Artigo - Doutrina Social

O trabalho e a Doutrina Social da Igreja

Especialista destaca que trabalho é chave essencial de toda a questão social

Padre Antônio Aparecido Alves*

“No processo de produção, o trabalho é a causa eficiente primária, enquanto o capital é causa instrumental” / Foto: littlehenrabi by Getty Images

Comemora-se no dia 1º de maio o “Dia do Trabalho”, tendo como referência uma greve geral desencadeada nesta data em 1886 e que foi assumida posteriormente como uma data de luta pelos direitos da classe trabalhadora.

A questão do trabalho está nas origens do que chamamos hoje de Doutrina Social da Igreja (DSI), pois a Revolução Industrial no final do século XVIII trouxe desafios enormes para os cristãos e obrigou a Igreja a um posicionamento.

Na origem da Doutrina Social da Igreja

O Papa Leão XIII, em 1891, se manifestou sobre a chamada “questão operária”, em uma época em que se começava a distinguir duas classes antagônicas: patrão e operários. Em sua encíclica intitulada Rerum Novarum (Das Coisas Novas) ele definiu o trabalho como uma atividade humana destinada a prover às necessidades da vida, especialmente a sua conservação (RN 6). Salientou, ainda, que o trabalho tem uma dignidade e não se deve ter vergonha de trabalhar para ganhar o pão do dia-a- dia, uma vez que o próprio Jesus quis ser trabalhador (RN 15).

Ainda, segundo esse Pontífice, o trabalho é pessoal e necessário: ‘pessoal’ porque a força empregada no trabalho é propriedade daquele que o exerce e o recebeu para a sua utilidade; é ‘necessário’ porque o homem precisa dele para sobreviver. Em conclusão, afirma que o trabalho tem prioridade sobre o capital. O magistério posterior (Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI) seguiu basicamente estas indicações deixadas por Leão XIII nesta encíclica.

João Paulo II: o trabalho é a chave da questão social

Em 1981, no aniversário dos 90 anos da Rerum Novarum o Papa João Paulo II publicou uma encíclica sobre o trabalho, com o título Laborem Exercens (O Exercício do Trabalho). Neste importante documento da DSI ele aborda o trabalho como uma questão sempre atual e perene, inovando em alguns conceitos que vinham desde a Rerum Novarum.

Partindo do texto bíblico do Gênesis, o Pontífice distingue entre o trabalho em sentido objetivo (tecnologia) e subjetivo (o homem que trabalha) e conclui com o princípio ético de que o trabalho é para o homem, não o homem para o trabalho, criticando o materialismo econômico no qual o homem é tratado como instrumento de produção.

O trabalho humano é uma vocação para transformar o mundo, um serviço em que o amor aos irmãos se desenvolve e no qual a própria criatura se realiza contribuindo incessantemente para a humanização da sociedade. O homem, portanto, aperfeiçoa-se através do trabalho quando o torna meio de santificação, de oração e de participação na obra da criação e da redenção. Conclui o Pontífice que o trabalho é uma chave, e provavelmente a chave essencial de toda a questão social, se procurarmos vê-lo verdadeiramente sob o ponto de vista do bem do homem.

Conclusão: a dignidade do trabalho

João Paulo II proclama, por fim, na Laborem Exercens, a prioridade do trabalho sobre o capital. No processo de produção, o trabalho é a causa eficiente primária, enquanto o capital é causa instrumental.

Esse é um conjunto de coisas (dinheiro, máquinas etc), ao passo que o homem, só ele, é uma pessoa. Não se pode separar o trabalho e o capital, nem mesmo contrapor um ao outro, muito menos ainda colocar o capital acima do trabalhador.

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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br

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