Entrevista

Novas dependências: psicóloga dá dicas para evitar e lidar com vícios

Especialista fala sobre as novas dependências ligadas ao mundo virtual, dá dicas para o uso consciente das novas tecnologias e como ajudar quem tem esse vício

Kelen Galvan
Da redação

Psicóloga Poliana Landin afirma que a dependência das novas tecnologias são um grande fator de alerta para as famílias / Imagem de natureaddict por Pixabay

Na intenção de oração para este mês de abril, o Papa Francisco rezou por todas as pessoas sob a influência de dependências, para que sejam bem ajudadas e acompanhadas, e lembrou principalmente dos perigos do mundo virtual e as novas dependências, entre as quais os jogos, a pornografia e a internet.

Em entrevista ao noticias.cancaonova.com, a psicóloga Poliana Landin, mestre em Psicologia que trabalha na área de desenvolvimento humano, explica que existem vários fatores envolvidos para que a pessoa se torne dependente, e, no caso das novas dependências, este tempo de isolamento social e confinamento – decorrente das medidas de prevenção da pandemia de coronavírus – pode ter um agravante.

“Se o estar conectado parece lhe trazer um prazer que a vida real em confinamento não lhe apresenta, infelizmente isso reforça ainda mais o vício”, destaca.

Ela afirma que a junção destes e outros fatores, tornam hoje a dependência das novas tecnologias um grande fator de alerta para as famílias, e dá dicas para o uso consciente das novas tecnologias e também em ações de controle. E explica a pessoa que tem alguma dessas novas dependências pode ser ajudada pelos amigos e familiares.

Leia, abaixo, a entrevista na íntegra:

noticias.cancaonova.com: Nas intenções de oração deste mês, o Papa Francisco alertou sobre os perigos do mundo virtual e as novas dependências. Como usar esse meio virtual com consciência, e evitar os vícios?

Poliana Landin: Nas novas dependências (internet, redes sociais, jogos online), assim como acontece em outros vícios, existem vários fatores envolvidos para que a pessoa se torne uma dependente e um deles é o componente fisiológico.

O uso de celular para acessar redes sociais, assim como os jogos eletrônicos, estão relacionados à elevação da produção de dopamina e a ativação de receptores de prazer, por isso o desejo de usar mais e mais. Há uma sensação de bem-estar relacionada. Há ainda o fator de interação social que aumenta a sensação de interação ou de contato social (ao postar ou curtir uma foto), ou ainda a sensação de constante alerta, de saber de tudo o que está acontecendo sem perder informações.

Tudo isso é apenas sensação. Se o estar conectado parece lhe trazer um prazer que a vida real em confinamento não lhe apresenta, infelizmente, isso reforça ainda mais o vício.

A junção desses e outros fatores tornam hoje a dependência das novas tecnologias um grande fator de alerta para nossas famílias. Porque o que caracteriza um transtorno em si é quando este comportamento passa a trazer prejuízos e no caso destas novas dependência podemos ter inúmeros: aumento da ansiedade, irritabilidade, mal-estar, angústia quando está desconectado, sintomas físicos como na síndrome do pânico, etc.

Sendo assim, se essa configuração é um prato cheio para as dependências, precisamos pensar em ações de controle.

DICAS:
– Existem aplicativos que possibilitam contar o tempo de utilização do celular por dia, assim como o tempo gasto em cada aplicativo (e-mail, Facebook, Instagram, jogos, etc). Assim conseguimos monitorar e tomar consciência do tempo de utilização. Por estar relacionado ao prazer, as vezes a pessoa usa por horas e parece que foram apenas alguns minutos;
– O celular apresenta recursos de avisar quanto tempo está conectado, alertas que aparecem na tela quando o tempo estabelecido foi atingido;
– Tirar do celular os aplicativos que utiliza excessivamente e que são ladrões de produtividade e serenidade (desinstale os que for possível. Inicialmente terá uma sensação de abstinência, mas ela é passageira);
– Controle de fonte de notícias, para evitar de sempre querer checar, enviar, espalhar ou comentar as notícias, cuidado com as fake news. Tenha fontes confiáveis (sobretudo que nos aumentem a positividade e esperança);
– Não levar o celular para mesa;
– Buscar deixar o celular de lado ao ensinar as tarefas do filho ou ao brincar com as crianças;
– Estabeleça agenda com horários para cada motivo de acesso (horário para ler e responder e-mails, horário para acessar redes sociais e o tempo que ficará). Coloque na agenda e se esforce para cumprir os horários.

noticias.cancaonova.com: Como ajudar a pessoa que tem alguma dessas novas dependências? A família pode ajudar de alguma forma?

Poliana Landin: O diálogo amoroso sempre pode contribuir. A pessoa muitas vezes não percebe que está dependente e pode ser que ao ser apontada para isso, crie um sentimento inicial de confrontamento e depois de culpa.

Por este motivo, o diálogo precisa ter um tom não de julgamento, mas de alerta e com a apresentação de bons motivos para que a pessoa fique mais offline: “Sua companhia aqui nos faz falta, gostamos de ouvir o que você diz, queremos ficar mais com você…”; As dicas anteriores (de alerta e controle de tempo) podem ajudar a pessoa a tomar mais consciência da dependência.

noticias.cancaonova.com: Ultimamente, o acesso ao mundo virtual começa muito cedo, na infância. Isso é saudável? Como os pais devem lidar com essa realidade para evitar uma futura dependência?

Poliana Landin: Salvo alguns momentos de exceção, criança não tem nenhuma necessidade de estar conectada. O acesso a eletrônicos é muito prejudicial a crianças por inúmeros fatores. Eles estão em desenvolvimento fisiológico e social. Criança precisa de brincadeiras para desenvolver sua capacidade cognitiva, de resolver problemas, de criar soluções para as demandas da vida, etc.

Com as telas as crianças ficam em uma postura passiva frente a vida. Recebem um mundo pronto perdem a oportunidade deste aprendizado. Alguns neuropediatras aconselham o uso de no máximo 2 horas por dia (de TV, tablet, vídeos, etc.).

Cabe ressaltar que isso é o limite, ou seja, o ideal é que o acesso seja o menor possível. Não precisamos expor nossos filhos ao risco limite o todos os dias. Por mais que esta pareça uma solução de distração das crianças enquanto os adultos resolvem outras questões, a criança fica mais agitada e irritadiça após acesso às telas, o que trará outros problemas de relacionamentos depois.

noticias.cancaonova.com: Com dependência ou não, o uso da internet é praticamente inevitável, e nestes tempos de confinamento, tornou-se mais intenso. Como as pessoas com este vício devem lidar com esta realidade?

Poliana Landin: Primeiramente é importante a consciência de quão viciante é e de quais prejuízos reais e particulares ela tem com a excessiva utilização (psíquicos, sociais, fisiológicos, etc), assim como quais são os verdadeiros motivos que esta pessoa terá para se esforçar pela reta utilização.

Sem isso muito claro, a pessoa tende a achar que está tudo bem e que não há necessidade de alguma mudança.

Em segundo lugar, estabelecer metas com as dicas da questão 1 de uma forma de utilização mais consciente. Cabe aqui ressaltar que é necessário esforço contínuo. Precisamos fortalecer a virtude da moderação e virtudes morais são conquistadas por esforço (“determinada determinação”).

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