Especial 80 anos

Membros da RCC destacam influência de Padre Jonas no movimento

História de Padre Jonas e da RCC se fundem

Denise Claro
Da redação

Padre Jonas celebrando a Missa na "capelinha improvisada" na fazenda de Areias, durante os encontros./ Foto: Arquivo Pessoal

Padre Jonas celebrando a Missa na “capelinha improvisada” na fazenda de Areias, durante os encontros./ Foto: Arquivo Pessoal

Nesta quarta-feira, 21, o fundador da Comunidade Canção Nova, Monsenhor Jonas Abib, comemora seus 80 anos. A história de sua vida se funde com a história da Renovação Carismática Católica no Brasil desde os seus inícios, pois o sacerdote foi um dos primeiros a experimentar a graça do Batismo do Espírito Santo.

Era 2 de novembro de 1971. O jovem sacerdote salesiano morava na cidade de Lorena, no interior de São Paulo, quando foi convidado a participar de um encontro com padre Haroldo Rahm, juntamente com outros sacerdotes. É o próprio padre Jonas quem conta a experiência.

“Padre Haroldo falou-nos a respeito do que Deus estava fazendo no mundo por meio da Renovação Carismática Católica. Explicou-nos sobre a Efusão do Espírito Santo; o que eram os dons do Espírito Santo. Realmente não entendi bem o que era a RCC; também não entendi o que era Efusão do Espírito nem mesmo os Dons. Porém, desejei do fundo do coração. Entendi que era o que me faltava!”

Padre Haroldo lembra bem desse dia. “Eu dei a palestra e ao final falei com os padres: Se algum de vocês quer receber a imposição das minhas mãos pedindo o Espírito Santo, venha! Então o jovem Padre Jonas veio e eu pus as minhas mãos sobre ele e pedi para que ele recebesse toda a força do Espírito Santo, pedi sobre ele o Batismo no Espirito Santo. Batizar em grego quer dizer estar imerso, imerso em Deus. E foi isso o que aconteceu com o padre Jonas, depois que impus as mãos sobre ele.”

Padre Jonas relata que naquela noite não conseguiu dormir, e começou a orar como nunca tinha orado antes, uma “oração que vinha de dentro”.

Um mês depois, o jovem sacerdote participou de uma “Experiência de Oração”, em Campinas, também com padre Haroldo. Ali começou a entender o que era a RCC, e acabou trabalhando por muitos anos junto a padre Haroldo.

“Demos muitos cursos juntos, viajamos por todo o Brasil, por mais ou menos cinco anos. Durante a semana dávamos retiros para os padres e freiras e nos finais de semana para os leigos.”

Sobre o legado deixado por padre Jonas, padre Haroldo afirma: “É ser o que ele é: um sacerdote líder na RCC. Mas temos que lembrar que a RCC é uma parte da Igreja Universal, e padre Jonas também neste sentido vive como um padre maravilhoso, com muita santidade e fazendo o que ele queria… cantar toda a vida louvando a Deus”. 

Vale do Paraíba

Padre Jonas pregando no Retiro de carnaval Rebanhão./ Foto: RCC Cruzeiro

Padre Jonas pregando no Retiro de carnaval Rebanhão./ Foto: RCC Cruzeiro

Após a experiência vivida por padre Jonas, a Renovação foi se fortalecendo no Vale do Paraíba, e também se difundindo em todo o Brasil.

Dentre os participantes do movimento naquela época na região, estava Dona Santa.

“Uma vez nós estávamos na Mariápolis e tinha 3 mil pessoas participando. O padre falou: ‘Nossa… será que algum dia na RCC vai ter 3 mil pessoas?’ E eu respondi: ‘O senhor aguarde que vai ter mais!’ Eu nem sei por que falei isso pra ele, mas hoje a RCC tem mais e a Canção Nova também!”

Nascimento também acompanhou padre Jonas nos inícios do trabalho da RCC no Vale, antes mesmo da Comunidade Canção Nova surgir.

“Os Matanathás foram os primeiros encontros. Quem fazia tudo era ele. Ele preparava o local, não tinha equipe definida. Acolhia os jovens quando chegavam e já ia percebendo aqueles que o Senhor queria e ia chamando para ajudar. Eu tive a felicidade de no primeiro encontro que fiz já ser chamado pra fazer parte da equipe. Ao final dos Maranathás recebíamos a Bíblia. Era como se tivéssemos nos tornado evangelizadores. Isso era muito especial.”

