Ações concretas de solidariedade inspiram práticas de amor, afirma sacerdote que é vigário para o Mundo da Caridade
Julia Beck
Da redação
Dezembro, tradicionalmente caracterizado como o mês das férias, do tempo do Advento e de preparação para o Natal, é também um período marcado pela caridade. Dispostos a viver a generosidade na prática, muitas pessoas têm o altruísmo despertado neste período.
Segundo o Vigário Episcopal do Mundo para a Caridade de Juiz de Fora (MG), padre José de Anchieta, o nascimento de Jesus, a simplicidade como Ele nasceu e o ambiente em que nasceu são inspirações para muitas ações solidárias realizadas este mês.
Há 6 anos auxiliando atividades voltadas para a caridade, o sacerdote afirmou não ver fronteiras nem limites quando o assunto é solidariedade, e adjetivou como belíssimos os trabalhos sociais que muitos leigos e leigas da Igreja, e de outras religiões e credos, exercem em sociedade. “Precisamos da ajuda uns dos outros para construirmos um mundo melhor”, evocou.
Segundo padre Anchieta, a Igreja Católica tem realizado seu papel de inspirar, com o mandamento de Jesus – “Amai-vos uns aos outros” –, a máxima do amor. “Quem não procura amar de fato, não procura viver o Evangelho, não procura ser Igreja, não procura realmente ser irmão”, afirmou o vigário. Ele acredita que o comportamento do Papa Francisco — de atenção ao próximo, ao pequeno e ao fraco – inspira a prática do amor. “Ele fala, dá exemplo, mas põe em prática também”, lembrou.
Várias ações, uma só motivação
Vanessa Dias Tavares, comerciante de 36 anos e moradora de Resende, interior do Rio de Janeiro, afirmou sentir desde cedo a vontade de fazer algo pelas pessoas e pelo mundo. “Sempre senti como se eu tivesse uma missão”, comentou.
Entre 2012 e 2013, ela lançou e deu continuidade a cinco projetos sociais — “Natal de alimentos”, “O Natal da Fiona”, “Aqueça um coração”, “Doutores da risada” e “Cidadão resendense do bem” —. Para a comerciante, que em novembro deste ano de 2017 já realizou seu projeto “Natal de alimentos”, a maior recompensa da caridade não é o agradecimento, mas o olhar de alívio das famílias que recebem as doações.
“Quando eu chego com as coisas, o olhar é de alívio (…): ‘Ufa, hoje eu vou comer, hoje eu vou ter o que vestir, hoje tem brinquedo para os meus filhos’. E isso é de algo que eu não estou pedindo para as pessoas comprarem, as vezes é de coisas que elas não estão usando (…) e que conseguiram ajudar outras pessoas”, contou a resendense.
José Carlos, aposentado de 79 anos, assim como Vanessa dedica-se em dezembro na arrecadação de alimentos. O lorenense reúne os alimentos em cestas básicas e distribui a cerca de 600 famílias, uma ação solidária que já dura aproximadamente 30 anos. Amigos, familiares e conhecidos são motivados anualmente por José a, além de ajudar, auxiliar na entrega das doações em uma confraternização com direito a picolé e algodão-doce para todos que forem retirar suas cestas. “Isso me faz muito bem!”, comentou o aposentado.
Além de José Carlos, outra moradora de Lorena — cidade do interior de São Paulo —, também é responsável por motivar um grupo para ações concretas de caridade. Apesar da pouca idade, a jovem de 18 anos, Amanda Romão Medina, tem o apoio de um grupo de seis pessoas na organização de um almoço de Natal para moradores de rua e pessoas necessitadas.
A ideia do almoço, que será servido no domingo, 24, surgiu durante um café oferecido há um ano, pelo mesmo grupo, aos domingos na Praça do Conde, localizada no município. Para ter um controle do número de pessoas que serão servidas no almoço, foram confeccionados convites que foram entregues neste domingo, 17, para pessoas que já estão habituadas a frequentar o café dominical.
Sobre as expectativas do primeiro almoço de Natal, Amanda é enfática: “Tenho a expectativa de levar o mínimo de dignidade para essas pessoas, porque sentir fome em uma situação de rua já é algo ruim, ainda mais em uma data especial onde eles veem todo mundo junto com as suas famílias, com fartura, com ceias, enquanto eles são marginalizados na rua, sem ter ninguém que olhe por eles. O mínimo de dignidade humana e de conforto para essas pessoas, é a expectativa que eu tenho”, contou.
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Mas não são só as famílias carentes e os moradores do município de Lorena que serão contemplados com ações solidárias, as crianças das comunidades carentes da cidade também terão motivos a mais para sorrir neste Natal. Silvério Gomes, empresário de 60 anos, pelo sétimo ano consecutivo encheu a sala de sua casa com mais de 110 brinquedos e programou a entrega para crianças que moram em bairros carentes de sua cidade.
“Sempre acredito que a fé é muito importante, ir à missa, à igreja, ao culto, independente da religião, mas ela [a fé] sem a obra, acho que é meio falha. O ideal é tentar ter os dois juntos. É difícil, porque muitos não têm condições, não podem, eu também não tenho condições, mas faço aquilo que posso”, concluiu Gomes.