Artigo - Doutrina Social

O magistério social de Paulo VI

Atitude de diálogo com o mundo sempre foi uma constante de Montini, mesmo antes de se tornar Papa, explica sacerdote no artigo desta semana

Padre Antônio Aparecido Alves*

Quando o cardeal de Milão Giovanni Battista Montini foi eleito 265º sucessor de Pedro, em 21 de junho de 1963, a expectativa de todos era muito grande. Filho de família profundamente católica e, ao mesmo tempo, profundamente envolvida com o seu tempo, Montini cresceu em um clima de diálogo com o mundo e, por isso, a peculiaridade desse aspecto em seu pontificado. Seu pai, advogado, mantinha um jornal em Bréscia e foi eleito três vezes deputado pelo Partido Popular, do qual foi co-fundador junto com Don Luigi Sturzo e Alcide De Gasperi. A pedido de Bento XV, assumiu a presidência de uma seção da Ação Católica. Por sua vez, sua mãe estava junto com o pai na direção e condução do jornal e era presidente da União das mulheres católicas de Brescia.

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Essa atitude de diálogo com o mundo sempre foi uma constante de Montini, mesmo antes de se tornar Papa, que junto com sua particular afeição pelo então chamado Terceiro Mundo faziam dele uma pessoa integrada nos problemas e desafios de seu tempo. Foi exatamente a partir desse seu interesse pelos problemas que afligiam populações inteiras no hemisfério sul que pôde nascer uma encíclica com a envergadura da Populorum Progressio, sua primeira encíclica social. Por outro lado, as viagens apostólicas foram uma nota marcante de seu pontificado, pois através delas pôde estar mais próximo das pessoas, conhecendo de perto e in loco suas vidas, problemas e dificuldades. Ele mesmo se refere a elas, dizendo que teve oportunidade de “encontrar, admirar e encorajar” verdadeiros apóstolos do evangelho, conscientes de sua missão na sociedade, como afirmou em seu segundo documento social, a Carta Apostólica Octogesima Adveniens. Enfim, essa atitude de diálogo com a sociedade e sintonia com o terceiro mundo colocava o Pontificado de Paulo VI em uma linha profética.

A encíclica Populorum Progressio

Os Pontífices anteriores a Paulo VI costumavam escrever documentos sociais no aniversário da Rerum Novarum, como forma de comemorar esta primeira encíclica social e de atualizar seus ensinamentos. O Papa João XXIII já havia quebrado essa tradição, ao escrever a Pacem in terris (1963) que não era comemorativa desta encíclica. O Papa Paulo VI fez o mesmo, ao dedicar um documento social à questão do progresso e seu impacto na vida de todas as nações. Na realidade, um grupo de Bispos no Concílio que fez o “Pacto das Catacumbas” visando um maior compromisso da Igreja com empobrecidos e desejando eles mesmos viverem com mais austeridade prepararam este texto e desejavam que fosse inserido nos documentos conciliares. O Papa Paulo VI, simpatizante desse grupo, prometeu a eles que apresentaria o texto como um encíclica social, tão logo finalizasse o Concílio. De fato, esse foi encerrado dia 08/12/1965 e a Populorum Progressio foi publicada dia 26/03/1967.

O progresso do homem todo e de todos os homens

Havia um otimismo desenvolvimentista na década de 1960 em torno à “Teoria das etapas de crescimento”, de Walt Whitmam Rostow. No entanto, a realidade desmentia essa teoria, pois cresciam acentuadamente as desigualdades, seja entre as nações, como também dentro delas. Além disso, na questão do progresso deveria ser considerada a pessoa em todas as suas dimensões: espiritual, pessoal, educacional, cultural, familiar e outras, e não somente do ponto de vista econômico. Por isso, a Populorum Progressio postula um desenvolvimento integral, que atinja o homem todo e todos os homens. Neste documento, Paulo VI se faz advogado dos países do então chamado “terceiro mundo”, defendendo seus direitos e exigindo respeito a esses povos sofridos.

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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br

 

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