É preciso avaliar a qualidade da comunicação em família, afirma psicóloga; pai de três filhos conta como dribla desafios
Denise Claro
Da redação
Sala com a TV ligada, família reunida, mas cada um no seu celular, tablet ou computador. A cena têm se tornado cada vez mais comum em muitos lares. Com a modernidade, o advento das novas tecnologias, o surgimento das redes sociais e a popularização de aplicativos e games, fica cada vez mais difícil competir com o fascínio que estes provocam em crianças, jovens e adultos.
Aos pais, cabe a difícil tarefa de, além de se monitorarem e não se permitirem também um exagero no uso dos dispositivos, lançar mão de apelos criativos para chamar a atenção de seus filhos, colocar limites e conseguir manter ou resgatar uma convivência plena em família.
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Na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações em 2015, o Papa Francisco se dirigiu aos pais, pedindo que deixassem de lado telefones e tablets e focassem na comunicação pessoal com os filhos, mas ressaltou: “Os meios mais modernos de hoje, irrenunciáveis sobretudo para os mais jovens, tanto podem dificultar como ajudar a comunicação em família e entre as famílias”.
O Papa explicou em sua mensagem que os meios poderiam dificultar a comunicação quando levassem a um isolamento dos membros, mas que a favoreceriam quando ajudassem os membros da família a permanecer em contato, agradecer e pedir perdão, tornando sempre o encontro possível.
Para a psicóloga Elaine Ribeiro, é preciso avaliar a qualidade da comunicação em família. “Tempo disponível, estado de humor, disponibilidade pessoal são recursos necessários e essenciais para uma boa comunicação. Qual foi a última vez que você conseguiu estar reunido em família, sem os celulares na mão, conversando tranquilamente, durante uma refeição, por exemplo, sem tv, sem computador, sem interferências externas? O que chamamos de TICs (Tecnologia de Informação e Comunicação) são rápidas, atrativas e fazem parte da sociedade, portanto não há como voltar atrás, porém é necessário um uso saudável, que não elimine os contatos sociais e entre a família”.
A especialista ressalta que o bom uso das redes sociais pelos familiares pode surtir efeito, mas os limites também devem ser colocados.
“É importante que os pais possam, inclusive, usar um whatsapp, por exemplo, para mandar um “filho, bom dia, te amo”, “filha, bom dia, logo mais vamos fazer um jantar especial, te espero..” ou algo assim. Mas, uma vez em casa, é importante que algum tipo de regra, de combinado, possa se dar. Não podemos negar que a família é um espaço importantíssimo para aprendizagens, interação, troca de afetos positivos e negativos, e, sendo assim, se há isolamento, se há reclusão num game dia e noite, por exemplo, algo está desequilibrado”.
Em família
Afeto. Para o empresário Paulo Vitor Dias este é o ponto. Casado e pai de três filhos, ele afirma que os pequenos sempre foram acostumados a ver o pai com muitos dispositivos, por causa do seu trabalho. “Entendi que era um caminho inevitável, o contato com a tecnologia. Então nossa postura diante da vida e desse fato foi apresentar desde muito cedo os celulares e tablets a eles, para que pudessem amadurecer com a tecnologia na mão”.
Paulo e a esposa Letícia acabaram incluindo na educação dos filhos temas como o fascínio das redes sociais, os desafios dos games, os perigos da exposição, e se havia a necessidade de impor limites, usavam a criatividade.
“Eu sempre oferecia algo melhor do que aquela experiência. Se meu filho estava no joguinho ou no computador, eu o chamava para uma feira de cachorro, ou para o shopping, ou para jogar bola. Eu nunca falei para ele ‘Sai do celular e vai estudar. Sai do celular e vai tomar banho. Sai do celular porque vamos na casa da sua tia.’, que eram coisas chatas. Eu sempre oferecia, pedagogicamente, uma opção melhor, de atividade. E eles se animavam, colocavam o celular no bolso e iam”.
Paulo diz que o segredo está em ser afetuoso, mesmo via redes sociais. “O problema é que as pessoas não conseguem ser afetivas nos aparelhos eletrônicos”, opina.
Solução
Paulo, como comunicador e pai, acredita que uma saída para conseguir trabalhar sempre com os filhos os desafios do uso das redes sociais talvez seja estar sempre atualizado. “Esteja sempre à frente deles. Sejam mais antenados do que eles. Entendam mais de tecnologia do que eles. Estudem sobre os aplicativos. Assim eles não vão te enrolar e você não vai ser o ‘tiozão desinformado da parada’”.
Para a psicóloga Elaine Ribeiro, as famílias que encontram dificuldades de relacionamento devem enfrentar essa realidade. “Os pais que encontram um bloqueio de comunicação por conta do mau uso da tecnologia podem pensar em formas de resgatar este contato em bons momentos de convivência, chamando amigos e seus filhos para casa, promovendo atividades prazerosas. Tudo isto são pensamentos que podem ser cultivados e mantidos, a partir deste novo olhar, que não é de punição e proibição, mas de moderação e bom uso da tecnologia, que sempre existiu e sempre existirá”.