O quanto de quem fomos pode definir muito do que seremos; duas psicólogas analisam a importância do cuidado com a formação das crianças até a vida adulta
Thiago Coutinho,
Da redação
Sancionado nos anos 1920, o Dia das Crianças é comemorado no Brasil em 12 de outubro. Trata-se de uma data que simboliza a importância do cuidado com a criança, especialmente nesta etapa inicial, que definirá muito da personalidade deste futuro adulto.
Leia também
.: “Precisamos ouvir as vozes das crianças”, diz diretora do Unicef
“Sim, a infância é a base da formação das estruturas cognitivas e emocionais”, afirma a psicóloga Michelle Lima. “O primeiro relacionamento do indivíduo atua como modelo, pois molda de forma permanente suas capacidades para se relacionar posteriormente. As experiências de contato iniciais modelam o desenvolvimento de uma personalidade única, de suas capacidades adaptativas, vulnerabilidades e resistências a futuras psicopatologias, muitas das quais são expressas em níveis inconscientes”, explica a especialista.
“É na infância que o adulto se constitui, que desenvolve as características da sua personalidade”, acrescenta Liliane Módena. Para a especialista, é importante que a criança tenha um ambiente salubre para que possa se desenvolver intelectual e emocionalmente de maneira adequada. “É importante que o ambiente seja saudável e acolhedor para que essa criança possa desenvolver de forma saudável. Uma criança que não tem uma rotina de sono adequada, por exemplo, e vai dormir tarde e acorda muito cedo, pode ficar irritada e prejudicar seu aprendizado”, detalha.
A presença da tecnologia
Segundo estimativas do último censo promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 85% dos jovens brasileiros a partir dos 14 anos têm acesso à internet com seu próprio aparelho celular. E 54,8% das crianças entre 10 e 13 anos têm celular. O uso exacerbado de tecnologia pode ser um problema, especialmente quando se pensa em pedofilia e pornografia, por exemplo.
“É muito difícil a gente limitar totalmente o uso de tecnologias pelas crianças adolescentes”, observa Michelle. “Mas é claro que é muito importante entender que quanto menor a criança, mais restrito precisa ser o uso. Mas desenvolver suas estruturas cerebrais, é importante que a criança se relacione com o mundo por meio do brincar”.
Para Liliane, os pais precisam estar atentos, mas é difícil não dar acesso às tecnologias aos filhos. “Estamos na era digital, chegará um momento em que essas crianças precisarão ter domínio dessas tecnologias”, pondera. “Fica muito tempo na internet pode fazer mal. Mas, a criança não pode ficar isolada desse mundo”.
A importância da prática esportiva
Ainda segundo o IBGE, o sedentarismo segue persistente entre os brasileiros: 47% dos brasileiros adultos são sedentários e entre os jovens o número é maior e ainda mais alarmante, chegando a 84% da população jovem.
“Desde que a criança já esteja correndo, podemos considerar isso uma atividade física”, afirma Liliane. “Mas, por exemplo, se os pais fazem algum tipo de atividade física, é claro que o filho vai se espelhar”, afirma. E isso também vale para a alimentação. “Se esses pais comem verduras, legumes e frutas fica mais fácil ensinar à criança por meio do exemplo”, pondera a especialista.
Por outro lado, incentivar o excesso de atividades nas crianças pode ter um efeito contrário. “Precisamos tomar um pouco de cuidado com esse ‘dever'”, alerta Michelle. “Então a criança deve fazer isso, a criança deve fazer aquilo, fica muito robotizado. A criança precisa ser livre para ser criativa”, afirma.
É preciso que a criança crie um vínculo, uma afinidade com aquilo que está fazendo. E, impor isso à criança pode ser pouco produtivo. “Às vezes até nós, adultos, quando algo fica difícil a tendência é não querer fazer mais. Mas, se ela gosta de praticar aquilo, não quer mais desistir”, analisa Michelle.
Todos já foram criança
“Todas as pessoas grandes foram um dia crianças, mas poucas se lembram disso”, afirma um dito popular. Nossas origens remetem diretamente a quem a pessoa se torna no futuro. E é na infância que a maior parte da personalidade adulta é moldada.
“Mas, é importante lembrar que aquilo que foi constituído na infância não quer dizer que eu serei aquilo para o resto da vida”, assegura Liliane.
O importante, para a psicóloga, é lembrar quem fomos para construir quem seremos. “É sempre bom lembrar a criança que fomos. Somos constituídos na infância e vamos crescendo e nos formando enquanto pessoas. Mas, nada é definitivo. Podemos crescer em todos os aspectos e podemos ser melhores a cada dia”, finaliza.