Nesta Quarta-Feira de Cinzas começa a Campanha da Fraternidade, tema que padre Toninho aborda à luz da Doutrina Social da Igreja
Pe. Antonio Aparecido Alves*
A Doutrina Social da Igreja e a Campanha da Fraternidade
São João João XXIII afirmou na encíclica Mater et Magistra (1961) que Doutrina Social da Igreja deveria ser divulgada e conhecida por todos os cristãos, pois ela faz parte da concepção cristã da vida, de modo que uma sadia educação da fé não poderia descurar desse aspecto social. Por isso, desejava o Pontífice que esta fosse ensinada de forma sistemática em todos os Seminários e Escolas Católicas, bem como nos programas de formação das Paróquias e Associações de Leigos. Além disso, que fosse divulgada por todos os meios possíveis: rádio, televisão, obras científicas e de divulgação, periódicos e imprensa diária, levando os fiéis a uma prática social, a partir do método ver-julgar-agir (MM 217-239).
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A Campanha da Fraternidade
A Igreja do Brasil realiza em nível nacional, desde 1964, a Campanha da Fraternidade durante o tempo da Quaresma, como forma privilegiada de unir a fé e a vida, propondo sempre um tema para a conversão pessoal e social. Em seus albores esta Campanha estava ligada ao Secretariado de Ação Social da CNBB e à Caritas, passando depois a estar vinculada ao Secretariado Geral da CNBB, como está até hoje. O mais importante, no entanto, é que esta iniciativa realiza o desejo de São João XXIII manifestado na Mater et Magistra, pois divulga elementos fundamentais da Doutrina Social da Igreja, trazendo à reflexão das Paróquias e Comunidades temas sociais que afetam diretamente a vida de cada um e interpelam à conversão.
Biomas brasileiros e defesa da vida
Desde 1973 os temas da Campanha da Fraternidade (CF) abordam situações socioeconômica e políticas que impactam diretamente na vida das pessoas, assim como também a questão ambiental. Aliás, a Igreja, há algum tempo, tem sido voz profética a respeito desta questão. Em 1979 inovou ao fazer uma CF dedicada à ecologia, com o tema “Preserve o que é de todos” e de lá para cá, em diversas ocasiões, as campanhas abordaram temas relacionados ao meio ambiente, como CF sobre a água em 2004, sobre o Amazonas em 2007, sobre vida no planeta em 2011 e sobre nossa Casa comum, no ano passado. Neste ano, comungando com o Papa Francisco nas preocupações pela questão ambiental, o tema é “Biomas brasileiros e defesa da vida”, com o lema “Cultivar e guardar a criação”. Será certamente um tempo muito forte e rico de reflexão e oração sobre o cuidado de nossa casa comum no Brasil com seus biomas, como a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa.
Uma conversão ecológica
O Papa Francisco fala na Laudato Si’ ser necessária uma conversão ecológica (LS 216-222). É forçoso reconhecer que a imensa maioria dos cristãos não se penitenciam pelos pecados cometidos contra a criação. Dificilmente alguém, ao se confessar, vai se acusar de não ter separado adequadamente o lixo reciclável, de ter jogado uma garrafa pet no rio ou algo semelhante. Esta conversão, dentro do espírito da Quaresma, implica, portanto, reconhecer e confessar nossos pecados contra o meio ambiente. Depois, como fruto deste reconhecimento, uma mudança de hábitos de produção e de consumo.
A Campanha da Fraternidade, portanto, enquanto populariza os ensinamentos da Doutrina Social da Igreja, ajuda na conversão pessoal e social, buscando instaurar o Reino de Deus, cuja proximidade Jesus nos anuncia no evangelho da missa desta Quarta-feira de Cinzas.
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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br