No artigo desse mês, padre Joãozinho retoma fala do Papa sobre a história da salvação, que é a história de Deus que procura o homem oferecendo o seu amor
Padre Joãozinho, scj
João Carlos Almeida – Teólogo e educador
No dia 31 de maio de 2013 o Papa Francisco escreveu no Twitter:
Toda a história da salvação é a história de Deus que procura o homem: oferece-lhe o seu amor, acolhe-o com ternura.
As religiões da humanidade buscam Deus no alto do monte. É preciso subir com esforço ascético para encontrar Deus nas alturas da mística. Em alguns casos a espiritualidade é privilégio de uns poucos santos e predestinados. O cristianismo inverteu esta lógica. É Deus quem procura o homem. O Papa Francisco é radical ao afirmar que toda a história da salvação é a “história de Deus que procura o homem”.
De fato já nas primeiras páginas da Bíblia encontramos os relatos judaicos da criação em que Deus procura o homem no paraíso. Após o pecado o homem se enche de maquiagens, mancha sua identidade de “imagem e semelhança de Deus” e se esconde. A história continua com esta busca contínua de Deus a uma humanidade que foge, se oculta e se esconde.
No livro do Êxodo encontramos o emblemático capítulo em que Moisés é levado pelo medo e pela curiosidade ao alto de um monte. Ali se vê diante de um fenômeno extraordinário. A sarça ardente pega fogo, mas não se consome. Aproximando-se ouve as palavras: “Moisés, fica à vontade; tira as sandálias, esta terra é santa”. Naquele encontro o profeta maior recebeu uma revelação e uma missão. Deus revelou que seu nome é presença. Ele não é apenas um Deus tremendo e fascinante que atrai pelo medo e pela curiosidade. É um Deus Conosco. Diante das dúvidas do profeta gago, Deus garante: Estarei contigo. Esta é a grande experiência do povo de Deus. Quando veio a fome, a presença de Deus se manifestou na forma de maná; quando veio a sede, Deus fez sair água da rocha; quando veio a dúvida Deus mandou juízes, reis e profetas. Deus provê, Deus proverá, sua misericórdia não faltará.
Mas não bastava esta presença distante. Na plenitude dos tempos, após bater na porta da humanidade que foi aberta pelo sim de Maria, o Verbo se fez carne e habitou no meio de nós (Jo 1,14). Aquele que falou pelos profetas agora veio falar com sua própria voz. Jesus revela a face misericordiosa de Deus. Nele Deus oferece seu amor e a vida em plenitude, a saúde em todas as dimensões. Ele revela o que há de mais humano à humanidade. Ele rasga as máscaras e recupera a imagem de Deus manchada desde o pecado dos primeiros pais.
Em Jesus, o bom pastor que dá a vida pelas ovelhas, encontramos o colo de Deus. Ele veio para curar e salvar o que estava perdido. Acolhe os pecadores e janta com eles. Desde o início disse que veio pobre para os pobres. Deixou a acolhida dos excluídos e sofredores como mandamento de salvação (Mt 25). Não é mais possível separar a terra do céu, o corpo da alma, a mística da militância, a prece da praça. Em Jesus o humano foi assumido pelo divino definitivamente. Ao voltar para o Pai não “desencarna”. A ascensão de Jesus revela que ele levou para a eternidade nosso humano coração. O que ele assumiu foi redimido, como diria Santo Irineu já nos primórdios do cristianismo.
Esta é uma linda história de amor. Recebemos o mandato de Jesus para continuar esta missão de acolhida. O cristianismo é a chance de paz para um mundo envolvido em tantos dramas de intolerância, guerra, e fundamentalismos. Ser cristão é assumir esta missão de viver no amor e na acolhida do outro, mesmo que pense ou reze diferente. Continuamos a busca de Deus. Esta é a nossa missão de paz.