Especialista comenta incidência de esgotamento emocional em meio à pandemia
Denise Claro
Da redação
Quase completando um ano de pandemia de covid-19 no Brasil, especialistas têm alertado sobre a necessidade do cuidado mental. O isolamento social, o medo, a insegurança com a pandemia e com o futuro têm levado muitas pessoas a observar sintomas de ansiedade e depressão. Soma-se a isso o esgotamento emocional e a Síndrome de Burnout, estado de estresse excessivo desencadeado pelo trabalho, cobranças de produtividade e sobrecarga ocupacional.
O que é Burnout
Burnout é um transtorno psíquico de caráter depressivo. Os sintomas são parecidos com os do estresse, da ansiedade e da síndrome do pânico, mas têm associação com a vida profissional da pessoa. A síndrome de burnout foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, em uma lista que entrará em vigor em 2022.
Se não for tratada, pode evoluir para doenças físicas, como doença coronariana, hipertensão, problemas gastrointestinais, depressão profunda e alcoolismo.
Estresse e Pandemia
Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que analisou o impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de trabalhadores essenciais, mostrou que sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% desses trabalhadores durante a pandemia no Brasil e na Espanha. Mais da metade deles (e 27,4% do total de entrevistados) sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono.
A psicóloga Elaine Ribeiro comenta essa piora nos quadros de ansiedade neste período.
“Durante a pandemia, a rotina de vida foi bastante alterada e emocionalmente mais exigida para muitas pessoas e profissionais. As equipes da área da saúde ultrapassaram seus limites físicos e emocionais, viviam sob estresse constante, com muitas perdas. Muitas pessoas já vinham com um esgotamento emocional, que, somado a essas perdas, pôde potencializar o que chamamos de esgotamento emocional ou burnout.”
A especialista lembra que a síndrome é uma doença mental que inicia quando uma pessoa passa por situações de desgaste intenso. Quando exige muita responsabilidade ou em ambientes exaustivos e competitivos, e de muita pressão.
Profissionais que tenham dupla ou tripla jornada são mais suscetíveis a este quadro. Apesar disso, qualquer pessoa pode vir a desenvolver, até mesmo por uma predisposição (por exemplo, pessoas que já possuem depressão ou ansiedade).
“As pessoas passam a ter dificuldade de concentração e foco. Pode haver dificuldade de conseguir resultados no trabalho e seu desempenho cair expressivamente.”
Tratamento
Como os sinais e sintomas estão relacionados à irritabilidade, desânimo, falta de foco, dentre outros, a psicóloga afirma que, ao perceber os sintomas, o paciente deve buscar ajuda profissional. A procura de um psiquiatra ou algum médico que possa identificar o que está ocorrendo também ajudará a descartar outros tipos de doença e diagnóstico.
“O acompanhamento psicoterapêutico também é indicado para avaliação do estilo de vida, dentre outras situações.”
A Síndrome de Burnout também vem crescendo como um problema a ser enfrentado pelas organizações e, de acordo com um estudo realizado em 2019, cerca de 20 mil brasileiros pediram afastamento médico no ano por doenças mentais relacionadas ao trabalho.
“Muitas empresas ainda estão começando a compreender este quadro médico. Como não é uma doença física e tem um conjunto de sinais e sintomas emocionais, é mais difícil de ser compreendida do que uma fratura, por exemplo.”
A especialista dá dicas para se prevenir e tratar o estresse e a síndrome:
“É necessária uma mudança na rotina diária. A verificação dos hábitos, a inclusão de atividades de lazer ou mesmo atividades físicas. Deve-se rever os hábitos alimentares, horários de sono dentre outros. É preciso que a pessoa tenha uma vida nova. Mas, muitas vezes, será necessária medicação somada ao acompanhamento médico e psicológico.”