Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre, afirma que tragédia climática no Rio Grande Sul deve gerar grande impacto também na saúde dos atingidos
Da Redação, com Vatican News
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Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre e Presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler / Foto: Reprodução CNBB
Já são mais de 15 dias de luta e resistência dos gaúchos desde o início das fortes chuvas que aumentaram o volume das águas dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Gravataí e Sinos, e elevaram o nível do Lago Guaíba, em Porto Alegre (RS). A água já está chegando na Lagoa dos Patos, no sul do estado do Rio Grande do Sul, colocando as cidades ribeirinhas em risco. Segundo especialistas, este evento climático extremo é resultado principalmente do aquecimento global.
Cidades arrasadas, resgates difíceis, famílias alojadas em abrigos improvisados. As enchentes no RS já afetaram 446 dos 497 municípios, causando 149 mortes. De acordo com o boletim da Defesa Civil Estadual, divulgado na manhã desta quarta-feira, 15, há pelo menos 108 desaparecidos e 806 feridos; os desalojados já somam quase 540 mil e cerca de 76 mil pessoas estão sendo acolhidas em abrigos.
O arcebispo Metropolitano de Porto Alegre e Presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler, comentou ao Vatican News nesta terça, 14, sobre esse inconstante nível das águas, que gera muita preocupação aos gaúchos.
“O Guaíba continua subindo e aí você pode imaginar o que isso está significando já há uma semana: regiões inteiras debaixo da água, sobretudo aqui na região metropolitana”. O Presidente da CNBB lamenta a situação em que se encontra a maioria dos municípios gaúchos: “os estragos são inúmeros, as cidades aqui que foram arrasadas, destruídas, as imagens são muito fortes.
Solidariedade: um gesto de amor
Durante sua fala, o arcebispo também ressaltou a generosidade de tantas pessoas que se mobilizaram para enviar doações ao estado gaúcho.
“Não tem faltado doações, muita coisa está chegando. A solidariedade tem se manifestado de uma forma muito forte e muito bonita”, recorda Dom Jaime. A Arquidiocese de Porto Alegre divulgou uma lista com os locais que estão oferecendo ajuda aos atingidos pelas enchentes.
Os problemas com o frio, água potável e saúde mental
A situação fica ainda mais difícil com as baixas temperaturas desta época de outono. Dom Jaime disse que, em algumas regiões, os termômetros chegaram a marcar 3°C na terça-feira, 14, preocupando o acolhimento a milhares de pessoas nos abrigos que ainda têm roupas molhadas que não conseguiram secar: “Até ontem, praticamente não havia possibilidade de secar a roupa usada por essas pessoas”, comenta Dom Jaime.
Mesmo com as diversas doações, a situação em que o estado se encontra deixa todos em alerta: “Há preocupação com a água potável. E agora sim também há uma preocupação muito forte primeiro com a questão do frio que pode trazer uma série de consequências para a saúde de muitas pessoas, mas também a tuberculose e a leptospirose”.
As doenças citadas pelo arcebispo são as mais frequentes após o contato com a água das enchentes e o contato próximo em locais de aglomeração, como alojamento e abrigos. Mas Dom Jaime ainda alerta para os cuidados relacionados à saúde mental, já que tem presenciado manifestações de alteração emocional:
“Ontem, aqui numa paróquia nossa, tivemos o caso de um pai de família que surtou e queria matar a família inteira. Foi chamada a polícia, foi chamado o padre e, enfim, se resolveu a situação. Mas é um pouco o desespero, por assim dizer, que se manifesta em alguns também. Já tivemos nos abrigos também pessoas que de repente começam a perder o controle pessoal.”