Uma dificuldade de muitas famílias, nos dias de hoje, é no que diz respeito ao planejamento financeiro. Mesmo com pai e mãe trabalhando, o orçamento, às vezes, aperta. E tudo fica ainda mais difícil quando falta compreensão por parte dos filhos, mas uma boa conversa e orientação entre pais e filhos pode ajudar.
Na terceira reportagem especial, nesta Semana Nacional das Famílias, o noticias.cancaonova.com entrevistou o planejador financeiro Rogério Nakata. Ele explicou que o primeiro passo para evitar problemas financeiros é a família se reunir para conversar também sobre suas finanças, como faz com outros assuntos. "O brasileiro é acostumado a falar sobre novela, futebol e outros assuntos, mas com relação às finanças pessoais ou da família, dificilmente eles param para conversar”, disse.
Em especial com aos filhos, os quais nem sempre entendem a dificuldade financeira da família, Rogério orienta os pais a iniciarem uma educação financeira com as crianças desde que elas são pequenas, quando começam a pedir bens e ficam insistentes. “É importante, desde pequeno, dar esse tipo de orientação para que as crianças possam ser menos consumistas e aprenderem a valorizar os pequenos centavos”. E isso, segundo o especialista, pode ser feito a partir de uma simples conversa por meios mais práticos, como dar uma mesada para a criança.
Veja abaixo a íntegra da entrevista.
noticias.cancaonova.com – Nas famílias de hoje, pai e mãe trabalham e, ainda assim, encontram dificuldades no orçamento. Qual a melhor orientação para manter em dia as finanças?
Rogério Nakata – É importante sempre a família ter ciência de que eles devem conversar mais a respeito desse assunto em casa. Existem muitas famílias que têm dificuldades em falar sobre dinheiro. O brasileiro é acostumado a falar sobre novela, futebol e outros assuntos, mas, com relação às finanças pessoais ou familiar, dificilmente eles param para conversar sobre esse assunto. A primeira coisa é, realmente, ter essa conversa. O segundo ponto é que elas possam colocar tudo isso na ponta do lápis, organizando, de forma que eles possam entender melhor como funciona o orçamento deles. Quais são essas despesas, essas receitas? Quais as oportunidades que eles têm de poder enxugar esses gastos mensais? Onde existem ralos no orçamento que podem ser eliminados para que a família evite entrar no vermelho todo mês ou para que possam começar uma poupança, seja para uma emergência ou para realizar um projeto de vida ou um sonho almejado? Tudo isso é importante para que a família possa controlar melhor sua vida financeira pessoal e familiar a ponto de terem um futuro mais tranquilo.
noticias.cancaonova.com – Muitos pais enfrentam problemas com os filhos, em relação ao consumismo, muitas vezes exagerado. Existe uma idade certa para os pais iniciarem a educação financeira dos filhos?
Rogério – A idade aproximada para começar a falar sobre esse assunto com eles é por volta de 7 anos de idade. Quando a criança começa a pedir as coisas, a ficar muito insistente, já é importante iniciá-la nas aulas de educação financeira, o que é muito comum em países mais desenvolvidos como EUA e Japão. O pai deve ensinar para a criança que, quando ela pede alguma coisa e ele diz não ter dinheiro – e, obviamente, a criança fala para o pai passar o cheque ou o cartão -, há, por trás daquilo, um compromisso, um comprometimento de trabalho. Os pais tem de explicar que, realmente, é preciso ter dinheiro para que ele possa comprar o carrinho ou a boneca. Às vezes, a criança deseja passear, mas o pai e a mãe não têm possibilidade de levá-los. É importante, desde pequeno, dar esse tipo de orientação para que os filhos possam ser menos consumistas e aprendam a valorizar os pequenos centavos. Isso pode ser iniciado com uma conversa básica ou com o uso de semanada ou mesada, quando essas crianças se tornam um pouco mais velhas.
noticias.cancaonova.com – A mesada é uma boa solução para os filhos aprenderem a necessidade de planejamento financeiro?
Rogério – Sim. A mesada, quando bem orientada sobre seu uso, funciona muito bem como uma iniciação para a educação financeira. A ideia é que o filho tenha responsabilidade com esses pequenos recursos que recebe, para que possa pagar seu doce, salgadinho, cinema. Também ensina essa criança a guardar uma parte disso que ela recebeu, para juntar, a fim de realizar um sonho maior. Então, é sim algo bastante importante e que vale a pena. É importante dar uma semanada ou mesada para que a criança possa aprender mais a lidar com os recursos financeiros.
noticias.cancaonova.com – Quando o pai não tem condição de dar a mesada, além da conversa, existe outra alternativa para ajudar nessa conscientização?
Rogério – Despertando na criança o interesse pelo assunto. Se não há tempo para ter esse bate-papo com ela, de repente colocá-la em contato com livros voltados para esse tema. Existe, hoje, uma grande quantidade de livros que falam sobre educação financeira para crianças e que podem auxiliá-la a entender realmente, a dar os primeiros passos nessa relação com o dinheiro. Então, essa seria uma forma didática e lúdica para as crianças aprenderem. Mas muito mais do que elas aprenderem por palavras, às vezes, vale muito mais os exemplos que os pais dão.
Fica muito difícil para a criança entender que o pai não tem dinheiro, quando a mãe está comprando uma bolsa ou um sapato novo, o pai está trocando de carro – mesmo parcelando em 60 vezes -, pois a criança não entende isso. Quando os pais se conscientizam e passam, realmente, a tomar mais conta das suas finanças, isso, automaticamente, é transmitido para as crianças. Em países mais desenvolvidos, como eu citei, isso começa com orientações básicas de não deixar comida no prato, não deixar as luzes do quarto acesas, fechar a torneira ao escovar os dentes… Isso já é um ensinamento primário de economia de recursos naturais.
noticias.cancaonova.com – Como os pais devem proceder em momentos de crise financeira na família? Mesmo que as crianças sejam pequenas, o diálogo com os filhos, esclarecendo a eles o problema, pode ajudar?
Rogério – Sim, ajuda e é fundamental que todos saibam da situação atual da família, por isso é importante, realmente, que a família se reúna, sente juntos, trace objetivos e metas. é importante que cada um possa, de alguma forma, ajudar a economizar em casa para que eles superem essa crise financeira. Se isso não for colocado em pauta, às vezes, um membro da família está disposto a pagar o preço, a economizar, a fazer os sacrifícios necessários para que ela saia do endividamento, mas, se os outros não colaborarem, fica bastante complicado para que o resultado, que é ter mais qualidade de vida e tranquilidade financeira, se torne realidade na vida dessas pessoas. O aspecto importante é as famílias assumirem: “estamos com problemas financeiros, precisamos mudar, precisamos tomar algumas ações, de repente buscar uma ajuda profissional”, porque nem sempre "santo de casa faz milagre", como nós gostamos de falar. De repente, é a ajuda de um profissional, um planejador financeiro, por exemplo, que pode fazer com que esta discussão seja mais produtiva, organizada a ponto de a família cooperar e ter um futuro financeiro mais tranquilo.