Especialista lembra que a amizade não é um contrato
Élison Santos*
Quantos amigos você tem?
Quantos amigos você tem? Certamente você já ouviu esta pergunta e passou pela situação de ter que pensar antes de responder. A primeira dúvida que vem à mente é sobre o significado da palavra amigo, alguns nomes surgem e você se pergunta se este ou aquele realmente podem ser considerados amigos. Quais os critérios que você utiliza para definir quem são seus amigos? De fato, por mais que pensemos, geralmente escolheremos chamar de verdadeiros amigos àqueles em quem podemos confiar de verdade, você pensa em todos seus segredos, seus sentimentos mais íntimos, as situações de risco em que já esteve e que poderá um dia estar e pergunta-se para quem pode ligar e com quem pode contar.
A amizade, ao contrário dos vínculos de sangue, pode ser escolhida; mas ao mesmo tempo, por mais que você tente encontrar um verdadeiro amigo, perceberá que o que faz com que você esteja ligado, vinculado a alguém pela amizade é sua capacidade de ser amigo. E o que é ser amigo?
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Segundo Epicuro, “a necessidade de não ser agredido determina um contrato que instaura uma segurança calculada; isto é o direito, que rege a não-agressão recíproca entre pessoas, que, precisamente, não são amigas. A amizade é outra coisa completamente diferente: ela não é contratada, sendo mais essencial do que o cálculo. Ela também proporciona segurança, naturalmente, e bem maior do que aquela que é proporcionada pelo pacto social. Entre amigos, a noção do justo não tem mais lugar; não por irrupção da injustiça, é claro, mas pela superação do cálculo sobre o qual se fundam os contratos”.
A amizade é um vínculo que reside na capacidade humana de amar, está além da lógica do cálculo e muito além do direito, tem suas raízes não no material, mas no espiritual. O amor que rege a amizade era concebido pelos gregos pelo termo philia, um amor solidário. O amor é capaz de captar o outro em sua essência, percebe não apenas o que se vê ou como o outro se mostra, mas enxerga além, vê suas potencialidades e fará de tudo para que o amigo venha a ser tudo ou quase tudo que pode ser.
Talvez, por isso, ao continuar nosso exercício mental de encontrar quais são os nossos verdadeiros amigos, percebemos que algumas vezes aquele a quem consideramos cometeu erros, infidelidades e nem sempre foi o amigo que queríamos. Assim compreendemos que os verdadeiros amigos não são as melhores pessoas do mundo, mas aquelas a quem aprendemos a amar e por isso podemos perdoar e escolhemos confiar. A amizade parte de nós, não somos agraciados pela vida por merecermos um amigo, mas pelo fato de encontrarmos alguém para amar, pois no fundo o que buscamos no outro é que ele considere nosso amor, aceite nossa amizade, é assim que nos realizamos como pessoas.
“A amizade, continua Epicuro, está além do acordo contratado. […] Ela é uma lei do ser-sábio. Ela implica que cada um encontre nela o desabrochar de sua própria sabedoria, na companhia de vários indivíduos, iguais, tornados homogêneos por uma felicidade comum”.
Quando alguém lhe perguntar quantos amigos você tem, antes de pensar em quem você pode confiar, pergunte-se quantas pessoas confiam em você!
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* Élison Santos, Psicólogo e Palestrante. Atende adultos e adolescentes e é Terapeuta de Casais em São José dos Campos. Realiza aconselhamento psicológico Online através do Skype. É especialista em Análise Existencial e Logoterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Curitiba. Oferece Cursos Online sobre relacionamento e comportamento humano em sua página www.elisonsantos.com. É participante do Programa Trocando Ideias.