Meus estimados irmãos bispos, sacerdotes, diáconos, religiosas e religiosos, irmãos leigos, na nossa Assembléia Geral, estamos elaborando e aprovando as diretrizes e outras iniciativas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para que nos ajude a acolher bem a proposta da Conferência de Aparecida e a responder, adequadamente, aos desafios do momento para a evangelização da Igreja.
Nós queremos ser, mais e melhor, uma Igreja discípula e missionária de Jesus Cristo, queremos e precisamos ser uma Igreja que se coloca em estado de missão para responder ao encargo que recebemos de Jesus Cristo Nosso Senhor.
A primeira leitura desta Missa, tomada pelo Ato dos Apóstolos, mostra-nos o apóstolo Felipe em plena missão. O anjo de Deus o chama e o convida a sair de Jerusalém e ir ao encontro de um viajante na estrada de Gaza. O diálogo entre os dois nos lembra o catequista com o catequizando: “Compreendes o que estás lendo?” – perguntou o discípulo. “Como posso compreender, se ninguém me explica?” – respondeu o viajante. A pedagogia da fé precisa de um pedagogo, a Palavra de Deus precisa ser anunciada e acompanhada pelo testemunho da fé do pregador, do catequista, do discípulo. Felipe é o discípulo que já compreende, por isso pode explicar e compartilhar a sua fé cm o etíope; pode fazê-lo porque, ele mesmo, já conhece Jesus. O apóstolo viu, no rosto humano de Jesus, o rosto do Pai. Ele aprendeu, de Jesus, a conhecer a vontade de Deus, a amar o Deus salvador que se manifestava em Jesus diante dele. Felipe esteve com Jesus, o Mestre e Revelador do Pai.
Esta é a missão dos discípulos, dos missionários, dos bispos, dos padres, dos religiosos, de cada batizado também hoje. O eunuco creu e pediu o batismo. Depois, prosseguiu sua viagem, cheio de alegria, pelo mundo afora. Felipe, no entanto, continuou sua missão em outros lugares para aonde o enviou o Espírito de Deus.
Neste ano, várias igrejas particulares do Brasil celebram o seu jubileu de 25, 50, 100 anos de criação. Aqui também foi associada a diocese de Vitória da Conquista (BA), também ela cinqüentenária. São as dioceses que lembram o início de sua criação como um ato importante do seu caminho, de sua missão. Lembro, de modo especial, as nove dioceses centenárias, porque a sua criação está relacionada a uma situação histórica muito especial da Igreja em nosso país. Até 1889, ano da República, havia, no Brasil, apenas 12 dioceses; hoje, são 271. Com o fim do padroado, que ligava a Igreja ao Estado e a colocava sob a tutela deste, a Igreja ganhou liberdade para cuidar melhor de si mesma e da sua missão.
A criação de novas dioceses iniciou-se, imediatamente, depois da Proclamação da República, em 1892; e, no início do século XX, multiplicou-se, rapidamente, sob os cuidados pastorais do papa São Pio X. A Igreja no Brasil começava a se organizar melhor, a ter melhor estrutura para atender a evangelização, a ter uma presença visível mais adequada no extenso território junto da população que vinha aumentando. Em relação à cidade São Paulo, em 1989, ano da República, a diocese de São Paulo, criada em 1745, abrangia todo o Estado de São Paulo, Paraná, boa parte de Santa Catarina, o sul do Mato Grosso e o sul de Minas Gerais. Como pode um bispo atender a tanta gente em tão extensas áreas territoriais? Hoje, existem 53 circunscrições só no Estado de São Paulo. No dia 7 de junho de 1908, o papa Pio X criou 5 novas dioceses no Estado.
Centenários que nós estamos celebrando: Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e Taubaté. Ao mesmo tempo, elevava a cidade paulistana em sede metropolitana.
Temos muito a agradecer a Deus pelos grandes pastores que serviram nossas igrejas particulares antes de nós. Agradecemos aos sacerdotes que deram suas vidas pelas igrejas particulares, pela evangelização, pelos missionários que aqui vieram, acompanhando os imigrantes e cuidando da formação religiosa do nosso povo. Agradecemos também ao bom povo que nos trouxe sua fé e transmitiu, aqui, a sua religiosidade aos filhos e netos.
A celebração dos jubileus é ocasião para fazer memória do que Deus fez por nossas Igrejas. Nós podemos fazer, naturalmente, isso sempre; não apenas em ocasião de jubileus. É momento de ação de graças e de expressar um novo compromisso com a missão que, hoje, está em nossas mãos.
Queremos fazer nossa parte para que a missão da Igreja prossiga bem e com frutos também nos novos tempos e nas novas situações sociais. Recebemos também a herança de um rico patrimônio de fé e de vida eclesial daqueles que nos precederam. Queremos acolhê-lo e vivê-lo com alegria, transmitindo isso às novas gerações, como nos pede o episcopado reunido na Conferência de Aparecida.
Deus abençoe ricamente nossas Igrejas jubilares e cada uma de nossas igrejas particulares. Que o apóstolo São Paulo, já próximo de iniciar o seu jubileu bi-milenário, interceda por todos nós, nos anime na missão e ensine a sermos ardorosos discípulos e missionários que a Igreja precisa. Amém.