Bispo auxiliar de Belo Horizonte presidiu a celebração em memória das 272 pessoas que morreram na tragédia em Brumadinho
Jéssica Marçal
Da Redação
Dor, saudade, comoção, mas também a fé. Neste sábado, 25, dia em que se completa um ano do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG), uma Missa recordou em oração as vítimas da tragédia. A celebração foi presidida pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte, Dom Vicente Ferreira.
Logo no início da celebração, Dom Vicente recordou que as vítimas não são números, mas sim 272 pessoas que perderam a vida nessa tragédia. Ele também agradeceu às comunidades da arquidiocese que participaram da celebração de hoje, mostrando solidariedade à dor das famílias enlutadas. Também um gesto simbólico no início da Missa: a entrada da Palavra de Deus – uma bíblia que foi retirada da lama da tragédia.
Na homilia, Dom Vicente comentou a primeira leitura (At 9, 1-22), passagem que relata a conversão de São Paulo. O bispo observou como Deus age na vida de uma pessoa que matava e perseguia em nome de Deus. Quando Paulo se encontra com Deus e percebe essa luz que de tão forte o cega, ele muda a sua visão. “Conversão é isso, mudança de visão”.
No Evangelho, a garantia de que aquele que se converte e mergulha sua vida em Cristo é capaz de fazer muitas coisas importantes, observou Dom Vicente. “Diante desse primeiro aniversário da tragédia em Brumadinho, nada mais justo do que pensarmos nessa palavra conversão”, disse.
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A partir desse tema da conversão, o bispo falou sobre a conversão ecológica, assunto sobre o qual o Papa Francisco tem insistido e sobre o qual discorre na encíclica Laudato sí. O documento, apontou Dom Vicente, leva a repensar a relação dos seres humanos com o meio ambiente.
Dom Vicente quis trazer para essa reflexão sobre a conversão ecológica outro ponto sobre o qual o Papa também insiste: ecologia, ética e humanidade estão juntos, não tem jeito de separar
“Hoje cresce demais entre nós a agressão à vida que prejudica tantas pessoas, aumenta a fileira daqueles que são vítimas desse sistema de ganância que só visa ao lucro. Erga mais uma vez a foto desses nossos irmãos, não podemos perder essas imagens. Se vocês acham que tem pouca gente na nossa celebração, então vamos lembrar que eles estão conosco: são mais 272 irmãos que estão aqui conosco. A conversão é tão urgente e necessária pra gente dar um basta a tudo o que sacrifica a vida”.
O bispo lembrou que a morte faz parte do mistério da vida, todos a viverão um dia. A morte natural já é dolorosa, mas é mais dolorosa uma morte prematura, imposta, com violência, considerou o bispo. “Um trauma sem fim, como a gente fala aqui ‘25 é todo dia’. Vocês não podem imaginar o que essas famílias passam todos os dias”. “Nós cristãos temos que abraçar a memória e o sangue desses irmãos para vivermos com urgência a nossa conversão ecológica”.
Desde cedo, na caminhada ecológica, o bispo disse que havia ali pessoas das cidades de Bento Rodrigues, Mariana, todas elas apreensivas, se perguntando quando será a próxima tragédia. Por isso a Palavra de Deus pede para voltar à vocação originária: cuidar de tudo o que Deus deu e não destruir, lembrou Dom Vicente.
Palavra de Dom Walmor
Também presente na celebração, o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, deixou uma mensagem ao final da Missa. Ele destacou o desafio de viver a ecologia integral começando com atitudes novas.
“A tragédia-crime de Brumadinho, hoje um ano, nos desafia sempre e profundamente. O desafio de aprendizagens, um desafio de mudanças profundas na nossa sociedade, um desafio exigido de quem exerce o serviço de poder, exigindo de todos esses uma nova compreensão, exigindo coragem grande de ações que possam transformar”.
O arcebispo pediu um minuto de silêncio por tantas pessoas que morreram e pelas famílias que vivem uma dor que é um luto que não passa, embora vivido na fé e confiança em Deus.
Antes do término da Missa, os presentes puderam assistir à mensagem enviada pelo Papa Francisco por ocasião do um ano da tragédia em Brumadinho.