugiados, seria como se de repente chegassem à Europa 200 milhões de refugiados, aí sim haveria uma crise, não com um, dois ou três milhões”, reforça Jorge Nuño Mayer.
O secretário-geral da Cáritas Europa reconhece ainda que a chegada dos refugiados acontece num momento em que muitas nações do Velho Continente se debatem com dificuldades financeiras.
“Sim, podemos dizer que a Europa já tem os seus próprios problemas, com a crise econômica. Mas esta conjuntura é apenas mais um sintoma desta crise de solidariedade que referi, onde no fim os números econômicos, os valores do crescimento, acabam sempre por ser mais importantes do que as pessoas”, aponta Jorge Nuño Mayer.
O responsável espanhol defende que perante esta mentalidade, a Cáritas, a Igreja Católica, os seus bispos, têm de saber dizer basta, e reafirmar o valor inestimável de cada pessoa e da dignidade humana.
“Como cristãos, temos de encontrar a melhor forma de ajudar a Europa a abrir o seu coração aos que sofrem com a crise econômica, aos que procuram escapar à guerra, àqueles que se sujeitam mais depressa a entrar num bote sem quaisquer condições de segurança, sabendo que podem morrer, do que a ficar no seu país”, complementa.
Sobre a aprovação, por parte da Comissão Europeia, de um plano de emergência para os refugiados que vai permitir para já disponibilizar 300 milhões de euros para a Grécia, Jorge Nuño Mayer diz que esta medida só poderá ser eficaz se os problemas não forem encarados “de forma isolada”.
“A ideia é transformar a Grécia no campo de refugiados da Europa? E de onde saiu este dinheiro? Se foi das verbas que estavam reservadas aos campos de refugiados do Líbano e da Jordânia, aqui as pessoas já nem têm o que comer. Tudo o que seja para ajudar é bom, desde que isso não signifique cortar num lado para dar a outro”, conclui o secretário-geral da Cáritas Europa.