Além da Missa, celebração teve ainda um espetáculo que contou a vida da santa baiana
Jéssica Marçal
Da Redação, com colaboração de Valdênia Vieira
Momentos de alegria e gratidão a Deus pela canonização de Santa Dulce dos Pobres. Fiéis se reuniram neste domingo, 20, na Arena Fonte Nova, em Salvador (BA) para agradecer e festejar a canonização de Irmã Dulce, primeira santa brasileira. Um espetáculo que contou a vida da santa baiana antecedeu o ápice da celebração: a Santa Missa em ação de graças presidida pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.
Irmã Dulce foi canonizada no domingo passado, 13, em cerimônia presidida pelo Papa Francisco no Vaticano. Hoje foi a primeira grande celebração, aqui no Brasil, em ação de graças pela Igreja no país ter agora sua primeira santa.
“Santa Dulce dos Pobres, hoje Salvador está em festa, a Bahia está em festa, o Brasil todo se alegra com o reconhecimento de sua santidade ocorrida no domingo passado na Praça São Pedro no Vaticano. Quem esteve lá fez uma experiência única, emocionante, daquelas que só a fé nos possibilita viver”, disse Dom Murilo logo no início da homilia.
A reflexão do arcebispo foi sempre se dirigindo à nova santa, mencionando seu modo de viver, sua santidade e, assim, os ensinamentos que ela deixou a todos. Ele ressaltou que todos estavam ali reunidos por causa, na verdade, da Santíssima Trindade, fonte de toda santidade, inclusive da santidade de Santa Dulce dos Pobres.
Dom Murilo recordou os motivos pelos quais irmã Dulce se tornou conhecida e amada ainda em vida: seu amor e trabalho em prol dos mais pobres. “Estamos aqui porque a senhora colaborou com a graça divina e se tornou uma discípula de Jesus Cristo”.
O título que também a fez conhecida – o “Anjo Bom da Bahia” – não passou despercebido na homilia de Dom Murilo. Ele disse que ela foi exatamente isso: um anjo que passou pelas ruas de Salvador, que ajudou muitos a descobrir o valor da palavra ‘dignidade’. E agora, é o Anjo Bom do Brasil.
E neste dia em que os fiéis se reúnem para agradecer, neste dia de festa, é dia também de aprender com o jeito de ser de santa Dulce, disse Dom Murilo: sua vida de oração, sua luta para que os mais pobres tivessem não somente o pão, mas também valores.
“A senhora fez a sua parte, cabe-nos agora imitá-la e fazermos a nossa parte. O mundo precisa de muitas ‘irmãs Dulce’. Se a Igreja a coloca agora em destaque é para que a luz de Cristo que se reflete na senhora seja vista por nós e nos ajude a fazer o que estiver ao nosso alcance para fazer um mundo melhor”.
“Obrigado por sua vida e testemunho, Santa Dulce dos Pobres, obrigado pela lição que nos deixou. Obrigado, muito obrigado, Anjo Bom do Brasil”, concluiu Dom Murilo.
Ao final da celebração, as luzes se apagaram e o estádio ficou iluminado apenas com as luzes dos celulares dos fiéis presentes. Com essa iluminação, foi feita a entrada da imagem de Santa Dulce dos Pobres.
Espetáculo “Império do Amor”
Um dos momentos de destaque na celebração foi a apresentação do espetáculo “Império do Amor”, que contou através de música, teatro e dança, a história de vida de irmã Dulce. A peça envolveu a participação de 650 atores, sendo 550 crianças e adolescentes do Centro Educacional Santo Antônio (CESA) – núcleo de educação da OSID, além de pessoas assistidas pela instituição.
No espetáculo, uma das apresentações musicais foi do padre Antônio Maria, que conviveu com irmã Dulce. Antes da apresentação, em entrevista à TV Canção Nova, ele recordou com alegria o fato de ter podido estar com ela tantas vezes.
“É um momento único, de muita emoção, de muita alegria, eu tenho que me controlar pra não chorar, se eu chorar é porque estou feliz, por todas as vezes que eu estive com irmã Dulce pessoalmente. Foram sempre momentos de muita graça, de muita benção”.
O sacerdote destacou também o compromisso trazido pela canonização da religiosa, uma vez que este acontecimento não fez dela um ídolo, mas um ideal para o mundo inteiro, especialmente para os brasileiros.
Após várias encenações e apresentações musicais, o espetáculo terminou com a música “Doce Luz”, na voz dos embaixadores das obras sociais fundadas pela religiosa, agora santa.
Procissões das relíquias e imagens
Outro momento tocante na celebração foi a procissão com as relíquias de Irmã Dulce. As relíquias foram carregadas pelo miraculado José Maurício Bragança Moreira. Após 14 anos sem enxergar, ele recuperou a visão após rezar para a freira baiana e foi este o segundo milagre considerado pelo Vaticano para a canonização.
Antes do início da Santa Missa, entraram ainda em procissão solene as imagens de Santo Antônio (santo de devoção de Irmã Dulce), de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira do estado da Bahia, e por fim a imagem do Senhor do Bonfim.
Testemunho dos miraculados
Entre os milhares de fiéis reunidos na celebração de hoje, estavam os miraculados de irmã Dulce, as duas pessoas que receberam os dois milagres considerados pelo Vaticano para, primeiramente, a beatificação e, depois, para a canonização.
“É uma emoção tão grande que não dá para expressar em palavras. Lá em Roma eu consegui achar uma palavra que chegou perto: ‘fora do comum’. A emoção que eu sinto aqui hoje é algo que eu nunca senti na minha vida. Estar na minha terra, na minha cidade, vendo os baianos honrando a santa que me fez voltar a enxergar depois de 14 anos. O sentimento é de gratidão. Serei grato à irmã Dulce até o final da minha vida”, disse José Maurício.
“Momento de gratidão, de felicidade e de amor ao próximo. Muita emoção de ver o que ela fez e o que ela fará. O que ela fez pela minha vida sei que ela vai fazer muito mais pela vida dos pobres, dos humildes, de qualquer pessoa”, contou Cláudia Araújo. Ela teve uma forte hemorragia após o parto e foi submetida a três cirurgias. O quadro era grave e, do ponto de vista médico, somente uma ajuda divina poderia salvar a vida de Cláudia. Por intercessão de irmã Dulce a hemorragia cessou. Esse foi o milagre pelo qual irmã Dulce chegou à beatificação em maio de 2011.