Data é promovida pela ACN com o apoio da CNBB para recordar a realidade da perseguição que muitos cristãos sofrem no mundo
Denise Claro
Da redação
Um dia especial para rezar por tantos cristãos que, em várias partes do mundo, sofrem com a perseguição. Nesta sexta-feira, 6, acontece a 7ª edição do Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos. A data é promovida pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) e tem o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O diretor executivo da ACN Brasil, Valter Callegari, explica que o Dia de Oração teve início em 2015 e, desde então, ocorre anualmente no dia 6 de agosto. A data faz referência à noite de 6 de agosto de 2014, quando cerca de 100 mil cristãos tiveram que abandonar suas casas na Planície de Nínive, no Iraque, expulsos pelos extremistas do grupo Estado Islâmico.
“Eles fugiram a pé, somente com as roupas do corpo, sem água, comida, medicamentos e um lugar para ficar.”, afirma.
Assim que recebeu as primeiras informações na manhã do dia 7 de agosto, a ACN mobilizou os benfeitores e iniciou campanhas e projetos para socorrer materialmente e espiritualmente os perseguidos e refugiados.
“Com esta iniciativa, as pessoas passaram a ter mais informações sobre cristãos perseguidos e souberam que, em determinadas partes do mundo, uma pessoa pode morrer simplesmente por usar um crucifixo no pescoço. Os católicos passaram a rezar por esses cristãos, aonde quer que eles estejam.”, diz.
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Liberdade Religiosa no mundo
O Relatório de liberdade religiosa no mundo – 2021 observa que a liberdade religiosa é violada em um em cada três países. De acordo com o relatório, o direito fundamental à liberdade religiosa não foi respeitado em 62 (31,6%) dos 196 países do mundo, entre 2018 e 2020.
Em 26 desses países, as pessoas sofrem perseguição e, em 95% deles, a situação ficou ainda pior durante o período analisado.
“As estatísticas refletem uma das principais conclusões do relatório: a radicalização do recrudescimento no continente africano, onde houve um aumento dramático da presença de grupos jihadistas”, lembra Callegari.
Violações da liberdade religiosa – incluindo perseguições extremas, como assassinatos em massa – estão ocorrendo agora em 42% de todos os países africanos. O Relatório de Liberdade Religiosa também revelou uma ascensão de redes transnacionais jihadistas, com o objetivo de criar um chamado “califado transcontinental”.
Callegari ressalta que o relatório destacou outra nova tendência: o abuso da tecnologia digital, das redes cibernéticas e da vigilância em massa baseada em inteligência artificial (IA) e tecnologia de reconhecimento facial para aumentar o controle e a discriminação em algumas das nações com o pior histórico de liberdade religiosa.
“Isso é mais evidente na China, onde o Partido Comunista Chinês tem oprimido grupos religiosos com a ajuda de 626 milhões de câmeras de vigilância aprimoradas em IA e scanners de smartphones. Grupos jihadistas também estão usando tecnologia digital para a radicalização e recrutamento de seguidores.”
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Dados mundiais
O Relatório mostrou que em 42 países (21%), renunciar ou mudar a religião pode levar a graves consequências legais e/ou sociais. Tais consequências vão desde o ostracismo dentro da família até mesmo à pena de morte.
O Relatório denunciou também o aumento da violência sexual usada como arma contra minorias religiosas. São crimes contra mulheres e meninas que são sequestradas, estupradas e forçadas a se converter.
Cerca de 67% da população mundial, ou cerca de 5,2 bilhões de pessoas, vivem em países onde há graves violações da liberdade religiosa. Nisto estão inclusas as nações mais populosas – China, Índia e Paquistão. Em muitos deles, as minorias religiosas são as mais visadas. Segundo o Relatório, a perseguição religiosa por governos autoritários também se intensificou. A promoção da supremacia étnica e religiosa em alguns países de maioria hindu e budista na Ásia levou a uma maior opressão das minorias, muitas vezes reduzindo, de fato, seus membros a cidadãos de segunda classe.
No Ocidente, houve um aumento da “perseguição educada”, termo cunhado pelo Papa Francisco. Trata-se de como novas normas e valores culturais entram em profundo conflito com os direitos individuais à liberdade de consciência, e consignam a religião “aos distritos fechados de igrejas, sinagogas ou mesquitas”. O Relatório também aborda o profundo impacto da pandemia de covid-19 sobre o direito à liberdade religiosa.
Sobre a liberdade religiosa no Brasil, as religiões afro-brasileiras continuam sendo as mais perseguidas no país, seguidas das religiões esotéricas e animistas.
A grande diferença no momento atual é a politização da religião e as suas consequências para toda a vida social, salienta Callegari. Atualmente, existe uma nova escalada de agressividade associada à intolerância religiosa no país.
Igreja e Liberdade Religiosa
A Igreja tem colaborado para que os cristãos perseguidos possam viver sua fé. O Papa Francisco tem sido a voz incansável dos cristãos perseguidos. Uma das ações mais recentes foi sua visita ao Iraque em março deste ano, um país onde os cristãos beiraram à extinção por sofrerem o mais alto grau de perseguição.
“Aqui no Brasil, o sofrimento dos cristãos perseguidos ainda é pouco conhecido e é missão da ACN dar voz a esses irmãos e fazermos algo de concreto por eles. Além de todos os projetos apoiados pela ACN nos países onde a perseguição ocorre, no dia 6 de agosto incentivamos que todos coloquem em prática o que chamamos de pilar central da ACN, a oração”, afirma o diretor executivo.
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Vivência da data
Nesta sexta-feira, 6, será celebrada uma Missa pelos Cristãos Perseguidos, às 15h (horário de Brasília). Nesse mesmo dia, às 18h (horário de Brasília), será rezado o Terço pelos Cristãos Perseguidos. Ambos podem ser acompanhados pelas redes sociais da ACN (Youtube e Facebook).
“Mais uma vez nós estamos realizando os eventos on-line ainda por conta da pandemia. Convidamos todo o clero a celebrar nesse dia por meio das mídias sociais. Também pelas mídias sociais incentivamos os cristãos a lembrarem dos cristãos perseguidos em suas orações. A data ainda se faz muito necessária, pois em muitas regiões do mundo a perseguição aos cristãos tem aumentado.”