Francisco “fala do que vive, daquilo que conhece, então seus gestos comprovam também suas palavras. Todos entendem a sua linguagem”
Jéssica Marçal
Da redação
Uma linguagem franca e direta, sem moralismo. Uma mostra de ternura forte, de um coração aberto. Essas são características da primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco, divulgada em 26 de novembro de 2013. Intitulado Evangelii Gaudium, o documento fala sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual.
A análise é feita pelo diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM), padre Camilo Pauletti. “Ele (Francisco) fala do que vive, daquilo que conhece, então seus gestos comprovam também suas palavras. Todos entendem a sua linguagem”.
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: Íntegra da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium
: Todas as matérias especiais do primeiro ano de pontificado de Francisco
Com a Exortação, padre Camilo diz que Francisco mostra que a Igreja é para servir com simplicidade e humildade. Tanto que ele chama a atenção aos padres, aos bispos, àqueles que estão à frente da Igreja e pede que não sejam príncipes e nem o centro das coisas. “Desde o nome que o Papa escolheu, Francisco, já lembra despojamento, amor aos pobres, respeito aos outros”.
Ao abordar esse tema – a alegria do Evangelho, o sacerdote explica que o Papa quer chamar a atenção para a importância em acreditar que a Boa Notícia de Jesus continua sendo um grande sinal de vida para o tempo atual. “Essa Boa Nova tem que ser anunciada e testemunhada, mas com expressão, com força, com alegria, como ele diz”. No documento, por exemplo, o Papa diz que “um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara de funeral”.
Diante dessa necessidade de vigor na evangelização, o Papa pede no documento que não se deixe roubar o entusiasmo, a força missionária, a alegria da evangelização, a esperança. “Os desafios existem para ser superados. Sejamos realistas, mas sem perder a alegria, a audácia e a dedicação cheia de esperança. Não deixemos que nos roubem a força missionária”, escreve o Papa. Segundo Padre Camilo, isso configura aquilo que é a linguagem de Francisco.
O ponto forte
Para padre Camilo, a mensagem central da Evangelii Gaudium é a misericórdia de Deus que ilumina a vida do homem. “A graça do chamado de Deus; sua misericórdia com a fragilidade daquele que foi chamado; a conversão missionária, permanente do povo de Deus; a autocrítica dos seus pastores são os motivos da exortação sobre a alegria do Evangelho”.
O sacerdote elenca sete pontos de irradiação no documento: a misericórdia, os pobres (“O Papa deseja uma Igreja pobre e para os pobres”), a atração com que cresce a Igreja, o anúncio de Jesus Cristo, a inculturação (uma Igreja de portas abertas, que se aproxima de todos de forma respeitosa), as estruturas (uma Igreja de comunhão, de participação, descentralizada – não só alguns que decidem tudo) e o diálogo (com a sociedade, com o Estado, com as culturas, as ciências e também com aqueles que não creem e não conhecem Jesus).
Contribuição
O diretor das POM recorda que uma das realidades de hoje é o fato de que não são muitos os que conhecem Jesus Cristo. Ainda há aqueles que foram batizados, mas não evangelizados. Dessa forma, é preciso dar atenção a essas pessoas que não estão vivendo o Evangelho ou que nem o conhecem.
“Essa nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados. (…) Valorizar a cultura, as expressões próprias, a piedade popular, usar criatividades, ter a ousadia de não ser meros expectadores e nem ficar estagnados para não ter uma Igreja estéril, como ele (Francisco) nos fala”.
Padre Camilo defende uma nova forma de evangelizar para fazer com que as pessoas que foram batizadas sejam protagonistas da Palavra de Deus e testemunho de Jesus Cristo. “Esse é um grande trabalho que o Papa veio reforçar: essa nova evangelização, de fazer com que as pessoas conheçam e assumam Jesus Cristo, tenham a experiência de Jesus Cristo”.