Bispo referencial da Pastoral Afro-Brasileira da CNBB comenta o trabalho da pastoral e os desafios para a questão racial
Da redação, com CNBB
O Dia da Consciência Negra é celebrado nesta quarta-feira, 20. Diante da data, Dom Zanoni Demettino Castro, arcebispo de Feira de Santana (BA) e referencial da Pastoral Afro-Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), comenta o trabalho da pastoral e os desafios para a questão racial. O arcebispo entende que a Pastoral Afro-Brasileira tem o papel de identificar e elencar as iniciativas dos vários grupos, em prol da população negra, da juventude negra, de resgate e de políticas afirmativas que existem na Igreja no Brasil.
Dom Zanoni defende que é missão de toda a Igreja o cuidado pastoral com a questão racial. “A Pastoral não pode ser ação de um grupo reservado, de uma elite pensante, mas ação da Igreja toda”, argumenta. Em sua avaliação, o arcebispo afirma que a preocupação com a Pastoral Afro-Brasileira deveria ser transversal à ação de todas as pastorais, organismos e igrejas particulares uma vez que a maioria da população brasileira é constituída de negros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
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“A maioria absoluta de nossa gente é afro-brasileira. Temos consciência que a maioria dos pobres é afrodescendente. Se vamos aos presídios, o número de afrodescendente é bem maior. A realidade de extermínio da juventude negra cresce assustadoramente. Como dar uma notícia boa a essa gente? Como ser fiel ao mandato evangelizador do nosso Senhor Jesus? A Pastoral Afro-Brasileira é missão nossa, não só de um grupo, mas de toda a Igreja. Não só de uns bispos, mas de todos os pastores”, disse.
O arcebispo destacou que a Igreja toda é chamada a evangelizar, como é proposto pelo Papa Francisco. “É preciso escutar, ter presente a realidade concreta das pessoas. Se esse povo não é assumido, como dizia São Gregório Nazianzo, não será redimido. Então, essa é a realidade. Temos esse desafio grande para ser enfrentado”, afirmou.
Missão da Pastoral Afro-Brasileira
A missão da Pastoral Afro-Brasileira é, segundo Dom Zanoni, a de articular, organizar, incentivar, identificar e elencar iniciativas e trabalhos de vários grupos. “Toda a ação em benefício do povo negro é ação de libertação. Está integralmente na ação pastoral da Igreja”, sublinhou.
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“Esse ano nós temos acompanhado os Congressos das Comunidades Negras e Católicas, pensando a pastoral, tendo presente o desafio que a Igreja enfrenta neste momento. Acompanhado também a irmandades que é a maneira mais tradicional e antiga da catolicidade do povo brasileiro. E perceber também como estar presente e mais próximo das comunidades quilombolas”, contou. Para o arcebispo, o povo negro é chamado e já é protagonista da gestação de uma nova cultura e realidade.
Luta racial
Para Dom Zanoni a luta racial continua nos dias atuais: “Cabe a nós, Pastores da Igreja, que assumimos a ação evangelizadora da Igreja, nos empenhar seriamente para que a causa do negro, a defesa dos seus direitos, o resgate da sua dignidade esteja na pauta”. A realidade das pessoas não é algo indiferente à ação Evangelizadora, destacou o arcebispo, que completou: “O rosto concreto dos afrodescendentes, dos quilombolas, dos ribeirinhos é o rosto do próprio Cristo”.