Assembleia Geral

Ecumenismo: Diálogo ou o fim da humanidade, diz Dom Biasin

Bispo comentou a viagem do Papa à Bulgária e Macedônia do Norte e fez balanço de atividades da comissão que preside na CNBB

Julia Beck
Da redação

Dom Francisco Biasin/ Foto: Julia Beck – Canção Nova

Após oito anos à frente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Francisco Biasin, bispo emérito de Barra do Piraí – Volta Redonda (RJ), fala sobre os importantes trabalhos da comissão, a divisão existente entre os cristãos e comentou a Viagem Apostólica e Ecumênica do Papa Francisco à Bulgária e Macedônia do Norte.

“Ao concluir os trabalhos na CNBB, todo bispo de cada comissão disse uma palavra, eu também disse, mas fui o único que disse: ‘Obrigado Francisco!’. Ele nos precede, ele está a frente no trabalho ecumênico, ele por assim dizer, cria novas realidades. Na Bulgária falou sobre ecumenismo de sangue, ecumenismo do pobre, ecumenismo na missão. Três ecumenismos novos que ele colhe da vida da Igreja, da concretude da vida”, comentou o bispo emérito.

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Dom Biasin explica os novos ecumenismos: “O ecumenismo de sangue é o do martírio. Nós já somos unidos porque os nossos inimigos – que não são nossos inimigos de nossa parte, mas que nos veem como inimigos -, não perguntam se somos luteranos ou católicos, cortam a cabeça de quem crê em Cristo, então eles nos veem unidos. O Papa disse certa vez à renovação carismática católica em Roma: ‘Se os nossos inimigos nos veem unidos e unem o nosso sangue, quem somos nós para continuarmos divididos? Muito bonito isso!”

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O ecumenismo do pobre é, segundo o bispo emérito, mais um pedido do Papa aos católicos. “Ele [Papa] diz: ‘Nós temos que ver juntos no pobre a presença de Jesus e tocar na carne dele como se toca na carne de Cristo’”. O ecumenismo de missão é visto pelo Pontífice, como revela Dom Biasin, como a capacidade de anúncio e sobretudo de transmissão dos valores da fé às novas gerações. “Ele [Papa] toca nos jovens, ele diz: ‘Nós somos chamados a permanecer unidos, porque as novas gerações têm o direito de receber de cada um de nós o evangelho não divido, mas o evangelho puro’”, completou.

“É uma alegria poder servir a Igreja”, conta o bispo emérito que afirma ver no Papa uma grande inspiração para os trabalhos realizados pela comissão que preside. Dom Biasin frisou que a comissão existe para estimular na Igreja no Brasil o espírito de diálogo, o espírito ecumênico. “Tem trabalhos e eventos que se realizam pelo fato de que a Comissão existe”, pontua o bispo.

Balanço

Em um balanço sobre os principais trabalhos da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB, Dom Biasin destacou os Simpósios Ecumênicos anuais, os diálogos bilaterais, a formação de novos agentes ecumênicos e destacou o ano de 2017 como o Ano Ecumênico. Sobre os simpósios, o bispo explicou: “São realizados normalmente em São Paulo e, este ano, teve como tema “O espírito e a Igreja” no sentido de incentivar o diálogo com as realidades pentecostais e neopentecostais”.

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Sobre os diálogos bilaterais, o bispo emérito ressaltou, sobretudo, os diálogos estabelecidos com as Igrejas Luterana e Anglicano, e contou ser um dos avanços da comissão o início de diálogos com outras igrejas e religiões como o islamismo, o mundo judaico, às religiões de matrizes africanas e com as religiões nativas do Brasil, as originárias indígenas. “Esses diálogos são sempre muito fecundos porque nos ajudam a conhecer o outro, compreender certas posturas do outro, e nos dá a conhecer”, sublinhou. Para Dom Biasin é possível que a Igreja Católica realize alguns trabalhos conjuntos com outras religiões naquilo que se refere ao cuidado com a natureza, a paz e o cuidado com a família.

Todos os anos, o bispo declarou que a comissão realiza trabalhos específicos, mas denominou 2017 como o que considerou o Ano Ecumênico. “Foi a comemoração conjunta dos 500 anos da Reforma Luterana. Foi um ano extraordinário em que a nossa comissão foi solicitada para estar presente em vários lugares do Brasil, sobretudo nas celebrações oficiais com a Igreja Evangélica de confissão luterana no Brasil. Em Porto Alegre, em uma Catedral Católica, realizamos uma noite esplêndida e de emoção porque nos sentimos plenamente irmãos, não se sabia quem era católico e quem era luterano”, partilhou o bispo.

A presença da comissão na formação de agentes para o ecumenismo também foi definida por Dom Biasin como muito interessante. “Estivemos presentes em dioceses, seminários, para formarmos pessoas, sobretudo futuros padres, que tenham essa sensibilidade, como pastores e colaboradores diretos, para que consigam iniciar um diálogo bonito com outras confissões cristãs e para que haja respeito e, em certos casos, trabalhos em conjunto”, comentou.

“Há um grande respiro ecumênico. Agora, quando me perguntam: ‘Quais avanços tem?’ É difícil dizer, porque o ecumenismo voa nas asas do espírito, ou seja, não sabemos para onde vai e não sabemos os resultados, porque é um trabalho mais realizado pelo espírito de Deus do que por nós. A unidade, não somos nós que fazemos, mas o Espírito de Deus. Jesus não impôs a unidade, mas pediu ao Pai que todos sejam um”, esclareceu o bispo emérito.

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Para Dom Biasin, trabalhos como os da Comissão da CNBB para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso, são muito bonitos porque tornam possível encontrar surpresas de Deus em outras Igrejas e também no catolicismo. “Nos ajudam a crescer nesta atitude ecumênica que deve, cada vez mais, se alastrar, porque ou nós vamos pelo diálogo, pelo abraço, pelo acolhimento, ou será guerra, ódio, o fim da humanidade. O ecumenismo tem algo que é também profecia, diz aquilo que ainda não é, mas que deve ser”, explicou.

Campanha da Fraternidade 2021

A Campanha da Fraternidade 2021 será Ecumênica, revelou Dom Biasin. De acordo com o bispo emérito, os bispos reunidos na 57a Assembleia Geral da CNBB receberam um estímulo do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) que apresentou um pedido para que em 2021 pudesse ser realizada uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, que será a quinta com esta vertente.

O relacionamento com as outras igrejas é um relacionamento que deve a cada dia ser aprimorado, segundo o bispo emérito. Diálogo, comunhão e respeito são princípios destacados por Dom Biasin como essenciais ao ecumenismo. O bispo conta que realizou intervenções e colocações durante a Assembleia Geral para que a Igreja continue sendo conduzida nesta direção ecumênica, de melhora do relacionamento com outras religiões e de mais diálogos.

“Que a Campanha da Fraternidade não se encerre no ano em que será realizada de forma ecumênica, mas que possa ser o resultado e, ao mesmo tempo, o marco para vivermos em comunhão. Como lembra o Papa Francisco, é um escândalo a divisão dos cristãos, é um escândalo para o mundo, é um pecado para nós, portanto todas as vezes que se dá um passo a mais em vista da realização da unidade do corpo de Cristo é uma alegria, de maneira especial, no coração de Deus Pai”, suscitou Dom Biasin, que concluiu: “É uma realização diante do mundo, de que nós acreditamos no mesmo Senhor e trabalhamos juntos pelo mesmo reino”.

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