Como distinguir o que é um trabalho missionário e o que não é? Para quem ainda tem dúvidas, a missão vai desde o trabalho direto com a evangelização até aquele que está por trás de tudo isso, como as atividades desempenhadas nos setores mais escondidos de uma comunidade. Independentemente da área em que se realiza, a missão começa com a oração.
A oração é o coração da missão. Isso é o que pensa o padre Hamilton Nascimento, da comunidade Canção Nova. Para ele, a ação missionária não é só a parte externa, mas começa justamente a partir do interno. “Santa Terezinha descobriu que, através do amor, amor traduzido em forma de oração, ela poderia desenvolver a missão, sustentar a missão da Igreja”, disse.
Ele explicou que, antes de partir em missão, é necessário rezar por ela. Isso porque sem colher de Deus as inspirações, a missão não terá eficácia, não dará frutos. E aquelas pessoas que não saem em missão, mas ficam de base para os missionários que o fazem, também desenvolvem uma ação missionária.
Exemplo disso, segundo padre Hamilton, é o trabalho de Madre Tereza de Calcutá. Para sua ação missionária em Calcutá e mundo afora, ela contava sobretudo com um grupo de amigas, intercessoras, uma espécie de filhas espirituais, a quem recorria nas dificuldades do dia-a-dia da missão, entraves que apareciam e impediam o avanço da obra de Deus.
“Era justamente nessas horas de intenso embate que ela recorria a outros missionários, que eram justamente aqueles que, por muitas razões, não poderiam ir em missão como ela. (…) Madre Tereza sabia que a eficácia na missão dependia muito antes da comunhão íntima e profunda com Deus”.
Testemunho
Assim também é o trabalho missionário de Ana Elizabete De Lucena Calado, missionária da comunidade Canção Nova que atua no setor administrativo, na auditoria interna da Fundação João Paulo II.
“O meu trabalho missionário na Canção Nova é aquela ação meio silenciosa. Na verdade, eu não evangelizo diretamente com o povo, mas estou evangelizando através da minha participação na companhia de pesca que o padre Jonas ensina, como Canção Nova, a vivermos”, relatou a missionária.
Concretamente falando, ela explicou que seu trabalho deve ser bem desenvolvido de forma a ajudar a trazer os balanços de forma mais transparente para o público. Ela descreveu suas atividades cotidianas como simples, mas de grande responsabilidade.
“Lido com muito papel, com várias pessoas, com vários departamentos, porque na auditoria interna nós temos que criar procedimentos de controles internos para toda a Fundação João Paulo II”.
E esse trabalho burocrático não faz Ana Elisabeth ser menos missionária que os outros. Ela acredita que está evangelizando a partir do momento que desenvolve o seu trabalho profissionalmente. “Se não formos profissionais de Deus, não vamos prestar contas ao público e à promotoria de forma justa e como deve ser”.
Para Ana, Deus investe em cada um de maneira diferente, mas cada um tem o seu papel. “O trabalho é de suma importância, seja aquele que pesca e traz o peixe, ou aquele que está no barco remando para que o pescador traga os bons peixes, todos os dois têm um papel fundamental. Um é o fim e o outro é o meio. Para Jesus, todos evangelizam da mesma forma”.
Nova evangelização
Independente da forma se desenvolve, toda a ação missionária está diante de um novo contexto: a nova evangelização. Padre Hamilton lembrou que o beato João Paulo II já dizia que para o 3º milênio seria necessário que a Igreja lançasse mão de novos métodos para chegar ao coração das pessoas.
Nessa tarefa, o sacerdote disse ser fundamental a formação. “Para eu anunciar Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado, eu devo ser o primeiro a ser alguém que foi encontrado por Ele, a conservar uma amizade pessoal com Ele”.
Essa preparação se explica principalmente tendo em vista as dificuldades impostas pelo mundo ao trabalho evangelizador, como a crise da fé. Esta é a razão da proclamação do Ano da Fé, iniciado no último dia 11.
“Nesse Ano da Fé, é muito importante nós termos o processo de formação que é feito na Igreja, na catequese, na evangelização explícita como realiza a Canção Nova através dos seus muitos e variados encontros, através de toda uma programação televisiva, radiofônica, da internet".
Perfil do missionário do século XXI
E esse trabalho da comunidade, que é uma dentre outras da renovação carismática, busca transmitir sempre a mesma fé cristã-católica, mas de forma nova, com uma linguagem mais catequética, aberta e simplificada, mas não menos profunda.
Essa adaptação de linguagem é, para padre Hamilton, fator essencial para o missionário do século XXI. O mundo mudou e, da mesma forma, as características do missionário precisam ser outras.
“Ele (o missionário) não deixa de ser o que é, mas precisa se inculturar, adequar sua linguagem, sua postura, porque se não, como a gente diria no popular, ele vai ‘ficar falando para as paredes’”.
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