Nascimento conta que na época, na cidade de Cruzeiro, só havia um grupo de oração e os jovens ficavam admirados de ver como o padre Jonas pregava e rezava. Surgiram também os encontros de Carnaval chamados de “Rebanhão”.

Depois veio o Catecumenato: “Quando ele nos falou sobre o Catecumenato, nós nos empolgamos muito. Porque além da Missa, da confissão, da Eucaristia, nós não conhecíamos mais nada. E quando o padre disse que seria uma oportunidade de conhecer a Doutrina da Igreja, de receber catequese, muita gente quis fazer, inclusive eu!”

Nascimento conta que o Catecumenato durou um ano inteiro, e acabou culminando no retiro em Queluz em que Padre Jonas lançou o apelo para viverem em Comunidade, na Festa de Cristo Rei: ‘Quem estaria disposto a dar 1 ano da sua vida para Deus?’, do qual surgiu a Canção Nova.

Estrutura dos Encontros

Padre Jonas e seus jovens, no início da Comunidade Canção Nova./ Foto: Arquivo Pessoal.

Padre Jonas e seus jovens, no início da Comunidade Canção Nova./ Foto: Arquivo Pessoal.

Diácono Nelsinho Correa conheceu o Padre Jonas em 1975 em um Maranathá em Areias. “Ele começou uma coisa que perdura até hoje, como aconteciam os encontros: música, oração, palestra, música, oração intervalo… esse esquema de encontro é o esquema de todos os encontros até hoje pelo Brasil afora. Quem começou foi o padre Jonas.”

Nos Rebanhões e Cenáculos, desde o final da década de 70, o jovem Nelsinho acompanhava o padre Jonas.

“O primeiro rebanhão foi um dia em cada cidade, foi um trabalho medonho… mas foi ele quem deu o nome de rebanhão porque dizia “vai chamar muita gente”. Ele inovou porque até então os encontros de carnaval eram retiros de silêncio em mosteiros, retiros inacianos, retiros de reflexão. E esse padre Jonas inventa de pegar uma banda, põe numa quadra em dias de carnaval… os jovens ficaram encantados. Nos anos 80, quando começou o rebanhão também começaram os cenáculos em SP. Eu fui em todos com ele. Então a gente animava 120 mil pessoas. Chegavam a pedir pra não ir mais gente porque não cabia mais. Mas quando o padre Jonas entrava, o povo fazia silêncio”.

Incompreensões

Padre Jonas pregando no Rebanhão, na cidade de Cruzeiro (SP)./ Foto: RCC Cruzeiro.

Padre Jonas pregando no Rebanhão, na cidade de Cruzeiro (SP)./ Foto: RCC Cruzeiro.

A trajetória de padre Jonas com a RCC não foi fácil. Sua luta pelo movimento, a difusão dos encontros e dos grupos, a criação da própria comunidade foi um desafio.

“Foi muito criticado na época porque as pessoas eram acostumadas com a CEB’S.”- lembra Diácono Nelsinho.- “mas muitas vocações nasceram desses encontros, o próprio padre Marcelo Rossi foi tocado em um desses encontros grandes.”

Padre Pedro Paulo, da diocese de Lorena, acompanhou este período, e também relata como foi. 

“A Canção Nova foi muito mal interpretada nos inícios, o padre Jonas para nós é como uma tábua, isso porque ele sempre estava à frente, era a primeira pessoa a tomar pancadas. No início, enfrentávamos aqui no Brasil o movimento da Teologia da Libertação voltada mais para o social. Neste ínterim nasce a RCC onde se volta mais para a espiritualidade. Imagine em meio a tudo isso a RCC falando em dons de línguas, de curas, de milagres. Era um escândalo para as pessoas este modo de ser dentro da Igreja. Mas o testemunho pessoal dos carismáticos fez com que esta visão mudasse. Hoje no Brasil, mesmo quem não gosta da renovação, admite o bem das novas comunidades.”

Para padre Pedro Paulo, padre Jonas foi um profeta, também em relação à RCC. “Padre Jonas dizia que a RCC seria acolhida pelo Papa. Olha o que tem acontecido com o Papa Francisco: Ele falava isso a 20 anos atrás! Você não via nada disso que ele profetizava, nós víamos o contrário, a perseguição e não aceitação por parte da Igreja. Ele falava que a RCC seria acolhida, falava que as comunidades seriam multiplicadas. Víamos falar isso fora do Brasil, mas não aqui no Brasil propriamente. Hoje temos em todas as dioceses comunidades. Tudo isso mostra que o padre é de fato um profeta.”

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