Bispo da Diocese de Roraima explicou principais eixos do Plano de Integração “Caminhos de Solidariedade”, lançado nesta semana
Julia Beck
Da redação
Acolher e integrar os migrantes e refugiados localizados em Roraima, e em todo o Brasil, é um dos eixos de atuação social e eclesial do Plano Nacional de Integração Caminhos de Solidariedade: Brasil & Venezuela, lançado na última terça-feira, 2.
De autoria da Diocese de Roraima e da Cáritas Diocesana de Roraima, com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras instituições, o projeto é, de acordo com o bispo da diocese e presidente da Cáritas de Roraima, Dom Mário Antônio, um olhar atento à realidade dos migrantes e refugiados que chegam ao país, de forma cada vez mais massificada, desde 2015.
“Estima-se hoje que dos 120 mil venezuelanos que estão no Brasil, 60 mil estão em Roraima, a maioria aqui em Boa Vista, cerca de 20 a 25 mil pessoas, os demais espalhados pelos 14 municípios do estado, inclusive Pacaraima que é a cidade mais próxima da fronteira”, comentou o bispo. Diante do intenso fluxo migratório, que teve seu ápice em 2017 e 2018, a acolhida dos venezuelanos tornou-se cada vez mais um desafio.
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Alimento, roupas, remédio e assistência médica são algumas das muitas necessidades dos migrantes e refugiados que hoje o estado de Roraima tem a dificuldade de suprir. A regularização do refúgio e a questão da língua também foram desafios apontados por Dom Mário, enfrentados pelos venezuelanos. “Para nós cristãos e católicos, há também uma preocupação com o acompanhamento pastoral, celebrações em espanhol, momentos de escuta e orientação jurídica e espiritual, fora o trabalho e a geração de renda”, completou.
Segundo o bispo, o estado, que contabiliza 574 mil habitantes, não tem oportunidade de trabalho para todos que chegam em busca de autossustento e de algum sustento para os familiares que estão na Venezuela. A incerteza, para Dom Mário, é um fator capaz de gerar ainda mais instabilidade nos migrantes e também na população local.
“A situação ainda é dramática para muitas famílias”, afirmou o bispo de Roraima ao recordar o atendimento emergencial concedido aos venezuelanos. “O exército está abrigando 10% das famílias migrantes, é um número significativo, porém não satisfatório. Os migrantes refugiados estão hoje nos abrigos, estão nas casas alugadas, outros tantos em casas ocupadas e uns nas ruas”, comentou.
Apesar da existência de situações de desrespeito e resistência, o bispo fez questão de ressaltar que existem muitos gestos de solidariedade nas comunidades de Roraima. “Nós temos defendido que migrar é um direito e que os migrantes são novos habitantes entre nós e que merecem de nós o respeito e a acolhida, é o mínimo que podemos oferecer para que tenham uma vida digna conosco”, comentou.
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O Plano de Integração Nacional é então uma oportunidade, de acordo com o bispo, para que a Igreja no Brasil se una em prol da questão migratória. “Queremos contar com todos esses organismos e instituições para que possam acolher pessoas e famílias nas suas localidades, articular espaços, casas e até mesmo possibilidade de emprego, com acompanhamento, para que possam ter uma vida digna e se realizar como pessoa também em uma integração social e eclesial”, frisou Dom Mário.
“Este plano surgiu da necessidade de oferecer oportunidade e vida digna para aqueles que estavam chegando em Roraima e que também querem ir para outros lugares do país. (…) Foi um plano motivado pelo fundo nacional de solidariedade, ou seja, na Assembleia dos Bispos em Aparecida, foi aprovado que 40% do Fundo Nacional de Solidariedade seria destinado para a migração em Roraima. Então achamos por bem investir estes 40% do Fundo Nacional de Solidariedade neste plano de integração que foi elaborado em uma oficina em Brasília, na Cáritas Brasileira, com a presença de várias entidades, vários organismos que nos apoiam e organismos afins”, recordou Dom Mário.
O Plano, apoiado financeiramente com a destinação de recursos por parte da CNBB, terá uma porcentagem de 10% do valor investido em recursos para população brasileira. “Os brasileiros também necessitam de ajuda e de assistência devido ao desemprego, a pobreza. Alguns brasileiros encontram-se até mesmo em situação de miséria e migração interna em nosso país”, recordou.
A migração é para o bispo uma questão que não está apenas em Roraima, mas em todo o Brasil. “Quem acolhe um migrante e refugiado acolhe Jesus Cristo. A migração forçada não é algo que se faz com gosto e uma vez que acontece merece de nós uma solidariedade e acolhida”, frisou. Dom Mário reforçou os caminhos de diálogo entre Brasil e Venezuela buscados por meio do Plano e o movimento de união entre as Igrejas Católicas nos dois países. “Queremos ao longo dos próximos 12 meses estabelecer um contato mais próximo com a Igreja na Venezuela. Queremos ver o que é possível e permitido pelo governo venezuelano, para que possamos desenvolver este Plano”.
O Plano ganhará em breve um site com o nome “Caminhos da Solidariedade”, para que as instituições entrem em contato, acolham pessoas e famílias e apoiem o trabalho de integração de forma financeira ou manual.