Dom José Antônio medita sobre o amor como dom de si, em Santa Missa, na 54ª Assembleia Geral da CNBB
Míriam Bernardes
Da Redação
Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, arcebispo de Fortaleza (CE), presidiu a Santa Missa desta terça-feira, 12, na 54ª Assembleia Geral da CNBB 2016, que acontece em Aparecida (SP), de 6 a 15 de abril.
“Meu pai é que vos dá o verdadeiro pão do céu, pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”. Com esse trecho do capítulo 6 do Evangelho de São João, Dom José Antônio iniciou a reflexão da liturgia do dia dizendo que, com essas palavras, Jesus se apresenta, dizendo de si mesmo, quem Ele era e qual Sua missão. Ele disse isso desafiado por aqueles que pediam d’Ele sinais e obras concretas, que mostrassem que Ele realmente era quem dizia ser.
“Ele é o verdadeiro Deus, feito verdadeiro Homem, que, por meio do dom de Si até a morte, agora é o vivente para sempre. Ele é o cordeiro imolado, de pé diante do Pai como apresenta o vidente do Apocalipse. São retomados, também, os Seus discursos conforme o Evangelho de São João, onde Ele se apresenta como “Eu sou”, Aquele que é.”
Jesus se mostra como Aquele que veio para dar uma vida maior. O povo de Deus, no deserto, foi liberto para a terra prometida. Aqueles que comeram o pão dado por Moisés morreram. Aqueles que comerem o pão do céu dado pelo Pai não morrerão. A oferta da terra prometida é superada em sua visão terrena por um destino muito além. A oferta da lei em pedra é suplantada pela lei no coração.
A Ressurreição de Jesus será a realização desse novo destino para o homem, para o povo de Deus agraciado pelo Pai em Jesus. Ao se referir como pão do Céu, que é dado pelo Pai para a vida do mundo, Jesus está se referindo à Sua oferta total de amor a ser consumada na cruz.
Esse mesmo dom, Ele sinalizará e dará sacramentalmente na Eucaristia: “Isso é o meu corpo, que será entregue por vós. Este é o cálice do meu sangue, que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados”.
Sacrifício de amor e missão
“O verdadeiro pão do céu é o Senhor que se dá em amor ao extremo, dom total e incondicional, e esse amor é que dá vida ao mundo, vida plena e verdadeira. Ao referir-se a Seu corpo como verdadeira comida, como Pão, e ao Seu sangue como verdadeira bebida, Jesus está relacionando Sua oferta ao sacrifício que ela comporta, Ele se apresenta como refeição sacrifical, chama a uma comunhão de vida que levará ao mesmo dom total do amor.”
Também são Suas palavras: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”. O dar a vida caracteriza o Seu amor como mandamento aos discípulos, como mandamento novo, como mandamento Seu: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
Dom José disse ainda que o sacrifício de entrega por amor de Jesus foi perpetuado como memorial, nova e eterna aliança, será a presença sacramental, dom de graça, escola do verdadeiro amor, da misericórdia, do perdão e da comunhão. E que o amor que dá a verdadeira vida está no dom de si até o extremo, sem limites, em sacrifício e oblação de si.
“Não será na busca da prosperidade terrena a qualquer custo que o Reino de Deus acontece e se exprime, mas no modo novo de viver o dom de si, do pagar com o preço da própria vida. Vitória sobre a indiferença, sobre o egoísmo, vitória da vida para todos, do bem comum da mais real solidariedade com a humanidade. Essa será a nova lei, aquela escrita nos corações, que tornará a realidade um mundo novo, as coisas todas feitas novas conforme o projeto misericordioso de Deus.”
“Assim Jesus mostra o caminho da verdadeira realização humana que passa pela transformação do coração, das intenções, com todas as suas consequências nos gestos da vida. Nasce assim uma nova sociedade do amor, da comunhão de todos no dom, na busca do bem para todos. Todos que comem do mesmo pão e bebem do mesmo vinho, corpo e sangue do Senhor, são seu amor ao extremo, entram na realização plena da humanidade em Deus.”
Sobre a primeira leitura, ressalta que Estevão chamou a todos para a vida que está em Jesus e expressa em si mesmo a imagem do Senhor em Seu amor até o extremo. Na fidelidade incondicional à vontade de Deus, chamou à atenção o povo, as autoridades e os doutores da lei para a dureza dos seus corações e mentes diante da manifestação condescendente de Deus, que a todos chama para a vida verdadeira, mostrando resultado contraditório de suas próprias ações e que, rejeitado e executado, intercede pelo perdão dos seus assassinos. A misericórdia do Senhor contagiou o discípulo, ele poderá contagiar outros como o próprio Jesus o fez dando a vida pelo mundo.
É essa a missão que nos reúne, da vida doada na oblação de si por amor: “Se o grão de trigo caído por terra não morrer, ficará só, mas, se morrer produzirá muitos frutos”. Assim foi sempre na vida da Igreja. O sangue dos mártires é semente de novos cristãos. Hoje, também, irmãos e irmãs nossos, no seguimento de Jesus, dão a vida por amor e suportam o sacrifício de tantas formas, também até a morte. Esse sangue derramado é fecundo, dele se constrói o reino do amor, do amor que é mais forte do que a morte.
“As relações humanas nascem e renascem novas de outra fonte que não o egoísmo. Nascem do dom por todos. Sem essa transformação, tudo está destinado à morte, à destruição, ao passageiro, ao sem futuro, nada poderá permanecer. Mas a esperança de um mundo novo sempre se faz presente na vida doada, está plantada na ressurreição.”
Finalizando a homilia, o arcebispo disse que somos chamados a ser sal, fermento, luz para o mundo, testemunhando a caridade do Senhor de mil formas, a caridade do Senhor em gestos concretos, no amor dado ao extremo e que se volta às necessidades dos irmãos.
“Rezamos para que sejamos misericordiosos como o Pai, para que a misericórdia possa contagiar o mundo que dela tanto necessita.”
Antes da bênção final, juntamente com o presidente da celebração, a assembleia rezou a consagração a Nossa Senhora Aparecida diante da imagem e cantaram “Dai-nos a bênção”.