Irmã Dulce será a primeira santa brasileira; padre e diácono que vivem na Bahia dizem que é grande a expectativa para este acontecimento
Denise Claro
Da redação, com colaboração de Jéssica Marçal e Lizia Costa
Em todo o Brasil, mas especificamente na Bahia, é grande a expectativa para a canonização de Irmã Dulce que acontecerá neste domingo, 13, no Vaticano.
Irmã Dulce nasceu em Salvador, em um bairro simples, e gastou toda a sua vida pelo povo mais necessitado. Muitos são testemunhas de que a religiosa não negava ajuda a ninguém que pedia. Sua fama de santidade e serviço se espalhou pelo Brasil e pelo mundo, tanto que foi visitada por Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II.
Padre Dimas Moreira é capelão da Polícia Militar da Bahia e afirma que é grande a expectativa dos baianos para a canonização. “Esperamos de uma forma muito convicta porque Irmã Dulce representa muito para a Bahia, para o Brasil, mas especificamente para nós baianos, toda a sua história, a sua vida de santidade, de caridade, foi uma mulher que entendeu o sentido da sua vida. Nos sentimos muito felizes e ao mesmo tempo esse acontecimento nos impulsiona. Se ela viveu com as suas fragilidades humanas a santidade de uma forma tão intensa, nos sentimos impulsionados por este exemplo de vida, de doação, com certeza se torna para nós um modelo de santidade muito vivo na Bahia.”
O diácono Eduardo Jorge de Oliveira, que também é médico cardiologista, conheceu Irmã Dulce quando era menino. Ele conta que sua mãe era professora em uma escola que tinha convênio com as Obras de Irmã Dulce, e que sempre o incentivava a pedir a benção para a religiosa.
“Sabia que se tratava de uma pessoa especial porque a bondade é uma coisa que transpira, você percebe. E pela própria fragilidade dela você pensava assim… ‘uma senhorinha dessa, desse tamaninho, que anda tão devagarzinho, curvadinha, como que ela faz isso tudo?’ Ela devia estar se cuidando, se tratando, e não cuidando dos outros. Eu vejo hoje que nitidamente era Deus que sustentava a obra de Irmã Dulce, porque sozinho ninguém faria aquilo. O hospital é gigantesco, então era a mão de Deus através de uma pessoa.”
Diácono Eduardo diz que em todos os locais nas obras está a foto de Irmã Dulce, como se dissesse: ‘Eu continuo presente’. E as pessoas continuam formando filas para serem atendidas nos hospitais da Obra de Irmã Dulce, onde o atendimento é 100% SUS.
“Eu sou médico e a gente vê que existe uma carência muito grande. Nós somos muito carentes, a nossa população é muito carente, e o SIM de Irmã Dulce consegue ainda hoje atingir tantas pessoas que não encontram lá somente ajuda material, mas também espiritual. As religiosas, os voluntários fazem bem este trabalho e até colegas meus médicos, que nem são católicos, que diziam: “Eu não sou católico, mas ‘a velha’ é diferente (risos). Santa Dulce dos pobres é diferente, porque ela deixou Deus viver nela plenamente.”
Para o cardiologista, o povo baiano e, em sua totalidade, o povo brasileiro fica muito orgulhoso de ter uma pessoa como eles recebendo a honra dos altares. “Irmã Dulce nos mostra que a santidade é possível para mim e para você. No dia 20 haverá uma cerimônia em Salvador, na Arena Fonte Nova, onde cabem 45 mil pessoas. Mas eu tenho certeza, se fosse na rua, não daria menos de 1 milhão. Irmã Dulce era uma pessoa que nasceu no nosso meio, nasceu numa rua simples lá no bairro do Barbalho. Sou eu, é você, todos somos chamados a ser santos. E o caminho da santidade nos foi explicado pelos santos, em especial agora, por Santa Dulce dos pobres. Tão pequeninha, tão fragilzinha, poderia se esconder na sua fragilidade e dizer: sou professora. Vou dar minhas aulas, vou me aposentar, poderia ser santa por esse caminho também, mas Deus colocou nela um chamado maior, e ela disse sim.”
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Canonização de Irmã Dulce
O postulador do processo de canonização de Irmã Dulce, Paolo Vilotta, afirma que justamente é essa fragilidade a marca de Deus na religiosa.
“Em poucas palavras, ou em uma palavra eu diria… Ela, em sua baixa estatura, era uma gigante da caridade. Ela dedicou toda a sua vida ao amor pelo próximo olhando sempre para Deus, portanto, em tudo o que fazia exprimia este grande amor. Em cada enfermo ela via Cristo.”
Vilotta comenta a realidade da Igreja em Salvador, que cresceu em meio ao sincretismo e à presença de diversas outras religiões. “A postura de Irmã Dulce sempre foi muito respeitada, e nunca de confusão. O acolhimento aos pobres, à pessoa necessitada, prescindia da religião, ela olhava antes de tudo para a pessoa. Ela não teve oposições, mais que isso, ela pôde realizar a sua obra com grande respeito de todos. Isso é evidente ainda hoje, pois são muitos os representantes de diferentes culturas e religiões que festejam este acontecimento (canonização).”
Para o italiano, Irmã Dulce se torna, hoje, um exemplo para o seu Brasil e para o mundo inteiro em seu amor por Cristo, pela Igreja e pelos mais pobres. “Ela fazia isso cotidianamente com todas as pessoas. Seja quando recebia benfeitores importantes que poderiam ajudar a obra, seja com todos os necessitados. Não se poupava por causa de uma oração ou um conforto espiritual e são numerosos os testemunhos.”