Para bispo, ecumenismo entre as igrejas é esforço comum para fazer cair barreiras seculares e vencer preconceitos históricos
Da redação, com CNBB
“Com a graça de Deus e o empenho de muitos cristãos, o ano de 2017 está se tornando um verdadeiro Kairós – um momento de Deus e uma hora de novos desenvolvimentos – nas relações entre católicos e luteranos e talvez, mais amplamente na comunhão ecumênica dos cristãos”. A frase é de Dom Francisco Biasin, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em referência aos 500 anos da Reforma Protestante, evento que provocou uma ruptura na Igreja.
Ao longo desse ano de 2017, houve uma comemoração conjunta pelos 500 anos da Reforma. No último dia 31 de outubro, marco e término das comemorações, foi divulgada a declaração comum assinada pelo Vaticano e pela Federação Luterana Mundial. “Uma densidade ecumênica muito consistente em todas as partes do mundo”, é como analisou Dom Biasin, bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ), o momento fraterno vivido entre as duas Igrejas.
A declaração conjunta entre os líderes das Igrejas católica e luterana reforçou o comprometimento de prosseguirem no caminho ecumênico rumo à unidade pela qual Cristo rezou, além de ressaltar que, pela primeira vez, as duas religiões viram a Reforma de uma perspectiva ecumênica.
“São um marco na história das relações entre as duas Igrejas, fruto sem dúvida de muitos outros encontros, de muita oração e do esforço comum para fazer cair barreiras seculares e vencer preconceitos históricos”, comentou Dom Biasin em referência à Declaração e ao Documento “Do conflito à comunhão” – assinado pelos presidentes do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos e da Confederação Luterana Mundial
O contexto das comemorações pelos 500 anos da Reforma foi um momento propício para reconhecimento dos pecados e pedidos recíprocos de perdão, considerou Dom Biasin. É ainda ocasião para deixar para trás a lógica da suspeita e da contraposição, para proceder sempre mais na lógica do encontro e da comunhão, a qual, segundo o bispo, de fato responde às exigências do Evangelho e constitui o caminho para valorizar a diversidade como dom e ocasião de enriquecimento recíproco.
Dom Biasin destacou ainda a necessidade, para os católicos, de melhor compreensão dos intentos mais profundos da teologia de Lutero. “Isso poderá iluminar-nos também hoje, num momento em que as Igrejas, talvez mais do que em outros tempos, se deparam com o desafio da ‘Ecclesia semper reformanda’ (Igreja sempre se reformando)”, afirmou.
Numa perspectiva de ação para a relação entre católicos e luteranos, o documento do Conflito à Comunhão é a fonte para as ações da Comissão para o Ecumenismo da CNBB neste meio e lança cinco desafios, chamados de “imperativos ecumênicos”, o que, para o presidente da comissão, são um verdadeiro programa de ação e ao mesmo tempo um grande apelo à conversão.
São imperativos ecumênicos: católicos e luteranos devem sempre partir da perspectiva da unidade e não da perspectiva da divisão; precisam deixar-se transformar continuamente pelo encontro com o outro e pelo testemunho mútuo da fé; devem comprometer-se outra vez na busca da unidade visível, para compreenderem juntos o que isso significa em termos concretos, e buscar sempre de novo esse objetivo; devem buscar juntos redescobrir a força do Evangelho de Jesus Cristo para o nosso tempo; e, em sua pregação e serviço ao mundo, devem testemunhar juntos a graça de Deus.
“Diante desses imperativos, agora temos que continuar não só a nos encontrar, mas a nos comprometer para que o nosso encontro toque a nossa vida e a vivência das nossas comunidades e assim dar a nossa contribuição para que o sonho de Jesus da plena unidade se torne realidade”, finalizou Dom Francisco Biasin.
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