Pelo menos 30% dos brasileiros têm pressão alta. Só que pesquisa da Universidade de São Paulo revela um dado preocupante. Nem todos os hipertensos usam medicamentos de forma correta.
Reportagem de Aline Imercio e Antonio Matos
Vilma foi diagnosticada com hipertensão há quase 15 anos e é rigorosa ao tomar a medicação da forma correta. “Coloco o celular para despertar. Todo mundo já sabe aquilo celular despertou e já sabe que é hora do remédio”, disse a doa de casa, Wilma Kretikie.
Mas nem sempre os hipertensos fazem o tratamento devido. Pesquisa realizada pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo entrevistou 253 pessoas com hipertensão. Quando questionados se faziam uso correto dos medicamentos, 90% responderam que sim, mas um exame de urina específico constatou que apenas 30% tinham realmente o medicamento no organismo.
“Isso nos mostra que confiar apenas no relato do paciente, apenas no relato da pessoa, pode levar a uma falsa impressão de boa adesão”, disse a enfermeira e autora do Estudo na EEUSP, Mayra Pádua.
E existem várias razões para essa falta de adesão ao tratamento. “Relacionadas ao próprio paciente. O fato dele não tomar os remédios, dele esquecer de tomar os remédios, né, dele não acreditar que os remédios vão diminuir a pressão ou então quando a pressão controla, porque tá fazendo o tratamento, deixar de tomar o remédio, achar que tá curado”, reforçou a professora da EEUSP e orientadora do estudo, Angela Pierin.
E quem não segue de forma correta o tratamento indicado para hipertensão pelos médicos, corre sérios riscos. Doenças como infarto, acidente vascular cerebral, complicações renais e cardíacas podem acontecer com quem não faz o uso certo das medicações. “80% dos acidentes vascular cerebral, dos derrames, a hipertensão é o principal fator de risco. 40% dos infartos dos casos de insuficiência cardíaca, a hipertensão é o principal fator de risco. 37% dos pacientes com doença renal crônica fazendo diálise, são hipertensos que não trataram corretamente. Então é esse risco que a pessoa tem”, constou o cardiologista, Carlos Alberto Machado.
O tratamento da hipertensão também envolve hábitos saudáveis de alimentação e exercícios físicos. Para a pesquisadora, é preciso criar meios para discutir a não adesão aos medicamentos. “A gente precisa desenvolver uma educação em saúde, explicar de forma simples a importância do uso desse medicamento. A gente precisa realmente reavaliar a forma que a gente tá avaliando a adesão”, concluiu Mayra.