Dia do psicólogo é celebrado nesta terça-feira, 27; profissionais comemoram enfraquecimento do preconceito com a profissão e pacientes elencam benefícios
Julia Beck
Da redação
“Mente sã, corpo são”. Essa frase — do latim Mens sana in corpore sano —, popularmente difundida há séculos, já foi “apenas uma bela citação”, ao invés de um ponto de reflexão sobre a correlação entre saúde mental e saúde do corpo. No entanto, a atenção que se deve dar para a mente humana tem ganho cada vez mais força (principalmente após a pandemia da Covid-19) e, por consequência, também para quem cuida dela: o psicólogo — celebrado nesta terça-feira, 27.
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A psicóloga Maria Lúcia de Aquino Vieira comemora o simples fato de as pessoas estarem reconhecendo a necessidade de procurar um profissional quando o assunto é a mente humana. Segundo a psicóloga Rafaela Giachini de Moura Lima, a psicologia lutou e ainda luta contra o preconceito cultural de que psicólogo trata de pessoas com doença mental, ou frequentemente rotuladas como “loucas”. “Por tratar-se de um estereótipo cultural, a modificação dessa ideia torna-se ainda mais desafiadora”, reflete.
Assim como Maria Lúcia, Rafaela reconhece o enfraquecimento do preconceito com a profissão, principalmente após o isolamento social vivido em 2020. “Muitos transtornos foram desencadeados ou aflorados, voltando o olhar principalmente para a prevenção e para a importância da saúde mental”.
Maria Lúcia reforça que é um processo de quebra do preconceito que ainda está acontecendo. “Ele acontece quando as pessoas comuns, com problemas comuns de relacionamento, de trabalho, começam a entender que só aquela conversa com um amigo não é o suficiente. Elas começam então a buscar mais, a ter sede de se conhecer e tentar fazer algo diferente com aquilo que está vivendo.”
Muitos motivos, uma só direção
Os rompimentos amorosos e de amizades, as dificuldades financeiras e no trabalho, ansiedade, depressão e síndrome de Burnout são alguns dos muitos motivos elencados como suficientes para procurar os profissionais da psicologia.
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A jornalista Idalina Miranda dos Santos revela que faz terapia há mais de 10 anos. As relações que estabeleceu no trabalho e algumas situações desconfortáveis que vivenciou neste ambiente foram suficientes para fazê-la adoecer e até mesmo repensar a profissão. A crise vivida foi dividida com uma amiga que indicou a procura por um psicólogo.
“No começo fui relutante, mas, com o passar do tempo, fui vendo que era a terapia ou desistiria do trabalho que eu não queria desistir. Então, me esforcei e comecei a fazer terapia”, lembra.
O fim do seu antigo relacionamento foi o que fez a aposentada Bernadete Lourdes da Silva procurar a ajuda de uma psicóloga. Segundo ela, o objetivo é entender tudo o que viveu e fazer descobertas sobre si para não cometer os mesmos erros.
Já a arquiteta de soluções, Letícia Dornelas, partiu em busca deste profissional após o diagnóstico da síndrome de Burnout — um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações do excesso de trabalho.
Autoconhecimento
Apesar de o motivo inicial para fazer terapia ser o desejo de livrar-se da síndrome e dos ataques de pânico que tinha, Letícia conta que os benefícios que conquistou após o acompanhamento foram inúmeros. O autoconhecimento é elencado por ela como o principal. “Ao sair da crise e fazer terapia continuamente, comecei a crescer como pessoa, a me entender melhor, a entender o que gosto de fazer, o que aceito fazer, seguir”, opina.
Bernadete também comenta os benefícios: “A partir do momento que você fala com um profissional, ele consegue entendê-lo, orientar e acolher, isso dá um alívio. É diferente de falar com uma pessoa do seu cotidiano. Você fica preocupada com julgamento, mas, quando fala com um profissional, eles têm a forma, o jeito de te acolher”.
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Nem sempre os problemas somem no processo terapêutico, mas é possível aprender a lidar com as inúmeras situações da vida, reflete Idalina. A jornalista afirma que aprendeu a se posicionar, que o problema nem sempre é dela, mas do outro; a entender seus limites, dizer “não” e “sim” na hora certa. O psicólogo, prossegue, ajuda na compreensão da história de cada paciente e a organizar o que está “bagunçado” internamente.
Embasamento científico
A psicóloga Rafaela explica que, no atendimento, é papel do psicólogo embasar-se na ciência para conduzir seu paciente a autodescoberta, a compreensão sobre suas dificuldades e a forma como se relaciona com o mundo.
“Para que a terapia seja efetiva, é necessário que o psicólogo não atenda pessoas conhecidas e não estabeleça vínculo fora da sessão com esse paciente”, sublinha.
Um bom atendimento, prossegue a profissional, é capaz de proporcionar não somente os benefícios relatados por Letícia, Bernadete e Idalina, mas também o auxílio na reorganização dos pensamentos, regulação das emoções, autocuidado, além da superação de traumas e abusos, tratamento de transtornos mentais.
Maria Lúcia arrisca dizer que as vantagens de cuidar da saúde mental são infinitas e dá ênfase para o fato de a terapia “parar” as pessoas neste cotidiano “produtivo e hiperativo”, para falar sobre sentimentos. É ótimo conseguir “pausar a vida ansiosa e se ouvir”, frisa.
Terapia é para todos
Bernadete acredita que a saúde mental precisa ser vista e cuidada com a mesma atenção que se dá a outras partes do corpo. “Se ela não estiver saudável, você não consegue ter uma vida com qualidade”, opina. Para ela, é preciso transpassar a ideia de que, se um problema não é visto, ele não existe.
Partindo deste mesmo raciocínio, Idalina destaca que “quando se tem um braço quebrado, todo mundo está vendo e respeita”, no entanto, quando a questão é psicológica e “ninguém está vendo”, a tendência é não dar a devida atenção. “Acabamos guardando isso e prolongando o sofrimento por mais tempo”, alerta.
“A saúde mental é tão essencial quanto um check-up periódico que você vai fazer no médico”, reforça Letícia. A arquiteta de soluções defende a constância, independentemente se há uma questão, uma crise ou uma doença mental. “É preciso manter a melhora”.
Por fim, a psicóloga Maria Lúcia recorda que a terapia é para todos. “É claro que, geralmente, quem busca por atendimento traz alguma questão. Se você tem alguma questão com o trabalho, com a vida pessoal, com o relacionamento amoroso, familiar… enfim, se você vê que não lida muito bem com seus sentimentos, com seus pensamentos, com a forma como você responde, como você interage com o mundo à sua volta, se existe algo incomodando nesse sentido… acho que é o momento de buscar terapia”. A decisão pela saúde mental, assim como a frase que abre este texto, é também a decisão pela saúde do corpo e da alma também.