Paralisação

Protesto dos caminhoneiros: veja como foi quinto dia de manifestação

Caminhoneiros continuaram concentrados em rodovias de 24 estados brasileiros; Temer anunciou uso de forças federais para desbloqueio de estradas

Julia Beck
Da redação

Paralisação de caminhões na Rodovia Presidente Dutra nesta sexta-feira, 25, quinto dia de protesto dos caminhoneiros / Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

Após 5 dias de paralisação e uma proposta de suspensão da manifestação, caminhoneiros permaneceram nesta sexta-feira, 25, concentrados em rodovias de 24 estados brasileiros. Em São Paulo, no km 53 da Rodovia Presidente Dutra, os manifestantes se mostraram determinados a continuar a paralisação enquanto não obtivessem um decreto do Governo Federal que contemple os ideais reivindicados pela classe. O presidente Temer fez um pronunciamento no início desta tarde anunciado o uso de forças federais para desbloqueio de estradas.

Longe de casa há dias, os caminhoneiros contam que a manifestação foi organizada pelo aplicativo de celular Whatsapp e, desde então, todas as informações e ações são pensadas e divulgadas apenas pelo aplicativo. Segundo os manifestantes, a decisão foi tomada para que não haja ruídos na comunicação do grupo.

Mauro, de 63 anos, tem uma relação com a estrada desde os 14 anos, quando ajudava o irmão caminhoneiro no transporte de cargas. Segundo o paraibano, desde então, nunca havia visto a classe tão unida. “Igual essa manifestação aqui eu nunca vi. Agora tivemos união, ou melhor, estamos tendo união”, declarou.

De acordo com o caminhoneiro, o agrupamento da classe no km 53 da Rodovia Presidente Dutra, iniciado às 5h30 da manhã da última segunda-feira, 21, não tem prazo para ser encerrado, mas já é perceptível o cansaço entre os manifestantes. “Os dias são sofridos, ficar na estrada, parado, dormindo dentro de caminhão não é fácil. Dormimos mal, a alimentação é ruim”, afirma Mauro.

Apesar das dificuldades, Mauro comentou sobre a força da classe de caminhoneiros e de toda a população que, durante os 5 dias de paralisação, tem auxiliado os manifestantes com a doação de alimentos. Mesmo se mostrando firme na continuidade do protesto e afirmando que a família na Paraíba está bem, o caminhoneiro se mostra saudoso: “Saudade tá grande!”.

Populares doam alimentos aos manifestantes/ Foto: Wesley Almeida- Canção Nova

Em apoio à manifestação, a Cooperativa dos Produtores de Arroz do Vale do Paraíba (Coopavalpa) concentrou tratores próximos à pista da Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, na cidade de Guaratinguetá, localizada no interior paulista. Segundo o engenheiro e um dos organizadores da iniciativa, Gustavo Marcondes Barbeta, assim como os caminhoneiros, os produtores rurais têm sofrido com o aumento do preço do diesel: “Interfere no custo da produção e no preço do arroz”.

Segundo Barbeta, a adesão à causa dos caminhoneiros surgiu após a percepção de uma manifestação pacífica e que envolvia reivindicações de interesse de toda a população. A previsão, de acordo com o engenheiro, é que a Coopavalpa continue aderindo ao manifesto até que ocorra um acordo entre as duas partes e que contemple a diminuição do custo do diesel.

Tratores parados próximos a Rodovia Presidente Dutra, na altura da cidade de Guaratinguetá, no interior de SP/ Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

Sobre a pacificidade da manifestação, Mauro e os demais caminhoneiros agrupados na Rodovia Presidente Dutra afirmam não haver nenhuma restrição de passagem para carros de passeio e até mesmo caminhões. De acordo com os manifestantes, o pedido de adesão à greve é realizado para os caminhoneiros que passam pela via, mas a adesão é uma escolha individual.

O acordo

O acordo firmado na noite da quinta-feira, 24, entre o governo e representantes dos caminhoneiros, previa a suspensão da paralisação por 15 dias, e a redução de 10% no valor do diesel nas refinarias por 30 dias, enquanto o governo costura formas de reduzir os preços. A Petrobras manterá o compromisso de custear esse desconto, estimado em R$ 350 milhões, nos primeiros 15 dias. Os próximos 15 dias serão patrocinados pela União.

O governo também prometeu uma previsibilidade mensal nos preços do diesel até o fim do ano, sem mexer na política de reajustes da Petrobras, e vai subsidiar a diferença do preço em relação aos valores estipulados pela estatal a cada mês. O governo também se comprometeu a zerar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para o diesel até o fim do ano. Também negociará com os estados, buscando o fim da cobrança de pedágio para caminhões que trafegam vazios, com eixo suspenso.

Decisão do Governo

Na tarde desta sexta-feira, 25, o presidente Michel Temer anunciou oficialmente a decisão do Governo Federal de implantar um Plano de Segurança. A medida foi tomada, segundo o presidente, após o Governo atender 12 reivindicações prioritárias dos caminhoneiros em vista da suspensão da manifestação.

“Este deveria ter sido o resultado do diálogo. Muitos caminhoneiros estão fazendo a sua parte, mas, infelizmente, uma minoria radical tem bloqueado estradas e tem impedido que muitos caminhoneiros levem adiante o desejo de atender a população”, declarou Temer.

De acordo com o presidente, o plano “superará os graves efeitos do desabastecimento causado pela paralisação”.  A medida implicará no acionamento das Forças Federais de Segurança para o desbloqueio das estradas.

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