Professor de História da Igreja, Felipe Aquino explica que o cristão vive com a fé na Ressureição e, por isso, “mesmo que viva com os pés na terra, vive com o coração no céu”
Mauriceia Silva
Da Redação
No dia 2 de novembro, a Igreja Católica celebra o dia dos fiéis defuntos, data que remete ao luto, à saudade, e homenagens aos que se foram. Hoje pessoas em todo o mundo vão aos cemitérios, fazem reflexão, rezam por amigos e entes queridos.
Para os cristãos, a morte é a passagem da peregrinação terrena à pátria do Céu, onde o Pai acolhe a todos os filhos, “de toda nação, raça, povo e língua” (Ap. 7,9). Nessa perspectiva de fé, o professor de História da Igreja, Felipe Aquino, explica que devemos buscar, já nesta vida, estar preparados.
“Nós não sabemos quando será, Deus não avisa pra gente a hora da morte. O que nós precisamos é realmente fazer aquilo que Jesus disse, estar preparado, vigiar, orar, porque nós não sabemos que horas nós iremos para Deus”.
Para Felipe Aquino, se Deus permite que as pessoas passem pela morte, é porque, depois dela, existe algo melhor: “A vida eterna em Deus é uma vida melhor, não tem fim, muito melhor do que essa vida”.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a morte é o maior enigma da vida humana, pois todos têm dúvidas sobre ela, mas pela fé têm razões para crer na vida eterna. “Como dizia Santa Terezinha do Menino Jesus, eu não morro, mas entro na vida. Como cristãos católicos, a Ressurreição é o ponto fundamental da nossa fé”.
Duas mortes
São Tomás de Aquino dizia que existem duas mortes, observa o professor. A primeira delas é a morte do corpo, quando este separa da alma. “Mas São Tomás de Aquino dizia que tem a segunda morte que é muito pior, é quando a alma se separa de Deus, aí é a morte eterna.”
Felipe Aquino diz que Cristo veio exatamente para resgatar a humanidade das mãos do demônio, das trevas, e trazê-la para a felicidade dos filhos de Deus. Então, embora a morte entristeça, a certeza da ressurreição conforta.
“É assim que a gente precisa realmente viver, e no dia de Finados nós temos que lembrar exatamente isso, rezar pelos nossos mortos exatamente para que eles tenham uma vida eterna em Deus.”
Ressignificar a dor da perda
Em meio a toda saudade que fica, a fé na pátria celeste conforta a muitos e traz uma ressignificação da dor da perda daqueles que se amam. Ainda no ventre, a psicóloga Rebecca Athayde soube que o seu bebê não teria muito tempo de vida. Já na gravidez, ela precisou conciliar a expectativa da nova vida que viria junto à iminente morte, e assim viver de forma única cada momento do Mateus como uma dádiva.
Rebecca explica que a primeira coisa a ser entendida é que Deus é bom o tempo todo. “Se assim o é, então mesmo as situações mais dolorosas são dotadas de um sentido de ordem superior. A morte nos impele à conversão, porque nos lembra da fragilidade da vida, de como precisamos nos esforçar pra sermos melhores, para que possamos, um dia, encontrar aquele que se foi. “
Rebecca recorda uma frase de Chiara Corbella que lhe inspira: ” ‘Aquilo que Deus quer para nós é muito mais belo do que tudo aquilo que poderíamos pedir com a nossa imaginação’. Confiar nisso nos dá esperança e nos impele a viver de fé, a viver de amor.”
Para Rebecca, diante da dor do ente querido que se foi, é preciso olhar para o céu e isso faz honrar mais ainda mais a lembrança da pessoa querida que morreu.
“A saudade é torturante se olhamos com um olhar fincado nesse mundo. É uma dor que precisaremos lidar a vida toda e, sem o olhar em Cristo, no céu, na vida eterna, o fardo se torna insuportável. Eu costumo dizer que é a minha bendita dor que me faz lembrar do quanto o amo, de quão humana sou. Que me faz perceber que o amor é mais forte do que a morte e capaz de aguentar o tempo que for preciso. É a bendita dor que me faz querer honrar seu legado, passar adiante a sua história e fazer valer toda sua luta!”.
Por fim, a psicóloga Rebecca afirma que olhar para a Virgem Maria lhe ajudou a ter um olhar redentor diante do “vale de lágrimas”. “Quando Mateus estava em meus braços – inchado, machucado, com índices incompatíveis com a vida – era de Maria que eu lembrava. Era a ela que eu pedia forças, nela que me amparava. Rezei a via Sacra com ele em meu colo, me lembrando dela e de todo sacrifício. Sem dúvidas, unir o meu sofrimento ao dela, me ajudou a passar por tudo.”
Só a eternidade pode “costurar isso” em nós
Este será o primeiro ano em que a empresária Viviane Lopes irá viver o dia de finados após a morte de seu pai. Ela relata que a dor da partida repentina lhe trouxe um significado muito particular sobre não adiar os momentos em que se possa viver junto a quem se ama. “Meu pai era um homem que gostava de estar inteiro com os seus e isso torna sua presença muito viva em meu coração.”
Para Viviane, é preciso aliar o luto à espiritualidade para vivê-lo bem. “É a certeza do céu que dá sentido à dor vivida aqui. Perder alguém é como rasgar-se por dentro e só a eternidade pode costurar isso em nós. Acredito que a melhor forma de viver o luto é se firmar numa vida de oração diária, a busca sincera dos sacramentos, conhecer melhor o que a nossa fé nos ensina sobre a vida eterna e sem dúvidas rezar pela alma dos nossos queridos”.