Artigo Frei Moser

Jogos Olímpicos: A Pira está acesa

"Rio de Janeiro", esse nome proclamado com um acento típico de quem não fala nossa língua, fez o Brasil inteiro vibrar. Finalmente, ainda que só em 2016, nós iremos sediar os Jogos Olímpicos e Para Olímpicos. E isso precedido pela copa do mundo no futebol, só veio reforçar o justo orgulho de sermos brasileiros, uma nação abençoada por Deus sob os mais diversos aspectos.

Acontece que, como várias personalidades ressaltaram, preparar eventos de tamanho porte não se traduz logo como êxito. O êxito vai depender de muitos fatores, uns que remetem diretamente para nossa responsabilidade, e outros que fogem do nosso controle imediato. Por isso mesmo ao lado dos sentimentos de alegria e de ufanismo, convém colocar logo as marcas de muitas preocupações. Ainda mais que mesmo em Olimpíadas recentes enumeram-se várias que se transformaram em peso para seus promotores.

Uma coisa parece certa: uma vez mais o Brasil se encontra diante de um desafio, desta vez de magnitude inédita. E uma vez mais as cores da bandeira nacional se misturam às cores sombrias de marcas que caracterizam o Rio de Janeiro, e de alguma forma todo o Brasil. Basta lembrar algumas sombras que pairam sobre o Rio de Janeiro: tiroteios diários; multiplicação de favelas; trânsito cada dia mais confuso, que transformam qualquer passeio numa verdadeira tortura. E isso sem falar dos maus odores que brotam um pouco de toda parte.

Ora, essas sombras não podem ser apagadas com uma simples maquiagem. É que elas remetem para fatores histórico-culturais, econômicos, políticos e sociais. Se o Brasil não quiser ver a chama Olímpica apagar-se, deixando atrás de si traços esfumaceados, precisa não apenas de grandes investimentos. Precisa de uma super organização que nem sempre é nosso forte.

E quem fala de super organização está falando da necessidade de se chegar à raiz dos problemas da pobreza, da poluição, da violência. E essas raízes são tão profundas que resistem a qualquer ufanismo superficial. Para arrancá-las se requer honestidade intelectual e busca da verdade. E a verdade é que ao longo de nossa história nem sempre as promessas se traduziram em empenho sério para detectar e superar os problemas. Até pelo contrário, estamos mais do que habituados a varrer tudo isso para de baixo do tapete, numa espécie de faz de conta.

Mas há algo que preocupa ainda mais. Eventos desse porte pressupõe bilhões de investimentos. O problema não se encontra na necessidade de investimentos, nem na busca dos enormes recursos previsíveis. O problema se encontra numa quase constante histórica onde grandes obras quase sempre se conjugam com grandes desvios de verbas. É melhor nem nomear obras que serviram de verdadeiros “valeriodutos”. O difícil é enumerar algumas onde não se verificaram esses desvios.

Por isso mesmo, a Copa do Mundo e as Olimpíadas vão se constituir num verdadeiro teste ético. A grande questão não é aquela que diz respeito ao número de medalhas que certamente iremos colecionar. A grande questão pode ser assim formulada: será que ao menos dessa vez grandes realizações não irão se conjugar com grande corrupção:

A pira olímpica está acesa. Trata-se de uma oportunidade ímpar para que o Brasil desminta para todo sempre uma frase que fere profundamente nossos brios, mas que não deixa de ter uma boa dose de verdade. A frase foi pronunciada pelo General De Gaulle: “O Brasil não é um pais sério”. Nosso grande desafio para manter eternamente acessa a pira olímpica passa por aqui. Ou damos provas concretas de que De Gaulle estava errado, ou teremos de carregar essa maldição por mais tempo ainda. Todos torcemos para que essa oportunidade ímpar seja aproveitada e essa mancha seja definitivamente apagada de nossa bandeira.

Siga o Canção Nova Notícias no
twitter.com/cnnoticias
Conteúdo acessível também pelo iPhone –
iphone.cancaonova.com

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo