Em entrevista exclusiva ao Canção Nova Notícias, o pesquisador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Kleber Naccarato, é taxativo: "A possibilidade de um raio ter sido o causador da queda nas linhas de transmissão é muito pequena, praticamente nula".
Com base nos dados disponibilizados pelo governo, os estudos do Elat indicaram que a atividade elétrica atmosférica mais intensa foi registrada a cerca de 30 quilômetros de distância da subestação de Itaberá. Ali fica uma das três linhas de transmissão que, segundo o Ministério de Minas e Energia, teriam caído e causado o blecaute que atingiu 18 estados brasileiros e o Paraguai. Os outros pontos corresponderiam às subestações localizadas nos municípios de Ivaiporã (PR) e Tijuco Preto (SP).
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Inpe ressaltou que houve, de fato, considerável atividade elétrica no sudoeste de São Paulo. "Mesmo assim, as descargas foram abaixo de 20 mil ampéres. Seria necessário uma carga, no mínimo, cinco vezes mais forte para que as descargas elétricas pudessem ser uma hipótese mais concreta", complementa Naccarato.
Em boletim, o Elat explica que "a baixa intensidade da descarga registrada (menor que 20 kA) não seria capaz de produzir um desligamento da linha, mesmo que incidisse diretamente sobre ela, como também confirma a Rede Brasileira de Detecção de Descargas (BrasilDat), que estava no momento do apagão operando com ótimo desempenho. Em geral, apenas descargas com intensidade superiores a 100 kA, atingindo diretamente uma linha, podem causar um desligamento de linhas de transmissão operando com tensões tão elevadas como as linhas de Itaipu (duas de 600 kV e duas de 750 kV)".
"Análise sem dados é irresponsável", indica engenheiro
O doutor em Engenharia Elétrica e professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Laurence Duarte Colvara, indica que “avançar com hipóteses e conjecturas sem dados técnicos precisos, sobre um assunto desta envergadura, é irresponsável”. Segundo Laurence, tanto uma falha no sistema de transmissão entre a Usina de Itaipu e o restante do Sistema Interligado Nacional (SIN) quanto a alta incidência de descargas elétricas são hipóteses factíveis.
“A geração de Itaipu atende a uma parcela importante da demanda brasileira. Na falta intempestiva da produção da Usina, o sistema fica inesperadamente deficitário e outros desligamentos podem ocorrer devido a sobrecargas, o que pode ocasionar um blecaute com as proporções do ocorrido”, explica o professor engenheiro.
Já a possibilidade de descargas elétricas da atmosfera terem ocasionado falhas no sistema também existe, embora com uma probabilidade muito pequena. “Mas não é impossível. Há o dado de fontes meteorológicas confiáveis de que, de fato, houve, naquela região [subestação de Itaberá] e naquele momento, altíssimo índice de descargas atmosféricas. Portanto, pode-se considerar fortemente a hipótese de uma (ou mais) descarga atmosférica ter sido a origem do distúrbio que levou ao blecaute”, explica Laurence. E acrescenta: “É importante considerar que dificilmente apenas esta contingência tenha determinado todo o ocorrido; muito provavelmente, outros eventos contribuíram para isso”.
Para evitar que fatos como esse aconteçam novamente, o professor afirma que é preciso um estudo detalhado, com base em análises técnicas especializadas, que indique os procedimentos necessários em caso de haver um cenário semelhante.
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