Temos a alegria de ouvir hoje, meus queridos irmãos, o Senhor Jesus nos falar de algo que Ele conhece bem por experiência: o jeito de agir do Seu Pai. De fato, na primeira frase do trecho do discurso do pão da vida – “Ninguém pode vir a mim se o Pai não o atrai” –, João usa um verbo relativamente raro para exprimir a palavra “atrai”. No Novo Testamento, aparece 6 vezes (5 em São João e uma vez no Ato dos Apóstolos), o sentido daquela palavra que traduz ‘atrai’. No trecho: “no jardim das Oliveiras, por ocasião da prisão de Jesus, Pedro puxou a espada”; mais para frente, quando Jesus se manifesta aos apóstolos desiludido após a morte de Jesus e vão pescar, eles duas vezes repetem a frase “puxaram a rede cheia de peixes”. Nos Atos dos Apóstolos, a única vez em que aparece o verbo usado por São João, Paulo expulsa o demônio de uma mulher que dava lucro aos seus patrões; o povo, então, quer apedrejar Paulo e usa o verbo “arrastaram Paulo para a praça”. Quatro dessas seis vezes são ações até um pouco violentas, fortes. João as usa duas vezes no mesmo sentido: “o Pai que ‘atrai’ para o Filho” e “Jesus, quando é levantado, ‘atrai’ todos a si”.
Meus queridos irmãos, desconstruindo este discurso, percebemos que se trata de uma ação do Senhor Deus, é iniciativa eficaz d’Ele. Tocando essa palavra, em que o Senhor toma iniciativa para falar, já se exclui um conceito mágico de O manipularmos; não somos nós os protagonistas, pois a ação é do Senhor, é gratuita, livre. Ele a faz porque quer, com toda liberdade. Então, nós nos perguntamos: “Se uma ação do Senhor Deus é eficaz e faz você agir – São Paulo chega a dizer que vem de Deus o pensar e o agir –, onde fica a liberdade? Santo Agostinho vai resolver o problema, interpretando-o de uma maneira muito simpática. Ele diz: “Você é livre quando é atraído pela doçura do mel.” Uma criança é conquistada e vai livremente até uma pessoa que lhe oferece alguma coisa doce. Assim, completamos essas categorias de São João com os textos dos profetas, como de Oséias, por exemplo, que fala de sedução. O profeta Jeremias também fala que o Senhor conquista com a Sua ternura. Aquele verbo ‘atrair’ de João carrega em si um conteúdo muito rico.
Nesta manhã, meus queridos irmãos, numa Assembleia dos Bispos, ficaríamos decifrando e interpretando tantas coisas das nossas vidas. Nós detectamos uma ação muito sutil, quase sedutora em relação a nós, e, quem sabe, nós até nos revoltemos. Mas longe de nos revoltarmos contra Aquele que nos fez cair em Sua rede, nós agradecemos por um grande amor que precedeu as nossas escolhas.
Paulo, também querendo decifrar o que aconteceu na estrada de Damasco, descobre que foi Aquele que já o tinha separado desde o seio da mãe e que o chama gratuitamente, estava revelando Seu Filho em Paulo. Na Carta aos Filipenses, Paulo diz: “Ele quer alcançar o Filho ressuscitado. Então, chega à conclusão de que o Filho ressuscitado já o alcançou”.
Assim, nós concluímos, abençoado Senhor Deus. Bendito seja o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais no céu, em Cristo. Amém.
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