Participação da filósofa americana causou repercussão; pessoas chegaram a se mobilizar em abaixo-assinado contra sua presença no país
Jéssica Marçal
Da Redação
Será realizado na próxima semana, de 7 a 9 de novembro, o evento “Fins da Democracia”, no Sesc Pompeia, em São Paulo (SP), que terá a participação da filósofa norte-americana Judith Butler, considerada uma das grandes defensoras da ideologia de gênero. A participação de Butler gerou repercussão, com abaixo assinado pedindo o cancelamento da participação dela na abertura e encerramento do evento.
O sacerdote da arquidiocese de Cuiabá (MT), padre Paulo Ricardo de Azevedo, explica que para entender essa controvérsia com relação a Judith Butler é preciso entender o que é a ideologia de gênero, porque Butler é uma filósofa americana que é uma das grandes ideólogas defensoras dessa questão.
“A ideologia de gênero é uma falsa ciência que diz que os seres humanos não nascem com sua identidade e com sua preferência sexual determinada pelo sexo biológico (…) A Judith Butler é uma das grandes defensoras dessa falsa ciência que agora no Brasil está causando grande polêmica por causa da influência dessa ideologia dentro das escolas”.
Padre Paulo diz que, no Brasil, a mobilização do Movimento Pró-Vida e Pró-Família, bastante disseminado em todo o país com ONGs e estudiosos, conseguiu barrar a entrada dessa ideologia na legislação, de forma que ela foi retirada do plano de ensino nacional, estaduais e municipais. Porém, o assunto continua em pauta no país.
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“A Judith Butler está na raiz dessa ideologia. Ela é uma das ideólogas mais conhecidas mundialmente a respeito dessa ideologia por isso que as pessoas estão se manifestando”, afirma o sacerdote explicando o porquê da indignação da presença de Butler no país.
Essa análise é corroborada pelo jornalista Bernardo Kuster, que tem acompanhado a discussão e chegou a fazer um vídeo na internet sobre o assunto. Ele afirma que o público brasileiro é iminentemente conservador e cristão, de matriz católica ou protestante, e a ideologia de gênero não é aceita por essa maioria. E Judith Butler é uma causa próxima dessa discussão, explicou.
“Então, ao conectar o problema da ideologia de gênero que está acontecendo no Brasil, no sistema de ensino, nas artes, etc, na mídia, à Judith Butler, as pessoas perceberam que era necessário parar de combater somente as atualizações, as consequências, e nós temos que ir às causas para compreender a raiz do problema”.
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Bernardo acredita que ainda falta informação no país sobre a ideologia de gênero, tanto da parte de quem a propaga quanto da parte de quem é contrário a ela. Ele conta que dá palestras sobre isso no país inteiro, mas percebe que as pessoas conhecem uma parte pequena da história.
“É necessário ampliar esse conhecimento e nós temos que falar mais do que as pessoas que propagam. Nós temos que promover cursos, palestras, programas de TV, vídeos na internet, notícias no jornal, nós temos que transformar essa questão da ideologia de gênero, mostrar a história por trás, temos que transformar em conversa de cabeleireiro, de intervalo de escola, de sala de professor, de ‘butiquim’, de tudo, isso tem que ser falado”.
Sobre o evento
O seminário Internacional “Os Fins da Democracia” será realizado de 7 a 9 de novembro no Sesc Pompeia, em São Paulo. Reunindo filósofos, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos e psicanalistas de vários países, o evento vai abordar a necessidade de uma reatualização da teoria crítica à luz dos presentes desafios políticos.
Organizado pelo Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, em colaboração com a Universidade da Califórnia, Berkeley, este é o segundo encontro do ciclo de conferências do Convênio Internacional de Programas de Teoria Crítica.
O Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (SP) foi procurado para comentar a repercussão em torno da participação de Butler no evento, mas até a publicação desta matéria não havia dado retorno.
Consultada na última quarta-feira, 1º, a assessoria de imprensa do Sesc Pompeia confirmou que o evento será realizado e informou que, até o momento, não havia um posicionamento da instituição sobre a repercussão do assunto.