Artigo - Doutrina Social

Padre destaca a finalidade prática da Doutrina Social da Igreja

Segundo especialista, Doutrina Social da Igreja tem uma dimensão teórica, mas sua finalidade é eminentemente prática

Padre Antônio Aparecido Alves*

CHAMADOS À AÇÃO!

A Doutrina Social da Igreja é acusada por alguns de ser meramente uma teoria, com citações de documentos pontifícios. Não é bem assim. Na realidade ela tem, sim, uma dimensão teórica, representada em seus princípios fundamentais, bem como histórica, através das encíclicas sociais pontifícias que respondem a problemas e demandas do respectivo tempo. No entanto, sua finalidade é eminentemente prática, como afirmou São João Paulo II na Centesimus Annus, enfatizando que a mensagem social do Evangelho não quer ser uma teoria, mas uma motivação para ação (CA 54).

O magistério de São João XXIII e Beato Paulo VI

Em sua primeira encíclica social, a Mater et Magistra (1961), São João XXIII exortava os cristãos a se empenharem na aplicação dos princípios da Doutrina Social da Igreja para que, agindo de acordo com essa doutrina, cooperassem na transformação da sociedade (MM 236-257), inclusive juntos com os não-crentes no campo do trabalho social, promovendo um verdadeiro ‘ecumenismo social’ (MM 239). A mesma insistência aparece na última parte da Pacem in Terris (1963) do mesmo Papa, que é um vivo convite aos cristãos para participarem ativamente da vida pública. É importante a distinção feita por ele entre ‘teorias filosóficas falsas’ e ‘movimentos históricos’, pois permite aos cristãos participarem de movimentos sociais que se originaram de teorias filosóficas falsas (PT 157), na medida em que estes se afastaram das teorias de suas origens e se aproximam dos apelos históricos por justiça e igualdade.

Por sua vez, o Beato Paulo VI dedica a última parte da Carta Apostólica Octogesima Adveniens (1971) à ‘ação’, em conformidade com a evolução da Doutrina Social da Igreja que a orienta para a práxis. O Pontífice faz um veemente apelo à ação (OA 48-49), recordando o que já dissera na Populorum Progressio, isto é, de que os leigos não podem esperar passivamente ordens da hierarquia, mas devem imbuir de espírito cristão “a mentalidade e os costumes, as leis e as estruturas da sua comunidade de vida” (PP 81). Para viver seu compromisso em uma história marcada pelo conflito o cristão deve saber ‘discernir’, para se chegar às “opções” e “compromissos” que se convém tomar para promover as “transformações sociais, políticas e econômicas” necessárias e, em alguns casos, urgentes (OA 4). O discernimento cristão deve levar a uma prática sociopolitica transformadora.

O Papa Francisco

Em nosso tempo, o Papa Francisco insiste que a Doutrina social da Igreja não pode ficar em generalidades, mas é preciso “tirar as suas consequências práticas, para que possam incidir com eficácia também nas complexas situações hodiernas” (EG 182). Afirma, ainda, que uma fé autêntica comporta sempre o desejo de mudar o mundo, deixando a terra um pouco melhor depois de nossa passagem por ela, pois “o pensamento social da Igreja é primariamente positivo e construtivo, orienta uma ação transformadora” (EG 183).
Enfim, precisamos ouvir no ‘hoje’ de nossa história aquelas memoráveis palavras pronunciadas há quase cinquenta anos pelo Beato Paulo VI: “É a todos os cristãos que nós dirigimos de novo, ainda e de maneira insistente, um apelo à ação” (OA 48).

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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br

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