Nesta tarde, durante a 46º Assembléia dos Bispos, em Indaiatuba (SP), Dom Benedito Beni, Bispo da Diocese de Lorena (SP), afirmou em entrevista coletiva à imprensa: “A Igreja precisa estar em permanente estado de missão, pois é ela que prepara e envia missionários”. Participaram também da coletiva Dom Antônio Celso de Queirós, Bispo de Catanduva (SP) e presidente da Comissão de Elaboração das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e Dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho (RO).
A coletiva abordou o tema central da assembléia que são as Diretrizes da Ação Evangelizadora. Os bispos estão elaborando um texto com as diretrizes de evangelização para o País.
Explicando o esquema principal do texto, Dom Beni contou que será um documento breve, com apenas cinco capítulos. E resumidamente falou um pouco de cada capítulo.
Dom Beni explicou que o primeiro parágrafo é uma introdução que trata da alegria em ser discípulo e missionário de Jesus Cristo, da alegria que vem por causa da missão de levar a salvação de Jesus a todas as pessoas. “Sem alegria ninguém pode ser verdadeiro discípulo e missionário”, afirmou.
O segundo capítulo apresenta uma visão da realidade atual, porque para a Igreja precisa conhecer bem os desafios existentes no mundo para evangelizar. O terceiro capítulo procura dar uma resposta a estes desafios. “E a resposta é a Igreja que deve colocar-se em permanente estado de missão. É a Igreja que prepara e envia missionários”, destacou.
O capítulo seguinte fala da prática, abordando três aspectos: a pessoa, a comunidade e a sociedade. Dom Beni ressalta que todo documento direciona para o capítulo cinco, que refere-se à missão continental da Igreja.
Balanço da aplicação das diretrizes
Segundo Dom Beni, a CNBB realiza periodicamente um balanço da aplicação das diretrizes, e estas têm mostrado sua eficácia no Brasil, pois “colaboraram muito para criar uma consciência missionária. Um exemplo é que cada diocese têm olhado para outras dioceses do País e tem procurado ajudar. Missionários estão sendo enviados para o exterior. “Tudo é fruto dessa consciência missionária”, disse.
Até mesmo quanto ao número de católicos no Brasil, pode-se verificar estes frutos. No período de 1990 a 2000, houve um grande êxodo dos católicos da Igreja e, agora, estatísticas de 2002 mostram que este êxodo parou. E ainda mais, o número de pessoas que diziam não pertencer a nenhuma religião caiu de 8% para 6%.
Conjuntura Análise Sócio-Politica
Dom Celso explicou que a grande realidade que estamos vivendo é de transformação profunda. O Documento de Aparecida usa, até mesmo, a expressão forte, mas verdadeira: “Não estamos em mudança de época, mas em uma época de mudanças”.
“Há questões muito fortes sendo mudadas na família, na escola, na Igreja e no governo. Essa realidade socioeconômica cultural e individualista de gozar a vida dá é contraditório ao discurso de Jesus, que disse: ‘Onde dois ou três estão reunidos eu estou com Ele”. Então no individualismo, Deus não está'”.
“Ninguém sabe para onde o mundo está caminhando. Isso significa que é preciso saber como anunciar Jesus Cristo nessa realidade. Há um desafio sobretudo em na forma de falar à juventude. Hoje nem mesmo os pais sabem como falar com os jovens”, disse Dom Celso.
“Dizem os entendidos que a última vez em que isso aconteceu foi no séc. XVI, da passagem da idade média para a moderna”, reiterou.
Formação dos católicos
Dom Celso falou da importância de uma boa formação aos católicos, afirmando que se cada diocese formasse cristãos conscientes, eles seriam fermento de transformação no mundo. “Atualmente há pessoas com boa formação cristã inseridas nos mais diversos lugares da sociedade, um exemplo, é um grupo de 40 políticos que se reúnem em Brasília, todos os meses, para partilhar, rezar juntos e celebrar a Eucaristia”.
“É uma preocupação da Igreja possibilitar aos cristãos conteúdo em sua formação. Como esperar que um cristão que recebeu o catecismo, apenas nos primeiros anos de vida, possa manter sua fé e sobretudo ser missionário dessa fé no mundo?”, afirmou levantando a questão.
“Não temos encontrado um caminho muito fácil para isso, mas já surgem aspectos novos como o estudo da teologia que, antigamente, era feito só pelos seminaristas e hoje temos até mulheres, que são doutoras em teologia. São aspectos positivos”, destacou.
Evangelização das Novas Comunidades
Dom Beni recordou que muitos cristãos são formados pelos movimentos e novas comunidades que estão florescendo na Igreja. “Aqui está um ponto novo. Por isso, Roma está procurando valorizar muito estes movimentos e novas comunidades”.
O Documento de Aparecida abriu um grande espaço dentro da Pastoral da Igreja, inclusive afirmou que é preciso que estes movimentos sejam uma pastoral integradora.
Corrupção política
Sobre este assunto, Dom Celso, explicou que a corrupção não está apenas na política, mas também na sociedade, com o “jeitinho brasileiro”, como dizem. “A corrupção não é um fenômeno da política, mas da sociedade”, ressaltou.