O rompimento da barragem do Córrego do Feijão já contabiliza um rastro de destruição com 84 mortes e 276 pessoas desaparecidas
Thiago Coutinho
Da redação
Os pouco mais de 39 mil habitantes da cidade de Brumadinho, no interior de Minas Gerais, foram surpreendidos por uma tragédia que ainda se desenrola. Na última sexta-feira, 25, uma barragem da mineradora Vale rompeu, deixando rastros de destruição por onde passou. Foram 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério despejados na cidade ― que atingiram primeiro a área administrativa da mineradora. Até o momento, o desastre contabiliza 84 mortes e 276 pessoas continuam desaparecidas.
Cientes do tamanho da catástrofe, os brasileiros começaram a se mover e prestar auxílio às famílias que sobreviveram, mas perderam tudo: documentos, casa, carro, etc. Da empresa Vale, as famílias sobreviventes receberão R$ 100 mil por pessoa desaparecida ou falecida; o cadastro para recebimento começa nesta quinta-feira, 31.
Apoio da Igreja
Desde então, o cenário é de dor: famílias à procura de seus entes queridos que estão desaparecidos; algumas delas já choram a dor da perda à medida em que são confirmadas novas vítimas fatais.
A Igreja tem manifestado o seu apoio e proximidade aos atingidos. O arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, esteve no local visitando famílias que sofrem com a perda, bem como aquelas que ainda aguardam notícias sobre desaparecidos. A pedido do arcebispo, os padres locais estão empenhados diariamente para apoiar famílias em luto ou em buscas de notícias.
O bispo referencial do Vicariato Episcopal para a Ação Missionário no Vale do Paraopeba (VEAM), Dom Vicente Ferreira, e o vigário episcopal do mesmo órgão, padre Renê Lopes, também manifestaram solidariedade, visitando a comunidade do Feijão, área mais atingida pela tragédia do rompimento da Barragem.
O corpo de bombeiros segue com as buscas. Veja a seguir, imagens da destruição causada e, logo a seguir, uma sequência dos acontecimentos relacionados à tragédia, desde sexta-feira até o momento:
Sexta-feira, 25
A barragem 1 da mina do Córrego do Feijão rompeu e um mar de lama e rejeitos de minérios de 12 mil metros cúbicos invade primeiro a área administrativa da própria mineradora Vale, soterrando trabalhadores e moradores que estavam em diferentes pontos, tais como o refeitório da mineradora e uma pousada.
A Arquidiocese de Belo Horizonte pediu urgência na resolução do caso e na ajuda às vítimas.“É urgência minimizar a dor dos atingidos por mais esse desastre ambiental, sem se esquecer de acompanhar, de perto, a atuação das autoridades, na apuração dos responsáveis por mais um triste e lamentável episódio, chaga aberta no coração de Minas Gerais”, afirmou o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Sábado, 26
O presidente Jair Bolsonaro sobrevoou o local e teve um encontro com o presidente da Vale, Fabio Schvartsman. Um gabinete de crise foi nomeado pelo presidente. A mineradora foi multada em R$ 5 bilhões pela Justiça de Minas Gerais.
A Vale informou que havia 300 trabalhadores no momento em que a barragem rompeu, a maior parte deles em horário de almoço. Até aquela manhã, 100 pessoas haviam sido resgatadas com vida. A lama acabou chegando a comunidades locais, próximas a Brumadinho. Famílias foram orientadas a deixar as casas localizadas em regiões mais baixas.
O presidente Jair Bolsonaro se encontrou com o governador de Minas Gerais, Romeu Zeuma, e os ministros do Meio Ambiente (Ricardo Salles), Desenvolvimento Regional (Gustavo Canuto) e Minas e Energia (Bento Albuquerque), além do secretário Nacional de Defesa Civil (Alexandre Lucas).
Domingo, 27
Numa coletiva de imprensa, o chefe da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente Flávio Godinho, informou que as buscas por sobreviventes e vítimas continuavam.
Ainda de acordo com o tenente, o risco iminente de novos rompimentos na barragem havia sido afastado. A Defesa Civil, porém, seguia alerta. Até então, 361 pessoas haviam sido encontradas, 287 continuavam desaparecidas e 192 haviam sido resgatadas.
Segunda-feira, 28
Israel envia 136 militares para ajudar nas buscas por vítimas e sobreviventes. As buscas foram feitas com ajuda de diversos aparatos de última geração, tais como câmaras de identificação de calor, drones, entre outros.
O vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, descartou uma intervenção na diretoria Vale. Uma decisão a respeito do caso, porém, só será decidida pelo presidente Jair Bolsonaro.
Terça-feira, 29
Uma reunião do conselho de governo discutiu medidas concretas a serem tomadas acerca do desastre, além de discutir políticas e medidas nacionais de controle das barragens.
Um porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais disse que as buscas por vítimas e sobreviventes continuavam.
Análises judiciais estimam que 11,8 bilhões de reais dos ativos da Vale serão congelados para garantir que haja dinheiro para o pagamento das indenizações às vítimas.
Cinco suspeitos de envolvimento com a tragédia foram presos: três funcionários da mineradora Vale e dois engenheiros terceirizados que atestaram a estabilidade do empreendimento.
A empresa Vale anunciou que vai acabar com dez barragens semelhantes à de Brumadinho, todas localizadas em Minas Gerais.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o governo federal não vai intervir na diretoria da Vale. Ele explicou que o tipo de ação que o governo tem da Vale não permite interferência na gestão.
Quarta-feira, 30
O trabalho de buscas entra no sexto dia. A Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar (PM) reforçou as equipes com agentes de cidades próximas e de vários estados do país.
Para as famílias atingidas, a Vale pagará R$ 100 mil por pessoa desaparecida ou falecida. A mineradora deve iniciar o cadastro nesta quinta-feira, 31.
Até o momento, foram confirmadas 84 mortes e 276 desaparecidos.