Especialista comenta comportamento do novo coronavírus
Denise Claro
Da redação, com colaboração de Fernanda Ribeiro
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, no último dia 11, a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). O relatório da OMS nesta quarta-feira, 18, contabiliza mais de 179 mil casos confirmados da doença, e 7.426 mortos em todo o mundo.
No Brasil, o último levantamento apresentou 387 casos confirmados de pessoas infectadas pelo coronavírus, e três mortes.
A infectologista Janaína Leite explica que o momento não é de pânico, mas de alerta, e que as autoridades brasileiras estão trabalhando a partir da observação do comportamento do vírus na China e em outros países, como a Itália:
“Em relação ao Brasil, estamos no começo da curva de transmissão. No Rio e em São Paulo já temos transmissão comunitária, entre pacientes que não voltaram de outros países. A gente está hoje como se fosse no ‘janeiro’ da China. Nos antecipamos para receber o vírus. O plano de contingência do Ministério da Saúde já está acontecendo há uns 40 dias.”
Orientações
A orientação atualmente é de isolamento social e distanciamento entre as pessoas como forma de prevenção, visando menor transmissão do vírus e um achatamento da curva. A questão mais preocupante é o cuidado com os idosos, grupo mais suscetível à forma grave da doença:
“Devemos ter um carinho maior com o grupo de risco em relação ao isolamento. Idosos e pessoas com comorbidades tem que ficar em casa. Atenção às crianças, que não adoecem tanto, mas são potenciais transmissores, em contato com esses grupos.”
A especialista explica que os hábitos de higiene, como lavar as mãos e higienizar ambientes e superfícies é imprescindível, bem como o uso do álcool gel. “Se eu espirro ou tusso em uma área, a gente sabe que o vírus dura naquela superfície mais ou menos 9 dias. Se faço a higienização correta do ambiente, com álcool 70%, eu posso imediatamente eliminar o vírus.”
Além disso, evitar os cumprimentos, e, se tossir ou espirrar, fazê-lo em um lenço de papel (e jogar fora), ou no antebraço ou braço.
Como forma de aumento da imunidade, é importante uma boa alimentação, com frutas, legumes e verduras; boa hidratação; o hábito de fazer exercícios físicos; evitar aglomerados de pessoas.
“Além disso, buscar a saúde mental, que hoje em dia é tão complicado, a questão do stress, que diminui a imunidade.”, diz a especialista.
Quando ir ao hospital?
O paciente com covid-19 pode apresentar sintomas leves, moderados ou graves. Os leves a moderados são tosse, congestão nasal, coriza, dor de garganta. Os graves, febre e falta de ar. Janaína explica que somente no caso dos últimos, se deve buscar os hospitais:
“O hospital só deve ser buscado no caso de febre persistente ou falta de ar. Os pacientes do grupo de risco tendem a apresentar direto sintomas de maior gravidade, principalmente a falta de ar.”
A especialista lembra que o risco de morte aumenta quando há sintomas respiratórios graves, nas situações em que é preciso um aparelho para ajudar o paciente a respirar.
Janaína reforça que a decisão de ir aos hospitais na falta dos sintomas graves, aumenta o risco de contágio, justamente o que as autoridades estão evitando neste momento.
Consciência individual e coletiva
Confrontada sobre os mitos e verdades que circulam na mídia, especialmente nas redes sociais, Janaína é taxativa:
“Não se trata de uma arma biológica, e o coronavírus não tem nada a ver com o vírus do HIV ou da gripe, por exemplo. Além disso, em relação à imunidade, não há soro nem remédio que a aumente. E a gente não tem a vitamina C e D com a necessidade do uso.”
E recorda a importância da consciência individual e coletiva acerca do cuidado com a transmissão:
“É a única forma da gente segurar a doença, depende de cada um, para diminuir a velocidade de transmissão do vírus, e conseguir o achatamento da curva. A gente pede que as pessoas estejam atentas ao comportamento individual, e também à consciência do coletivo. Assim seguramos a transmissão entre as pessoas: Você segurar a questão de transmissão entre pessoas, em vez de transmitir de uma vez pra um monte de gente, eu vou transmitir pra um monte de gente em um tempo maior, inclusive para que os hospitais tenham tempo de se organizar, e evitar um colapso do sistema de saúde.”