Na última catequese, em 5 de janeiro, Papa Francisco falou sobre a figura de São José, pai adotivo de Jesus
Denise Claro
Da redação, com colaboração de Joyce Mesquita
Na última catequese, em 5 de janeiro, o Papa Francisco destacou a figura de São José, pai adotivo de Jesus, e aproveitou para falar sobre a adoção.
“Penso, em particular, em todos aqueles que se abrem a acolher a vida através da adoção, que é uma atitude tão generosa e positiva. José mostra-nos que este tipo de vínculo não é secundário, não é uma alternativa. Este tipo de escolha está entre as formas mais elevadas de amor e de paternidade e maternidade”, disse o Papa.
São muitos os casais que encontram, nesta decisão, a plenitude e a completude de suas vidas, de sua missão.
O casal Nayane e Robson Godinho, de Ouro Branco (MG), adotou o filho Samuel com 6 meses de idade. Dez anos depois, o casal engravidou de Gabriel. Eles contam que a adoção se deu de uma forma natural. Nayane foi chamada para ajudar com fraldas, leite, o pequeno Samuel, que estava na casa da avó biológica.
“Na hora que cheguei lá, eu me apaixonei perdidamente por ele; desde então, a gente começou a construir nossa história de amor.”
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Desafios e muito amor
Nayane conta que a adoção, a maternidade e a paternidade lhes trouxeram muitos desafios. O processo foi demorado, durou 7 anos até conseguirem a guarda definitiva do filho. O Papa pede, inclusive, em sua mensagem, que as instituições facilitem o processo para agilizar a adoção.
“Era uma outra época, a gente era muito novo, recém-casado e aconteceu que a gente não teve 9 meses para planejar uma gestação. Samuel ele veio e mudou a vida da gente de cabeça para baixo, corremos atrás de advogado para pedir a guarda. Foi bem burocrático, mas a gente viveu isso de forma muito leve, e ele lida com isso de forma muito leve.”
Em relação ao fato de terem tido as duas experiências, de serem pais adotivos e biológicos, Nayane diz que nem sente a diferença. “A gente sente um amor que não tem diferença. Eu brinco com meu marido que a gente esquece diversas vezes da adoção, a gente esquece, porque é a mesma coisa. Às vezes, eu estou vendo foto da minha gestação com Gabriel, aí eu penso assim: ‘Ué, e a do Samuel?’ aí que eu lembro”.
Nayane comenta que se incomoda quando as pessoas sugerem que eles fizeram um grande favor ao filho com a adoção, e que não concorda com a afirmação.
“Eu não gosto de ouvir isso, que eu salvei Samuel, pois é mentira. O Samuel veio para salvar a mim e a minha família, o meu casamento, o casamento dos meus pais, ele veio para trazer tudo que a gente precisava, e a gente nem sabia que precisava. Ele é a maior bênção, o maior presente que Deus me deu, ele e o Gabriel, mas ele veio primeiro. Eu já vivia a maternidade plena com ele, que depois se estendeu para o Gabriel. Recomendo a todos a adoção, pois é uma experiência maravilhosa.”
Assumir os riscos
Na mensagem do Papa, ele afirma que não se deve ter medo de escolher o caminho da adoção, de assumir o “risco” do acolhimento. Francisco fala que o risco, na maternidade e na paternidade, acontece de uma forma ou de outra.
“É um risco, sim: ter um filho é sempre um risco, quer natural quer adotivo. Mas pior é não os ter, é negar a paternidade, negar a maternidade, tanto a real como a espiritual. A um homem e a uma mulher que voluntariamente não desenvolvem o sentido da paternidade e da maternidade, falta algo principal, importante. Pensai nisto, por favor.”
Zélia e Antônio Carlos Silva moram em Vitória da Conquista (BA) e sabem bem disso. Também viveram a experiência da adoção recentemente, após já terem tido dois filhos biológicos. O primeiro filho nasceu com Síndrome de Down e cardiopatia congênita, e veio a óbito após 11 meses, após uma cirurgia. O segundo, Mateus, chegou um mês e meio depois, também com Síndrome de Down e autismo. A partir dessa descoberta, o casal começou a pensar na possibilidade de adoção, pois não pensavam em ter um filho único.
“Iniciamos o processo em 2015. Em 2016, fomos incluídos no Cadastro Nacional de Adoção. Fizemos um curso e alteramos o perfil para uma criança de 0 a 7 anos. Nossa filha Isabely chegou há 5 meses, com 3 anos e 10 meses de idade.”
Em relação aos sentimentos citados pelo Papa, Zélia fala do medo, mas como algo inerente ao processo de paternidade e maternidade. “Sempre tivemos medo, e ainda temos. Acredito que o medo é inerente nesse processo de paternidade e maternidade, não tem como fugir, porque a gente vive em uma realidade de uma sociedade desumana, com preconceitos. Mas a partir do momento que vamos convivendo com a criança, e há essa adaptação dos dois lados, esse medo vai se perdendo. Quando a gente está em Deus, as coisas vão caminhando.”