Doutor em Teologia Moral explica porque a gula é um pecado e aponta caminhos para vencer o vício
Kelen Galvan
Da redação
O prazer de comer é algo natural ao ser humano. É o que torna o ato de alimentar-se agradável. Mas esse prazer pode tornar-se um problema quando a pessoa exagera na busca de saciar essa necessidade.
O desregramento desse apetite natural é a chamada gula, que no calendário é lembrada nesta segunda-feira, 26.
Classificada como um pecado capital, por ser um pecado que gera outros, a gula acarreta males à própria pessoa, como doenças ou obesidade. E não só. Esses vícios “contribuem para destruir a harmonia da relação amorosa que deve haver entre a pessoa humana e Deus, a pessoa humana consigo mesma, com o seu próximo e com o mundo”, destaca o doutor em Teologia Moral, padre Wagner Ferreira.
A gula pode estar associada a vários fatores, entre os quais, a busca do prazer pelo prazer ou um desequilíbrio emocional. Nesse último aspecto, o ato de comer pode tornar-se uma compensação, como forma de lidar com dificuldades que a pessoa esteja vivendo. Em todos os casos, será preciso uma ajuda externa, até mesmo uma psicoterapia, explica o sacerdote.
Isso não só porque a gula pode levar a uma atitude viciosa, mas acarretar males à própria saúde e, consequentemente, abalar a relação da pessoa com várias realidades, como no trabalho, com os familiares e assim por diante.
“O pecado se estabelece quando, de forma voluntária, portanto livre, a pessoa busca uma satisfação pessoal, quando ela deveria ter o devido equilíbrio para se alimentar de modo a conservar bem a sua saúde. Ela se deixa dominar por esse desregramento e acaba se tornando escrava desse vício e desrespeitando a si mesma”, esclarece.
Como dominar a gula
O doutor em Teologia Moral explica que um pecado precisa ser combatido com a graça de Deus e com comportamentos virtuosos. Nesse sentido, está a importância da pessoa buscar um comportamento comprometido com o bem moral.
Mas como conseguir isso?
Padre Wagner indica alguns caminhos. Em primeiro lugar, buscar um comportamento ascético, no qual entra, por exemplo a prática do jejum, que é uma forma de “disciplina do próprio corpo”.
“O jejum é uma forma de expressar que a pessoa precisa muito mais de Deus do que do alimento, mesmo sabendo que ela precisa se alimentar. Só que existe um valor maior, um valor transcendental, que é o próprio Deus”, esclarece.
O sacerdote destaca ainda que o jejum é uma forma da pessoa exercitar a caridade, pois a torna mais sensível àquelas pessoas que, na sociedade, estão privadas dos elementos básicos para uma existência digna, como a alimentação, moradia, saúde e educação. “Eu devo também pensar de forma social, no bem da sociedade, sobretudo nos mais necessitados. E aí entra a caridade, a mãe de todas as virtudes. A caridade para com o próximo também ajuda aqueles que vivem o vício da gula”.
Um segundo aspecto indicado por Padre Wagner é viver a Temperança, que segundo o Catecismo da Igreja Católica é “a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados” (cf. nº 1809).
Nesse aspecto, o sacerdote destaca o autodomínio, ou seja, a capacidade da pessoa comer de forma equilibrada para o cultivo da sua saúde, e a preocupação com os mais necessitados.
Outro ponto ainda é buscar o acompanhamento de profissionais da saúde, como médicos e nutricionistas, a fim de perceber o que é o melhor para a saúde.
Por fim, contar com a graça de Deus. Padre Wagner ressalta que a gula traz o malefício espiritual que é o próprio pecado, que revela não só a falta de amor da pessoa para consigo mesma, mas “uma falta de amor a Deus”. E não há como combater um pecado sem a graça de Deus.
“Então a pessoa também deve rezar, buscar os sacramentos da Igreja para que ela possa de fato combater o mal moral que é o pecado”, enfatizou.
Padre Paulo Ricardo dá dica prática para vencer a gula