Saiba mais sobre um dos aspectos fundamentais do cristianismo: a unidade, e como deve acontecer a cooperação entre as religiões em prol do bem comum
André Cunha
Da redação
A Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da CNBB realiza a partir desta sexta-feira, 23, até domingo, 25, o Simpósio Diálogo e Missão. Um evento que, segundo a instituição, pretende ser um momento para aprofundar a compreensão das orientações do Concílio Vaticano II sobre o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, além das implicações para a missão da Igreja.
Na formação, será realizada uma leitura atualizada dos documentos do Conselho Mundial de Igrejas e do Concílio Vaticano II que orientam a relação entre o diálogo e a missão.
O que muita gente talvez não saiba é a diferença entre ecumenismo e diálogo inter-religioso. Para explicar os assuntos, o noticias.cancaonova.com conversou com o professor e pesquisador na área, padre Marcial Maçaneiro.
Segundo ele e sob o ponto de vista teológico, ecumênico é o diálogo entre os cristãos que professam a fé em Jesus, na Trindade, no Mistério Pascal, na Redenção, na Graça, enfim, toda a fé do Novo Testamento.
Esta segunda parte da Bíblia é onde também consta o desejo de Jesus a respeito da unidade entre aqueles que O seguem, como relata o evangelista João (cf. Jo 17,21-23). A partir deste trecho da Sagrada Escritura, padre Marcial explica que o diálogo ecumênico não é uma invenção dos cristãos, mas uma condição, uma vocação, apresentada por Jesus, para que o mundo creia em Seu Nome.
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“Isso é vocação de unidade, vem do Batismo e da Graça do Espírito Santo. A unidade entre os cristãos não é um produto, resultado apenas desse diálogo, mas é uma vocação da Igreja. E a gente que participa desse diálogo, acolhe a Graça e vai promovendo essa vocação de comunhão entre todos os batizados por quem Jesus deu a vida”.
Diálogo inter-religioso
Já o diálogo inter-religioso, como a própria nomenclatura sugere, acontece entre as diferentes religiões (Budismo, Islamismo, Judaísmo, Xintoísmo, Kardecismo, Cristianismo, etc).
Segundo padre Marcial, esse tipo de diálogo não é focado na unidade, como aquela que acontece no ecumenismo.
“Trata-se de um diálogo para discernir como a Graça de Deus opera no coração destes homens e mulheres de outras tradições; como eles e nós, de algum modo, podemos atuar juntos no testemunho da verdade, da justiça, da paz, da promoção humana; como nós podemos atuar juntos, como homens e mulheres religiosos, na construção de uma cidadania, de uma sociedade justa, do cuidado ambiental”, esclareceu.
Entretanto, o professor explica que esse diálogo também tem uma motivação teológica para os cristãos, não se tratando de deixar o anúncio de Jesus de lado e ficar apenas no diálogo.
“Ao contrário: o nosso diálogo com os membros de outras tradições não cristãs é a nossa forma de missionar, de modo recíproco, dialógico, testemunhar a nossa fé. Transformar esse diálogo num espaço de anúncio, pela nossa vivência, nossa presença evangélica cristã”.
Logo, afirma o padre, o testemunho tem um papel fundamental no processo de diálogo inter-religioso. “Como dizem os meus amigos não cristãos: padre Marcial no seu diálogo conosco, nós não queremos apenas que o senhor fale de doutrinas, ou de Jesus, ou da Igreja. Para nós isso é importante! Mas também é importante que o senhor seja uma presença de Jesus para nós”.
Proselitismo
Percebe-se nas palavras do padre Marcial a importância do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Mas alguns ainda podem confundir diálogo com proselitismo, ou seja, fazer tudo para “trazer o outro para a minha Igreja”. Mas não é isso!
Padre Marcial explica que o prosélito atua justamente por falta de diálogo ecumênico. Segundo ele, quando os cristãos não dialogam, não rezam juntos, não se unem para ouvir a palavra de Deus, criam distâncias.
“Essa distância acaba atravessada por relações de mercado, de oposição. Então, sem uma perspectiva de fé, de caridade entre cristãos, nós mesmos nos vendemos, barganhamos essa perspectiva por outra. Esta tem sido invadida, sobretudo no Brasil, por um comportamento mercadológico. A fé se torna uma mercadoria e o fiel se torna um cliente. Infelizmente, é justamente por falta de um diálogo ecumênico sério que não compromete, que não aproxima a gente na oração, que temos nos distanciado e dado espaço, não para uma relação de comunhão, de cristãos, mas infelizmente, para uma relação de concorrência claramente mercadológica”.
E concluiu: “Isso é muito triste e não abala somente a relação de católicos e evangélicos, mas de diversas formas de evangelismo entre si e até, às vezes, entre grupos em nossa própria Igreja”.