A palavra “apócrifo” significa “escrito secreto, reservado, oculto, não lido publicamente”. Os livros apócrifos não fazem parte do cânon – lista oficial de livros inspirados – da Bíblia Sagrada. O conteúdo de alguns deles pode ser considerado ao máximo como um auxílio para entender alguns detalhes históricos, não de fé.
De acordo com o padre Antônio Xavier, mestrando em Sagradas Escrituras e sacerdote da Comunidade Canção Nova em missão na Terra Santa, eles nunca foram considerados inspirados pela Igreja, porque alguns apresentam conteúdo herético, ou seja, com erros de fé, outros distorcem informações históricas e alguns não possuem uma real utilidade.
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A leitura destes livros não é proibida pela Igreja. No entanto, padre Xavier destaca que os fiéis que quiserem ler este material devem fazê-lo com certa cautela, conhecimento prévio do assunto tratado no livro e uma formação boa da doutrina católica.
“Os livros apócrifos podem ser lidos sim, mas não como livros inspirados. A Igreja não proíbe a leitura dos apócrifos, mas não os ensina para evitar que as divergências contidas neles possam gerar confusão de fé na cabeça das pessoas. Eu, pessoalmente, desaconselho a leitura de apócrifos sem uma prévia leitura de uma boa crítica sobre eles e uma prévia leitura dos evangelhos canônicos, para evitar que se termine com as ideias mais confusas do que claras”, disse.
A utilidade dos livros apócrifos para a Igreja está no auxilio que alguns podem dar para melhor compreensão de detalhes históricos. Trata-se apenas de um uso para estudo, não na liturgia, e muito menos de uso catequético.
O padre explica que como alguns deles tendem a preencher lacunas dos livros canônicos, podem representar ao menos uma pista para recuperar uma informação antiga, como o trajeto feito pela Sagrada Família quando foram para o Egito, e etc. “Mesmo os que são heréticos, erram em dados de fé, mas podem conter informações históricas que podem ser investigadas posteriormente”.
Como discernir se um livro é apócrifo ou não?
Uma das questões presentes na discussão sobre os livros apócrifos está na sua origem. Para a Igreja Católica, eles não são escritos inspirados por Deus. Segundo o padre Xavier, os critérios utilizados para discernir quanto à inspiração dos livros do Novo Testamento são baseados nos padres apostólicos, utilizados desde o primeiro século do cristianismo.
De acordo com o padre, foram quatros os critérios utilizados: o livro deveria ter origem apostólica, ou seja, ter sido escrito por um apóstolo ou escrito durante o período de vida dos apóstolos por alguém que tivesse convivido com algum; não poderia conter contradições de fé em relação aos demais livros considerados sagrados. Além disso, deveria ser capaz de conduzir a uma relação especial com Deus, ou seja, por si só ser capaz de gerar, reforçar e amadurecer a fé e ter sido aceito pela Igreja primitiva em sua liturgia.
O cânon da Bíblia
Já os livros canônicos, embora sejam de inspiração divina, foram escritos por mãos humanas, fruto de um longo período histórico de amadurecimento da fé, explica padre Xavier.. “Enquanto a fé da comunidade não era madura o suficiente, o Espírito Santo não inspirou a escrita, para dizer que um livro da Sagrada Escritura é sempre inspirado em um ambiente saudável de fé”.
Para a Igreja, a inspiração divina sobre a Bíblia se distingue da chamada inspiração divina contida em outros escritos (textos espirituais, catequeses, homilias, e etc). “Para estas, o homem de fé se inspira na Bíblia e depois a explica, sem acrescentar e sem contradizer, por meio da arte, seja falada, escrita, construção de ícones e etc”.
Durante a entrevista, feita pelo noticias.cancaonova.com ao padre Xavier, ele também explicou como os protestantes veem os livros apócrifos. Além disso, o sacerdote dá outros detalhes sobre os dados históricos destes livros, a origem de sua inspiração e apresenta uma lista dos livros apócrifos. Leia a íntegra da entrevista.