Entrevista

Para bispo do RJ, violência é combatida pela Igreja nas comunidades

Dom Orani explica que a Igreja Católica faz o possível para ajudar a população carioca a enfrentar a violência

Denise Claro, com colaboração de Thiago Coutinho
Da redação

Dom Orani destaca que a Igreja mantém diversos projetos que ajudam a conter a violência em solo carioca / Foto: Arquivo CN

A intervenção federal no Rio de Janeiro ainda é tema de debate em diversos setores da sociedade: políticos, intelectuais, a população, cada um tem um ponto de vista sobre a ação adotada pelo Governo Federal a fim de conter a crescente violência em solo carioca. Mas o que a Igreja pensa a respeito? Para responder a esta pergunta e comentar outros assuntos sobre a violência, em especial no Rio, o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, conversou com o noticias.cancaonova.com. Confira abaixo

noticias.cancaonova.com ― Tiroteio, assaltos, tráfico de drogas são tragédias noticiadas diariamente. Entre as vítimas, muitos inocentes, inclusive crianças, casos que causam espanto e desesperança na população. Como tem sido o trabalho na Igreja no Rio no sentido contrário: de levar esperança de dias melhores?

Cardeal Orani Tempesta― A Igreja Católica do Rio de Janeiro está presente em todas as comunidades, favelas da cidade. Seja com paróquias, capelas ou trabalhos sociais. Temos há mais de quarenta anos a Pastoral das Favelas. Temos há mais de trinta anos a Pastoral do Menor e do Adolescente. Temos um trabalho junto aos refugiados. Creio que esta presença junto ao povo que aqui caminha dá esperança e confiança no amanhã. E, ao mesmo tempo que a Igreja tem este trabalho social, ela tem o seu trabalho essencial que é o de evangelização, de missão, de anunciar Jesus Cristo às pessoas, que transforma e arranca dos corações toda a violência. Vejo que a Igreja tem feito muitos trabalhos tanto de evangelização como de catequese e sociais. E isto tem ajudado muito na beleza do coração dessas pessoas que residem nesta grande cidade, dando esperança a cada um.

noticias.cancaonova.com ― Como a Igreja no Rio vê a Intervenção Federal? Qual a expectativa para o início desse trabalho?

Dom Orani ― A intervenção federal que aconteceu no Rio de Janeiro, algo inesperado e inédito também depois da vigência desta Constituição brasileira, creio que já temos experiência aqui no Rio, sobretudo por causa da GLO [Garantia da Lei e da Ordem] que já está há muito tempo aqui, além de várias outras intervenções que nós tivemos. Creio que quando alguém está muito doente e com sério risco de vida, algo deve ser feito. Torcemos para que aquilo que vai sendo feito possa ajudar, para que realmente a pessoa se cure e melhore. Este é nosso desejo, são os nossos votos que diante daquilo que vai acontecendo no Rio de Janeiro possa ajudar a melhorar a cidade e a vida de seu povo.

noticias.cancaonova.com ― O senhor mesmo foi vítima dessa violência, em dois episódios. Como reagiu?

Dom Orani ― Eu tive vários episódios de violência, tanto de dois assaltos como com tiroteios. Aquilo que foi minha reação, que já foi comentada e vista também, ou seja, é olhar para aqueles jovens adolescentes e assaltantes e ver a nossa responsabilidade para com estes jovens que necessitam de valores pelo que lutar, pela vida. Que a vida seria muito mais feliz para eles se tivessem em seus corações estes valores cristãos. E isto é uma grande responsabilidade que sinto de ver o que acontece com esses jovens que assaltam, que fazem tantas badernas aqui e acolá, e que poderiam ajudar a serem cada vez melhor e mais felizes.

noticias.cancaonova.com ― A Campanha da Fraternidade 2018 propõe o tema “Fraternidade e Superação da Violência”. Quais são os caminhos para superar a violência, em especial na realidade vivida atualmente no Rio?

Dom Orani ― Nós criamos uma Carta Pastoral, “Bem-aventurados os que constroem a paz”, em que acolhemos o tema da Campanha da Fraternidade e seu texto base, e colocamos algumas atitudes que temos vivido no Rio de Janeiro, como é a Escola de Perdão e Reconciliação, também do trabalho com relação a medidas de ajuda às pessoas que vivem situação de conflito, o trabalho com os imigrantes e refugiados, também de promoção humana, enfim, são vários trabalhos principalmente de escuta das pessoas e de orientação. Esta Campanha da Fraternidade nos ajuda, e muito, a continuar nosso trabalho de evangelização e de missão. Mas, o principal de tudo que deve acontecer é que com o trabalho que temos, tanto social quanto pastoral e de evangelização, coloquemos no coração das pessoas uma cultura de paz e semeemos esta cultura ao nosso redor.

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