Os desafios impostos pela pandemia geraram grandes inseguranças; vivência familiar é uma fonte de apoio para atravessar estes momentos instáveis e cheios de dúvidas
Liliane Borges
Da Redação
O país enfrenta um grande momento de instabilidade trazido pela pandemia que atinge aos diversos setores, como economia e saúde pública. Já há 2 meses em isolamento social, quarentena e medidas de prevenção ao contágio do Covid- 19, muitas pessoas vivem grandes desafios, e em um bom número de casos não sabem como vencê-los.
A família, neste caso, é uma fonte de segurança e, portanto, auxílio para ultrapassar de modo mais sereno e encorajador este tempo, que ainda não se sabe o quanto irá durar. As Nações Unidas ao instituir, em 1993, a data 15 de maio como o Dia Internacional das Famílias, apontou o papel central do núcleo familiar na sociedade.
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Este protagonismo familiar ganhou atenção neste tempo de quarentena em que muitas famílias estão reunidas em casa e se reinventam no convívio diário. Para a família de Andreia e Marcelo Moura este convívio tem sido bem-vindo, pois se tornou momento de mais intimidade e crescimento.
“Temos vivido na austeridade, na oração, e retomando muitas atitudes e ações que poderiam ser melhores! Partilhamos sobre a real situação do Brasil e do mundo, mais sem perder de vista a esperança de sairmos melhores dessa situação. Melhores filhos, melhores como cidadão, melhor mãe e pai, melhor filha, enfim, estamos rezando por toda essa realidade, mas não ficamos com o negativo, estamos colhendo os frutos por estarmos em quarentena neste tempo!”, conta Andreia.
O casal com 5 filhos, com idades entre 1 e 13 anos, além das coisas práticas necessárias à organização para o bom convívio, destaca a vivência da fé em família como preciosa aliada desse desafio.
“Sem dúvida a vivência em família tem sido muito eficaz para crescermos na confiança, no amor, no serviço, na gratidão a Deus pela família que temos, com seus defeitos e imperfeições, mais com desejo imenso de santidade e ser melhor para o outro e para Deus!”, enfatiza Andreia.
E para o bom êxito deste propósito, o diálogo é o fio condutor das relações no dia a dia. O Papa Francisco, ao falar da Sagrada Família, por ocasião do último Ângelus de 2019, apontou-a como modelo desse profícuo diálogo.
“Maria, José e Jesus, a Família de Nazaré, representam uma resposta uníssona à vontade do Pai. Os três componentes dessa família singular se ajudam reciprocamente a descobrir e realizar o plano de Deus. Eles rezavam, trabalhavam, comunicavam-se”, ensina Francisco.
O pontífice lançou então uma questão às famílias: “Tu, em tua família, sabes te comunicar, ou és como aqueles jovens na mesa, cada um com o telefone celular, [que] estão [trocando mensagens] em chats? Naquela mesa, parece um silêncio, como se estivessem na Missa … Mas não se comunicam. Devemos retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os avós, mas comunicar-se, com os irmãos, entre eles… Esta é uma tarefa a ser feita hoje, precisamente no dia da Sagrada Família”, definiu o Papa.
Uma comunicação que pode ser a fonte geradora da segurança e bem-estar tão necessários ao nosso tempo. Padre Rafael Solano, da arquidiocese de Londrina (PR), doutor em teologia Moral, consultor da CNBB no setor vida e família e professor de Teologia Moral e Bioética na PUC (PR), destaca que as dificuldades que atravessamos, independente da pandemia, são momentos oportunos para que a Família possa crescer.
“A família é o elemento mais dinâmico da sociedade , uma experiencia familiar não é estática, ela sempre está se dinamizando graças à experiência de cada um dos seus membros. Então numa época como essa, a família tem um papel fundamental dentro deste cenário. Porque a família, muito mais que uma espectadora, é também um agente de participação”, destaca padre Rafael.
Família, lugar de segurança
A experiência da família Moura evidencia o lugar central da Família e os direitos que lhe são próprios. Quando outras instituições passam por momentos instáveis como este – o Estado, por exemplo – o núcleo familiar mostra sua intocável sacralidade.
Lisandra Borges, mestre e doutora em psicologia e psicopedagogia, destaca que a família desde sempre teve um papel central no desenvolvimento e na formação dos indivíduos. “Família é um mecanismo básico de proteção social e, portanto, tem um papel fundamental, principalmente em momentos de maior instabilidade”, explica.
Com o isolamento social, o tempo de convivência familiar aumentou e com isso, novas experiencias de convívio surgiram, e sentimentos diferentes externaram. De acordo com a psicóloga, mesmo que nem todos os sentimentos sejam positivos, é uma oportunidade de resgate. “Acredito que as pessoas precisam resgatar o verdadeiro valor da família, o conceito de apoio, tolerância e paciência”, aponta.
Testemunho de amor e cuidado
Andreia e Marcelo fizeram a opção de receber em casa suas mães, Rita e Alzira, com o objetivo de cuidar da saúde e fazer-lhes companhia. Os filhos têm aprendido, desde cedo, que a gratidão e o amor colocado em serviço são verdadeiros remédios. Com problemas de saúde crônico, as avós precisam de cuidados, e eles, pelo exemplo dos pais, ajudam nas necessidades diárias.
“Sentimo-nos privilegiados. Quantos gostariam de estar com os pais e não têm essa possibilidade! Deus está nos dando essa graça! De fato, não é pesado, estamos vivendo tempo rico de cuidar daqueles que tanto cuidaram de nós! Estamos retribuindo de forma pequena todo amor que elas dispuseram por nós!”, conta Andréia.
Segundo padre Rafael, a experiência vivida neste tempo pode trazer grande aprendizado e crescimento na fé dos filhos. “Situações como esta nos ajuda profundamente a rever nossos posicionamentos, mas não somente na direção da fé como virtude moral e como virtude teologal, mas na fé como também uma experiência de piedade . A piedade na família é um instrumento valioso para o crescimento de todos os seu membros”, conclui.
O cuidado foi redobrado durante as exigências da quarentena, e neste trabalho todos se unem para proporcionar às mães e avós a melhor estadia. Andréia conta que as duas são do grupo de riscos por terem problema de diabetes, pressão entre outras doenças, “mas estamos confiantes que, em breve, voltaremos à nossa rotina normal, mas olhando a vida de forma bem diferente!”, conclui.