A família pode aproveitar o momento de instabilidade para ensinar um modo de enfrentamento da situação que traga lições para toda a vida
Liliane Borges
Da Redação
O momento atual de pandemia trouxe grandes mudanças no dia a dia da população. Algumas dessas mudanças podem ser passageiras, outras levarão um longo prazo para se restabelecerem, como talvez a economia. Nesta perspectiva, o que se pode tirar como saldo positivo ainda é incerto, porém, no decorrer destes dias, é possível aprender bastante e optar por vivê-los apoiados na esperança.
O psicólogo, especialista em Neuropsicologia, Mestre e Doutor em Ciências Médicas, Ricardo Franco de Lima, destaca que a incerteza na qual estamos mergulhados pode nos trazer diversos sentimentos. “Não temos respostas definitivas, e surgem, a cada dia, muitos outros desafios. Isso pode desencadear sentimentos de medo, ansiedade e angústia. Estamos todos tentando encontrar formas de enfrentamento que causem o menor impacto possível em nosso cotidiano”, destaca.
Veja também:
.:Como ajudar as crianças a vivenciarem este momento de pandemia
.:Em meio à pandemia, meios de comunicação ajudam fiéis a rezar em casa
.: Em tempos de isolamento social, a saúde mental pede cuidados
É precisamente diante desses sentimentos que é possível dar uma resposta diferente e auxiliar as crianças nesse processo. No caso delas, destaca Ricardo, tudo é vivido de modo intenso, principalmente, pela “mudança repentina na rotina e, sobretudo, pela maneira como os pais e cuidadores estão lidando com a situação”. Portanto, é o momento de ensinar um modo de enfrentamento da situação que traga lições para toda a vida.
“Todas as situações de desafio podem ser experiências significativas de aprendizagem: para aprender novas habilidades, novas formas de pensar, flexibilizar nossos pontos de vista, novas formas de se relacionar com as pessoas, para ampliar o nosso repertório de enfrentamento psicológico. Nesse sentido, os pais e responsáveis precisam ser muito criativos para propor e construir, com as crianças, alternativas que não privilegiam somente as tecnologias”, ensina o neuropsicólogo.
Para fazer este caminho de aprendizado, o primeiro passo dado pela família da Graziela Ciqueira, foi estabelecer uma rotina, de forma a tranquilizar os dois filhos, João Pedro, 7; e Maria Tereza, 4. “Aqui, criamos uma rotina: de manhã, fazemos as atividades da escola; logo depois, o estudo da Palavra, e rezamos o terço da misericórdia, participamos da Missa pela TV, rezamos o terço em família. Temos um momento de leitura, filmes de santos, brincadeiras livres e direcionadas e exercícios físicos para gastar energia”, conta.
Além de todas essas atividades, a família também aproveita para conversar e aprender que não sair de casa, no momento, é um grande gesto de amor pelas pessoas. “Creio que essas atitudes ensinam mais do que palavras, pois são testemunho. É necessário se cuidar, mas também é importante cuidar dos outros, como nos diz o Senhor no segundo mandamento: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’”, lembra Graziela.
Para ensinar, o bom senso deve ser o fio condutor. “Não quer dizer que todas as atividades que as crianças forem realizar dentro de casa precisam ter um caráter pedagógico. Não exagerar e manter um ambiente tranquilo favorecerá a passagem por este período. Este momento também pode ser aproveitado para refletir sobre os valores humanos e colocá-los em exercício, por meio das interações dialógicas, da comunicação não violenta, da compaixão e do restabelecimento do sentido de comunidade”, reforça Ricardo.
A fé como alicerce
Em momentos de enfrentamento dos diversos desafios que a história impõe, ainda mais de algo tão desconhecido, a fé é o alicerce de muitos, que além de conservarem a paz, ajudam aos outros e aprendem verdadeiras lições.
A oração foi um dos modos que a família encontrou para ajudar e também se fortalecer na fé. “Rezamos por todos que estão com o vírus, por aqueles que ainda não tomaram consciência da gravidade, pelas almas dos que já faleceram e seus familiares”, conta Graziela.
“Nossa penitência familiar também passou por uma adaptação, pois havíamos nos comprometido de não vermos TV durante o período da Quaresma, mas com tudo o que está acontecendo, percebemos que, hoje, nossa penitência seria não sair de casa e obedecer ao que nos fosse pedido”, testemunha ainda a família.
Segundo o doutor em Ciências Médicas, toda e qualquer forma de enfrentamento que nos ajude a percebermos nós mesmos, nossas relações familiares e nossa comunidade serão protetivos, do ponto de vista da saúde mental. “A fé e a espiritualidade são excelentes exemplos disso”, afirma Ricardo.
Não se trata de ignorar ou mascarar a realidade, isso seria superficial e passageiro, mas trazer sentido à própria vida e à vida daqueles que precisam. “Assim, vamos trabalhando neles as virtudes e lhes ensinando a se desvencilhar do pecado, principalmente, o do egoísmo e da falta de amor e compaixão ao próximo”, conclui Graziela.